por Anielle Franco e Benedita da Silva

Neste 20 de novembro, feriado nacional e data que rememora a luta e resistência de Zumbi, Dandara e do Quilombo dos Palmares, é fundamental ecoar a relevante contribuição negra na construção e sustentação deste país. Somos mais da metade da população brasileira — quase 56%, segundo o último censo —, mas seguimos enfrentando desafios e desigualdades estruturais que nos impedem de existir com bem-viver e dignidade.

Travamos batalhas dia após dia para que o 20 de novembro não seja apenas uma data comemorativa, mas um marco nacional de denúncia, de ação coletiva e de cuidado com a memória e a luta por reparação para nosso povo. No campo institucional, temos atuado para ampliar políticas de ações afirmativas, fortalecer mecanismos de participação social, consolidar marcos legais de combate ao racismo e promover iniciativas que impactem diretamente a vida das populações negras de favelas e periferias, do campo e da cidade. Avanços recentes — como a lei de cotas no serviço público, a renovação da lei de cotas nas universidades, o Programa Nacional Juventude Negra Viva e a titulação de mais de 30 territórios quilombolas — devem ser celebrados como legado desta nova gestão do presidente Lula e do Ministério da Igualdade Racial.

No campo da justiça social e econômica, nosso esforço tem sido o de enfrentar as desigualdades a partir de uma perspectiva de reparação. Segundo estudo da UFG, 63,1% da população que trabalha na escala 6×1 é composta por pessoas negras (pretas e pardas); a maioria é formada por trabalhadores assalariados de baixa renda, e grande parte dos trabalhadores informais é negra, concentrada em ocupações precarizadas e com menor proteção social. Esses dados evidenciam que a desigualdade não é apenas um problema social, mas algo enraizado na formação econômico-racial do Brasil.

Por isso, defendemos medidas estruturais. Queremos o fim da escala 6×1, a taxação dos super-ricos, o fortalecimento de políticas redistributivas e a criação de novos instrumentos de reparação histórica. No Congresso Nacional, estamos liderando o debate sobre um Fundo Nacional de Reparação, que representa um passo importante para colocar na agenda do Estado brasileiro a responsabilidade de enfrentar de forma sistêmica os danos acumulados por séculos de escravidão, exclusão e violência institucional.

Reafirmamos que a agenda da igualdade racial deve permanecer estruturante no Estado brasileiro. Isso significa garantir continuidade institucional, ampliar investimentos, fortalecer conselhos e mecanismos de participação, e manter o diálogo permanente com movimentos sociais, organizações da sociedade civil e lideranças comunitárias de favelas e periferias. E, neste novembro — mês em que também marcharemos lado a lado com milhares de mulheres negras do Brasil e do mundo —, ecoaremos um manifesto pelo direito ao futuro, por uma política que não nos viole, mas que permita que possamos ocupar e permanecer em espaços de poder.

Seguiremos trabalhando para que o Brasil avance, de forma consistente, na construção de um país mais justo, inclusivo e comprometido com os direitos da população negra. Com passado, presente e futuro à nossa frente, seguiremos de mãos dadas, marchando por um país que fomenta memória, planta reparação e colhe o bem-viver para todos.