
O futuro da democracia depende do nosso compromisso com ela
A fragilidade da democracia se evidencia quando olhamos para a história e para os desafios contemporâneos
A descoberta de documentos em sacos de lixo no antigo prédio do DOPS, no centro do Rio de Janeiro — o que possibilitou a localização dos corpos de 15 desaparecidos, enterrados como indigentes no cemitério de Ricardo de Albuquerque —, a mobilização gerada pelo filme Ainda Estou Aqui, ganhador do Oscar de Melhor Filme Internacional, e a resistência de grupos como o Tortura Nunca Mais, militantes e pesquisadores que incansavelmente tentam tirar o véu desse período tenebroso da nossa história recente e nos impelir a lutar veementemente contra grupos que traduzem tudo o que esse período significou, além da decisão da Justiça em tornar o ex-presidente réu por crimes contra a democracia, não são, de maneira alguma, triviais.
A democracia é um dos pilares fundamentais para a construção de uma sociedade justa e igualitária. No entanto, sua fragilidade se evidencia quando olhamos para a história e para os desafios contemporâneos. No Brasil, o aniversário do golpe militar de 1964 e os ataques recentes às instituições democráticas nos lembram que a luta pela liberdade e pelos direitos fundamentais não pode ser negligenciada.
O passado nos serve como alerta. No dia 31 de março de 1964, o Brasil mergulhou em uma ditadura militar que durou 21 anos. Sob o pretexto de combater o comunismo e restaurar a ordem, o regime perseguiu opositores, censurou a imprensa e violou direitos humanos. A repressão atingiu especialmente os mais vulneráveis: trabalhadores, estudantes, lideranças comunitárias e defensores da democracia.
O golpe de 1964 não foi apenas um evento isolado, mas parte de um contexto maior de autoritarismo na América Latina, muitas vezes patrocinado por interesses externos. Sua herança ainda ressoa na política brasileira, reforçando desigualdades e consolidando estruturas de poder que resistem às tentativas de democratização plena.
Os atos de 8 de janeiro de 2023 não foram isolados: eles fazem parte de uma onda global de contestação à democracia, impulsionada pela desinformação, pelo discurso de ódio e pelo enfraquecimento das instituições. Em países como os Estados Unidos, vimos ataques semelhantes com a invasão do Capitólio em 2021, demonstrando que a crise democrática não é um problema exclusivamente brasileiro, mas um fenômeno internacional que exige vigilância e resistência.
As condições de vida dos mais vulneráveis precisam estar no centro desse debate, porque a democracia só se fortalece quando garante dignidade para todos. No entanto, milhões de brasileiros ainda vivem em condições precárias, enfrentando pobreza, fome e falta de acesso a serviços básicos. Embora tenham ocorrido mudanças significativas — e que ainda estão em curso — na atual gestão do presidente Lula, a resistência das elites predatórias sustenta o pensamento e as ações que mantêm o ambiente de desigualdade social. Essa desigualdade é herança de políticas excludentes e de um modelo econômico concentrador, que mina a própria essência da democracia.
O desmonte de políticas públicas voltadas para a população mais pobre, os ataques a direitos trabalhistas e os cortes em investimentos sociais são formas sutis, mas poderosas, de enfraquecer o regime democrático. Sem justiça social, a democracia se torna um privilégio de poucos, em vez de um direito de todos.
Defender a democracia é defender o futuro!
Combater a desinformação, fortalecer a educação política, garantir a transparência das eleições e assegurar que as instituições ajam com independência e imparcialidade — assim como o fortalecimento dos movimentos sociais, da participação ativa da sociedade e do compromisso inabalável com os direitos humanos — são condições essenciais para a defesa incondicional da democracia e das instituições democráticas.
Se a história nos ensinou algo, é que a democracia nunca é garantida: ela precisa ser constantemente defendida. O golpe de 1964 e os ataques recentes às instituições são lembretes de que o autoritarismo pode ressurgir a qualquer momento, se não estivermos atentos.