Neste dia 16 de outubro, o mundo se reúne para celebrar o Dia Mundial da Alimentação e refletir sobre a importância de unir esforços globais na luta contra a fome e na construção de sistemas alimentares mais justos, sustentáveis e inclusivos. Esta é uma data ainda mais especial para nós, do Instituto Fome Zero, pois é quando celebramos nosso quarto aniversário.

Para nós, este é um marco significativo na luta contra a fome no Brasil, mas ainda não podemos comemorar plenamente. Todos os dias, 8,7 milhões de pessoas continuam sendo vítimas da insegurança alimentar severa. Mesmo que esse número tenha diminuído nos últimos três anos, ainda há muito a ser feito.

Durante esses quatro anos de existência, enfrentamos desafios imensos, agravados por crises econômicas, desastres naturais, negacionismo, escolhas políticas equivocadas e, mais recentemente, pelos impactos da pandemia. Aliás, foram os efeitos da pandemia que uniram um grupo de pessoas inquietas para fundar o Instituto Fome Zero, todas com o enorme desejo de tirar o Brasil novamente do mapa da fome da ONU.

“O Fome Zero foi criado para manter viva a chama da luta contra a fome. No início da pandemia, quando nos demos conta de que o Brasil não apenas havia voltado ao mapa da fome, mas que a fome e a má nutrição estavam aumentando de maneira assustadora, nosso objetivo passou a ser manter essa chama acesa e mostrar que acabar com a fome é a meta fundamental para atingir os Objetivos do Milênio. Sem acabar com a fome e a miséria, não conseguiremos alcançar nenhum dos demais objetivos do milênio”, afirma José Graziano da Silva, um dos idealizadores do Programa Fome Zero.

Na avaliação de Ana Cláudia Santos, uma de nossas fundadoras, o Instituto nasceu numa conjuntura complicada no país e no mundo, com uma pandemia em curso e um governo que não estava dando a devida atenção àquela situação, somada aos sinais de que a fome estava retornando, de modo severo.

“Reunir pessoas que sempre mantiveram o foco na questão do combate à fome para trabalharem juntas, resgatando a memória dos programas e das ações já realizadas e, ao mesmo tempo, formulando projetos e novas soluções técnicas para a situação foi uma aposta muito importante”, acredita Ana Cláudia.

Uma aposta alta e certeira. A fome exige não só uma resposta emergencial, mas também políticas públicas eficazes e de longo prazo, além de uma conscientização social sobre a gravidade do problema.

“Como dizia Betinho, ainda nos anos 1990, quem tem fome, tem pressa. É sempre importante que continuemos trilhando esse caminho para desenvolver políticas que garantam a segurança alimentar e o acesso a uma alimentação saudável”, explica o agrônomo e fundador José Giacomo Baccarin.

O Instituto Fome Zero tem procurado ser uma voz ativa em campanhas de conscientização e mobilização para que a sociedade, unida, possa enfrentar essa dura realidade. Agradecemos o apoio dos associados, diretores, profissionais da imprensa e de toda a sociedade. Vocês foram e continuam sendo fundamentais. Sem o esforço conjunto, o impacto do Instituto teria sido muito mais limitado.

“A constituição e o trabalho desenvolvidos pelo Instituto Fome Zero ocupam um espaço fundamental na sociedade brasileira, que é o de dar voz à luta contra a fome. Nosso legado é fazer com que, hoje, nenhum governo seja capaz de silenciar essa luta, pois não nos calaremos e continuaremos propondo soluções para este flagelo, que é político, não apenas econômico ou social”, avalia Emiliano Graziano da Silva, um de nossos fundadores.

E não faltou trabalho. Fizemos mais de 35 lives na internet, sempre reunindo especialistas para debater propostas e alternativas de combate à fome. Participamos de centenas de reportagens, publicamos artigos em jornais e revistas e realizamos estudos sobre o tamanho da fome e seus impactos.

Nosso mais recente trabalho é a cartilha “Como acabar com a fome em seu município”, gratuita e disponível em nosso site (baixe aqui). Esse é um projeto realizado a muitas mãos, fruto do trabalho de nossos diretores e associados. Acreditamos que as eleições municipais são um momento importante para o futuro do Brasil, uma oportunidade ímpar de transformar a realidade de milhares de brasileiros que ainda enfrentam a fome e a insegurança alimentar e nutricional.

Infelizmente, não observamos o tema ser debatido com a devida importância por vereadores e candidatos à prefeitura, nem no primeiro turno, muito menos agora. “Para os próximos anos, com a volta das políticas federais de combate à fome, esperamos que os municípios comecem a implantar também programas municipais. Afinal, moramos e nos alimentamos nos municípios. É fundamental que cada cidade tenha uma porta de entrada, um lugar onde aquele que tem fome possa ser atendido. Os municípios podem e devem implementar políticas próprias para combater a fome. Nossa esperança é sair do mapa da fome até 2026”, acredita José Graziano da Silva.

Temos ainda muito caminho pela frente. Além dos números alarmantes no Brasil, precisamos olhar para o mundo, onde mais de 730 milhões de pessoas passam fome. Isso sem contar um número ainda maior de obesos — mais de um bilhão de pessoas —, refletindo outra face da fome: a de uma alimentação inadequada.

Embora sejam os objetivos número um e dois da Agenda 2030, o combate à pobreza e à fome têm recebido pouca prioridade nas ações de cooperação internacional. Menos de 20% dos recursos de cooperação são destinados a essas questões, exceto os voltados para situações de emergência em conflitos, como os que ocorrem atualmente em Gaza e no Sudão.

Dentre as muitas dificuldades para a implementação de políticas internacionais está a ausência de um programa de ação ou de uma estrutura coordenada. E essa é a base da proposta da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza: um mecanismo coordenador e uma cesta de políticas já testadas e que são eficazes, de acordo com as circunstâncias e possibilidades de cada país.

A luta contra a fome é um desafio coletivo. Acreditamos que o trabalho em equipe continua sendo o motor dessa transformação social. Temos um caminho longo e árduo, mas a esperança de um futuro sem fome se mantém viva, impulsionada pela força da união e do engajamento.

Juntos, seguiremos em frente, com a certeza de que cada ação, por menor que pareça, faz uma diferença imensurável na vida de quem precisa.