Por Karine Inácio para cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube

O esporte sempre foi um instrumento de inserção e manifestação social, entretanto isso não impediu o afloramento de ideais eurocêntricos dentro das organizações esportivas, distanciando assim o esporte de determinadas culturas que fugiam da “normatividade”. Dentre esses povos estavam as primeiras nações, que foram vítimas de um grande processo de extermínio e silenciamento das suas vozes, e muitas até hoje permanecem à margem da sociedade.

Dito isso, ainda é visível o impacto causado por esses princípios preconceituosos, que acarretaram em uma baixa representação e nenhum estímulo eficaz para a introdução dos povos indígenas nas olimpíadas. Contudo, mesmo com o colonialismo das diferentes épocas, muitos esportistas nativos desafiaram a sociedade e fizeram história; entretanto, nos dias atuais suas vozes foram igualmente esquecidas.

Um deles era o norte-americano Jim Thorpe (1888-1953) das nações Sac e Fox (Sauk e Meskwaki), que foi o primeiro nativo americano a ganhar uma medalha de ouro pelos Estados Unidos nas Olimpíadas. Apesar da alegria, anos mais tarde, em 1912, o medalhista teve suas medalhas confiscadas, após ter sido constatado seu status de profissional, coisa que era proibida nos jogos olímpicos. Em 1983, seus títulos foram restaurados pelo COI (Comitê olímpico internacional) e devolvidos aos seus descendentes, após a constatação tardia do erro.

A participação de Jim Thorpe foi apenas um pontapé inicial, posteriormente cada vez mais nativos faziam a sua estreia nas olimpíadas, como era o caso de: Louis Tewanima (Da nação Hopi), Billy Mills (Oglala Lakota), Andrew Sockalexis (Penobscot), Cathy Freeman (Kuku Yalanji/Birri Gubba) e Duke Kahanamoku (Nativo havaiano).

No cenário nacional a baixa participação de nações nativas piora de maneira drástica, pois não existe atualmente nenhum desportista indígena competindo nas Olimpíadas e nunca teve abertura para que houvesse, o racismo sistematizado priva os povos originários de ter acesso a competições de nível internacional e mantêm essa população marginalizada.

A estrutura colonialista que ainda cerca os jogos olímpicos é a principal responsável por calar vozes originárias e mantê-las no anonimato até hoje, além do eurocentrismo das organizações e da escassez de estímulo por parte do estado brasileiro, que tira o direito dessa população de ser incorporado no meio esportivo. A visão dos corpos indígenas pelo olhar do colonizador é ainda algo muito perpetuado e exercido no meio esportivo, o que impossibilita o alcance das diversas etnias ao pódio.

Listamos aqui estão nove magníficos atletas que marcaram a história e continuam a impactar gerações nativas de vários países. O Brasil, até então, não levou nenhum atleta indígena à disputa nas Olimpíadas, ainda que o país tenha um evento multiesportico – os Jogos dos Povos Indígenas – realizado deste 1996.

Jim Thorpe

Das nações Sac e Fox (Sauk e Meskwaki), foi o primeiro nativo americano a ganhar o ouro pelos Estados Unidos, sendo considerado um dos atletas mais versáteis na história do esporte. Thorpe começou sua carreira esportiva na escola Residencial Carlisle. Porém, apesar da vitória nas olimpíadas, Jim teve seus títulos tomados depois de ser descoberto como jogador profissional, o que era proibido. Contudo, anos depois, em 1983, seus títulos foram restaurados e devolvidos para a mão de seus descendentes, após a constatação tardia do erro.

Fotografado por Harris e Erwin – Prints & Photographs Division.

Billy Mills

O norte-americano do povo Sioux Oglala competiu nas olimpíadas de 1964, em Tóquio, concorrendo na categoria de 10.000 metros, onde conquistou sua primeira medalha de ouro. Além de ser um grande quebrador de recordes, Billy é um dos co-fundadores e porta-voz da “Running strong for american indian youth”, uma organização que tem o objetivo de encorajar a juventude, e ajudar as comunidades nativas americanas que passam por dificuldades.

indianyouth.org

Louis Tewanima

Igualmente a Thorpe, Louis precisou frequentar a escola Residencial Carlisle depois que seu povo Hopi foi obrigado pelo exército a mandar todas as crianças nativas ao internato e foi o que aconteceu com ele. Para lidar com as tentativas de extermínio, Tewanima começou a correr e foi assim que ganhou uma medalha de prata nas olimpíadas. Entretanto, isso não diminuiu seu desgosto com a escola, que usava Jim e Louis como marketing para provar a “civilização dos selvagens”. Depois de ser autorizado a deixar a Carlisle nos anos de 1912, Tewanima nunca mais competiu, privou isso a sua religião (na qual correr estava ligada à cultura e religião de seu povo), foi resistência perante a colonização, se recusando a falar inglês e dar entrevistas.

Library of Congress, Prints and Photographs Division

Andrew Sockalexis

Membro da nação penobscot, Andrew correu nas olimpíadas de 1912, onde ficou em quarto lugar. O atleta correu outras maratonas, ganhando muitas delas, porém não deu tempo de participar da olimpíada seguinte. Em 1916, fez sua última corrida com muito esforço, quando foi diagnosticado com tuberculose, que anos mais tarde com apenas 27 anos teve sua vida ceifada.

penobscotculture.com

Tom Longboat

O canadense do povo Onondaga competiu nas olimpíadas de 1908, porém não ganhou a medalha. Entretanto, ganhou a revanche e outras várias maratonas nas quais competiu. Tom frequentou a escola Residencial Mohawk, que odiava e da qual tentou fugir duas vezes, sendo sua segunda tentativa bem sucedida. Ele passou, então, a viver escondido na casa de um tio, até sua carreira esportiva explodir. Tom deixou um legado imenso, tendo hoje em dia uma escola com seu nome e sendo designado como uma “pessoa histórica nacional”, no Canadá.

penobscotculture.com

Frank mount Pleasant

Da nação Tuscarora, Frank era um atleta versátil, fazendo vários esportes. Contudo, participou das olimpíadas em 1908, no salto à distância e salto triplo, infelizmente não ganhando a medalha. Frank estudou na escola residencial Carlisle e teve uma vida tranquila. Pós-olimpíadas, ele jogou futebol semi profissional e morreu em circunstâncias suspeitas, tendo seu corpo encontrado por dois policiais e com fraturas causadas por violência

 

Duke Kahanamoku

Era um nativo havaiano que ganhou 5 medalhas como nadador e foi um dos grandes responsáveis pela popularização do surf, além de ter sido um dos maiores nadadores de estilo livre. Fora do esporte, o atleta ainda fez participações no cinema e foi xerife da cidade.

dukeswaikiki.com

Cathy Freeman

A atleta dos povos Kuku Yalanji e Birri Gubba, ganhou uma medalha de ouro nas olimpíadas de 2000. Em 1992 ela foi a primeira indígena australiana a participar de uma olimpíada, mas não ganhou. Cathy foi embaixadora da “Australian Indigenous Education Foundation” e criou a “Cathy Freeman Foundation”, ambos que ajudam crianças nativas a se manter na escola e diminuir a desigualdade entre crianças indígena e não-indígenas.

Nova Peris

Foi a primeira indígena australiana a ganhar uma medalha de ouro nas olimpíadas, em 1996. Nova, faz parte de “gerações roubadas”, ou seja, gerações de ascendência indígena que foram removidas de suas famílias e povos, pelo governo e missões católicas na região. A atleta investiu em sua carreira política, hoje sendo a primeira mulher indígena eleita no senado em 2013.

olympics.com.au