Manifesto: funcionários da Fiocruz cobram ruptura de cooperação científica e tecnológica do Brasil com Israel
O manifesto foi organizado pelo Coletivo Vozes da Fiocruz Pela Palestina.
Cerca de 400 funcionários, pesquisadores e acadêmicos que fazem parte da Fiocruz assinaram uma declaração nesta quinta-feira fazendo um apelo para que o Brasil suspenda qualquer tipo de cooperação que possa existir com Israel no campo das ciências, pesquisas ou tecnologia.
A proposta é uma reação ao que o grupo qualifica como genocídio por parte do governo de Benjamin Netanyahu contra os palestinos em Gaza, em especial diante da destruição e ataques contra hospitais, ambulâncias e médicos.
“Como profissionais e cidadãos comprometidos com o direito universal à saúde e à vida, defendemos a ruptura com o regime genocida de Israel. “Declarações de condenação por parte das lideranças mundiais importam, mas não são capazes de parar o genocídio. Viemos nos juntar àqueles que cobram ações concretas”, disseram.
“Nesse sentido, apoiamos a ampla campanha internacional que exige boicote, desinvestimento e sanções (BDS). Conclamamos o governo brasileiro a romper relações econômicas e diplomáticas com o Estado de Israel, incluindo a cooperação com as forças militares e policiais brasileiras e o fornecimento de combustível a Israel”, afirmam.
“Defendemos também que instituições de ciência brasileiras, como a Fiocruz, interrompam qualquer relação de cooperação e intercâmbio científico, tecnológico e acadêmico com instituições congêneres de Israel, pois são parte da maquinaria do colonialismo e do genocídio”, sugerem.
Para o grupo, o “isolamento diplomático, econômico, comercial, científico, tecnológico e esportivo foi fundamental para a queda do apartheid sul-africano”. “Exigimos o mesmo tratamento para o apartheid israelense. A solidariedade ao povo palestino é uma causa e uma luta internacionalista, anticolonial, feminista e antirracista”, insistem.
Um dos argumentos dos funcionários é a atitude de Israel diante do campo da saúde.
“Os bombardeios às unidades de saúde e os assassinatos e prisões de profissionais de saúde expressam, de forma clara e contundente, as violações e privações ao direito fundamental à saúde praticadas pelas forças de Israel e são parte inseparável do projeto genocida que está sendo executado”, afirma a carta.
“Após um ano, a Organização Healthcare Workers Watch confirmou a morte em Gaza de 1.200 trabalhadores em saúde, e de 384 detidos ilegalmente pelas forças de ocupação de Israel. Segundo depoimentos, houve tortura sistemática e tratamento desumano nas prisões. Foram mortos ou presos cerca de 1⁄4 dos médicos experientes”, alertou.
“Pelo princípio de solidariedade internacional, os trabalhadores de saúde não podem se calar diante da agressão inominável do Estado de Israel, do genocídio em curso e da tentativa de inviabilizar a vida da população palestina em Gaza”, defendem.
“O uso de tecnologias de repressão permanente nos territórios invadidos e ocupados faz da tragédia palestina um laboratório de testagem de equipamentos militares, armamento e táticas de controle e extermínio populacional, que são exportados para forças militares como as polícias brasileiras, que frequentemente reproduzem formas de violência comparáveis, especialmente contra as populações pobres, negras e indígenas nas favelas, nas periferias, no campo e nas florestas”, apontam.
Para o grupo, o que existe é um “processo de eliminação do povo palestino em Gaza por Israel”.
“A intenção de destruir, no todo ou em parte, uma população, incluindo os seus meios de vida é o que caracteriza um genocídio, segundo a Convenção da ONU para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio e o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional”, alertam.
“O governo de índole neonazista de Israel é um fora da lei internacional que aterroriza o Oriente Médio. Na Palestina, executa dois crimes simultâneos contra a humanidade: limpeza étnica para a usurpação de territórios e genocídio contra o povo palestino. Se nada interromper essa barbárie, não restará mais população palestina em Gaza”, destacam.
“Afirmamos, por meio deste manifesto, que estamos do lado das vítimas, tanto daquelas que ainda podem ser salvas quanto das que se foram e precisam ter sua memória preservada. Estar do lado das vítimas da opressão é estar ao lado da justiça e da verdade”, afirmam os funcionários da Fiocruz.
Para eles, é preciso continuar a pressão sobre Israel, EUA, Reino Unido e os países da União Europeia, seus principais parceiros e financiadores. “Uma resistência internacional solidária pode mudar o rumo desse massacre”, diz o documento.
Para eles, “a memória do horror do Holocausto e de toda a história de perseguições sofridas pelos judeus na Europa é ilegitimamente utilizada pela propaganda sionista como chantagem para impedir críticas às políticas de Israel”.
“Mais do que nunca, é urgente agir. Os massacres e a usurpação das terras palestinas, que ocorrem há mais de 70 anos, atingem agora um ponto de inflexão gravíssimo rumo a uma “solução final”, a tentativa de eliminação do povo palestino em Gaza. O que ocorre hoje em Gaza e nos territórios ocupados já vem sendo considerado como a maior tragédia do século XXI, “um teste moral decisivo para a humanidade”, alertam.