Não vamos voltar para o armário!
A jornada para o autoentendimento é um processo complexo e gradual. Para mim, compreender minha identidade como mulher negra e aceitar meu amor por outras mulheres foi um trajeto longo e desafiador. No entanto, nada se comparou à compreensão do comportamento hostil de pessoas preconceituosas. É simplesmente inacreditável para mim que alguém possa se sentir incomodado pela orientação sexual de outra pessoa, e ainda mais perturbador pensar que vidas são perdidas apenas por amar e ser autêntico.
A jornada para o autoentendimento é um processo complexo e gradual. Para mim, compreender minha identidade como mulher negra e aceitar meu amor por outras mulheres foi um trajeto longo e desafiador. No entanto, nada se comparou à compreensão do comportamento hostil de pessoas preconceituosas. É simplesmente inacreditável para mim que alguém possa se sentir incomodado pela orientação sexual de outra pessoa, e ainda mais perturbador pensar que vidas são perdidas apenas por amar e ser autêntico.
A Primeira Opressão: Lar e Família
Minha primeira experiência de opressão aconteceu dentro de casa. Meu pai ficou furioso ao descobrir sobre minha orientação afetiva por mulheres. Embora afirmasse não ter preconceitos e até mencionasse ter “amigos que eram assim”, ele não conseguiu aceitar sua própria filha nesses termos. Ele me proibia de me relacionar com qualquer garota que não se encaixasse em sua visão estereotipada de feminilidade. Quando minha mãe, crente e pentecostal, descobriu, suas lágrimas fluíram copiosamente. Isso, sinceramente, nunca fez sentido para mim. Eu não estava cometendo nenhum crime; minhas notas eram ótimas, me dedicava aos estudos, trabalhava, ajudava em casa e nunca sucumbi às armadilhas do tráfico de drogas, prostituição ou sistema prisional – destinos frequentemente desenhados para jovens mulheres negras como eu.
Então, por que toda essa agitação? Sempre foi algo que me deixou perplexa. Com o tempo, após muitas conversas, a situação começou a mudar. Foi quando decidi não compartilhar mais detalhes íntimos da minha vida com minha família. Essa decisão foi dolorosa, profundamente dolorosa. Nada doeu mais do que chamar a pessoa que amo de “amiga”, remover minha aliança ao entrar em casa e não poder tocar ou ficar próxima.
Experiências de Relacionamento
Antes do meu atual relacionamento, estive envolvida romanticamente com outras duas mulheres. Sempre me incomodou a hostilidade manifestada nos olhares e nas investidas invasivas das pessoas. Enfrentei situações difíceis, mas nunca ultrapassou isso. Nunca havia experimentado verdadeiro pavor ou medo pela minha vida… até a semana passada. Foi quando um homem três vezes maior do que eu se sentiu incomodado pelo simples fato de estar de mãos dadas com minha namorada. A pergunta persiste: por que isso incomoda tanto? O fato de não ter me silenciado aparentemente o irritou ainda mais. Isso é, sem dúvida, uma manifestação de machismo e misoginia. O que ele disse e o silêncio conivente de sua esposa deixaram isso claro.
Mas chega! A era em que nos escondíamos acabou. Pessoas como essas estão acostumadas a oprimir e esperar que nos submetamos e peçamos perdão. Mas, pedir perdão pelo quê? Por existirmos? Por amarmos? Chega!
A Realidade Brasileira
O Brasil é o país que mais registra mortes de pessoas LGBT+. Sinto esse peso e tenho medo. O alvo está direcionado a nós. Por outro lado, somos gigantes! Não consigo enumerar a quantidade de mensagens de apoio de advogados, deputados, vereadores e artistas que recebi, todos se solidarizando e se colocando à disposição para ajudar no caso.
E a luta sempre continua…
A luta contra o projeto de lei que busca proibir o casamento homoafetivo no Brasil está de volta à Câmara dos Deputados. Mesmo sendo inconstitucional, esse debate ressuscita feridas. Precisamos combatê-lo.
E é preciso reforçar que a nossa luta é árdua, o medo é real, mas nossa coragem é maior. Estamos aqui, resistindo e empoderando uns aos outros, porque merecemos viver em um mundo onde o amor e a autenticidade sejam celebrados, não reprimidos.
Não estamos sozinhas!
Jade Beatriz, presidenta da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas