Mulheres que cuidam, criam, e muitas vezes sozinhas, vencem!
Tia Marlene, irmã mais velha de minha mãe, Marinete, que em 2020 completará 80 anos, sempre nos ensinou a ser mulher aguerrida e a lutar pelo o que queria.
Nossos pais desde sempre nos ensinaram a ser família. E isso para a gente tinha um significado: aceitar e acolher a todos aqueles, que mesmo não sendo de sangue, faziam parte de nossas vidas. E assim fazíamos. Mesmo com todas as diferenças que tínhamos, que era percebida em todo encontro ou reunião de família, todo ano nos reuníamos e fazíamos festa com muita diversão, comida e bate papo.
Nossas férias escolares de final de ano eram cheias de amor e descobrimentos. Com direito a um natal arregrado e um ano novo cheio de farra. Era assim que sempre no nordeste do Brasil, em João Pessoa, aconteciam essas reuniões!
Marielle era uma das primeiras a falar o quanto ela ficava ansiosa em ir para aquelas praias, ensinar os funks atuais para galera de lá, beijar na boca de pessoas de diferentes estados que todo ano viajam para o nordeste, e ensinar a galera a falar “mesmo” do nosso tipo carioquês.
Mas era muito mais do que isso. Era nossa essência, nossa criação, e acima de tudo, nossa raiz.
Era uma farra poder dividir noites acordadas, missas, viagens de ônibus ou avião, e momentos alegres com tanta MULHER forte que desde pequenas cuidavam da gente, da história da família, e nos ensinavam a voar. Era sempre no final do ano que aquele amor durava dias ou as vezes meses. E era nessa época que sentávamos do lado de fora do portão no bairro de bancários, ouvindo nossas tias falarem e nos incentivarem a sermos mulheres decididas e fortes.
Foi lá que descobrimos que minha avó materna, foi uma das feministas, políticas, rezadeira, benzedeira, cozinheiras, cabelereira, mais incrível que o Nordeste já teve. E foi lá também que crescemos aprendendo com nossa tia Marlene e todas as outras irmãs de nossa mãe, que o mundo bate, e bate doído. E quando a peia chegara, a gente enxugava as lágrimas e seguia. Com dor, mas seguia!
Nossas tias, fizeram, e fazem toda diferença em nossa criação até hoje. Todas eram e são especiais, mas uma, sempre mexeu com nossa imaginação por tamanha força e coragem. Ela é menor em tamanho, mas a mais brava!
Tia Marlene, irmã mais velha de minha mãe, Marinete, que em 2020 completará 80 anos, sempre nos ensinou a ser mulher aguerrida e a lutar pelo o que queria.
Como milhares de brasileiras que existem por aí, a história de minha tia, não é e nunca será a única. Tia Marlene foi abandonada após o nascimento de seu sexto filho sem mais nem menos e sem explicação, e se viu sozinha para cuidar e sustentar seus filhos.
Mas sabe o que ela fez? Criou e cuidou de todos os seus SEIS filhos, formando todos eles. Um por um, com seu suor e luta. Embora ela não fosse formada, ela sabia e reconhecia o valor dos estudos. E nunca parou de trabalhar até que visse todos os seus filhos graduados. Ela formou seus filhos vendendo pamonha, bolo, cozinhando para fora, aplicando injeção, cuidando de idosos, trabalhando em casa de família, e alfabetizando crianças e adultos por João Pessoa.
Mesmo sendo discriminada por ser “uma mãe solteira”, com todo esse machismo, misoginia, e preconceito que não são de hoje, e ainda assombram as mulheres, ela nunca abaixou a cabeça e seguiu até o fim com seus objetivos.
Tia Marlene participou de todos os momentos de nossas vidas. Viajava sempre para estar presente. E nós sempre fizemos questão de estarmos com ela. Mari enchia a boca para falar o quanto ela imaginava o sofrimento de nossa tia!
E assim como toda família, tia Marlene sofreu muito com a morte da Mari. Mas o que consola ela, e a mim, e certamente a Mari, é que ela nos inspirou, nos criou, fez parte de nossas vidas, nos guiou e sempre nos ajudou a nos tornamos mulheres como ela.
Mulheres de luta. Mulheres que somam. Mulheres que desejam um mundo melhor, sem passar por cima de outras mulheres. Mulheres que cuidam, criam, e muitas vezes sozinhas, vencem!
Mulheres que acima de tudo chegam junto com outras para somar e de fato puxar outra.
Sejamos mulheres que ajudem e não enxuguem!
Sejamos todas como Tia Marlene ou Marielle. Mas sejamos!
E nesse mês de maio, que possamos nos inspirar e cuidar uma das outras e umas com as outras, com muita sororidade e afeto!
Cuidem de suas inspirações! E sigam sabendo de onde vieram e quem veio com vocês!
Por isso eu digo: Tia Marlene e Marielle, presente, hoje e sempre!