Mulheres negras pela justiça tributária e social
Justiça tributária é dignidade e justiça social e econômica para quem nunca viu a cor do que isso representa.
Sabemos que historicamente nas guerras, nas catástrofes e nas crises produzidas pelo capital, as mulheres são as mais atingidas e não é surpresa que as mulheres negras acabam sendo ainda mais vitimizadas. Vivemos momentos tensos com os ventos que vem do norte do continente, e que se somando à resistência das elites brasileiras em abrir mão do que amealharam às custas de séculos de escravidão negra, acabarar por nos atingir fortemente.
É certo que nem toda família que enriqueceu no Brasil nos últimos séculos descende do enriquecimento ílicito da escravidão, por parte de seus ancestrais, mas é fato também que a escravidão tem um papel importante e significativo nas estruturas de desigualdades sociais e econômicas que tem reflexos até hoje no Brasil.
A Oxfam Brasil mostrou em seu estudo “resumo da política: Arqueologia da Regressividade Tributária no Brasil” que as regras fiscais perpetuam as desigualdades raciais, pois mulheres negras mantêm seus lares com menos renda e por outro lado mais de R$ 400 bilhões em lucros e dividendos não pagam impostos, garantindo que privilégios do período pós-escravatura sigam intactos até hoje. O documento destaca que 80% dos super-ricos são homens brancos (dado da PNAD/24) , enquanto 44% dos que ganham até R$ 5 mil são negros, sendo 41% mulheres negras.
Os dados não permitem ilusões, por isso é importante que se faça justiça tributária neste país, porque no topo das mais atingidas por esse processo, estão as mulheres negras ocupando ainda a base da pirâmide e sustentando o peso de uma sociedade inteira. Não há registros precisos das famílias que se beneficiaram da escravidão, mas isso não pode nos impedir de fazer lembrar os impactos disso hoje na discussão da taxação dos super-ricos.
Uma equação simples:quem ganha mais, paga mais, simples assim. Isso transformaria um país de maioria feminina, preta e parda, e no mês considerado o “Julho das pretas”, por conta do dia 25 de Julho, Dia Nacional de Tereza de Benguela e dia Internacional da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha, chamamos a atenção para esse tema, que afeta logicamente a população mais pobre, mas sobretudo as mulheres negras. Justiça tributária é dignidade e justiça social e econômica para quem nunca viu a cor do que isso representa. Lutemos e sonhemos juntas e juntos com o dia em que isso não precise ser explicado.