Por Luka Borges

O ano era 2016 e a então deputada federal Manuela D’ávila levou sua filha, Laura, para o plenário do Congresso Nacional e a amamentou durante a sessão e essa foto viralizou nas redes sociais. Lembro de achar estranho e de perceber que não deveria ser. De perceber que a minha estranheza se dava ao fato de que mulheres mães estavam sendo excluídas destes espaços de decisão política. A foto também repercutiu na mídia nacional e internacional. Manuela aproveitou a ocasião para defender o aleitamento materno e a importância de o tema não ser um tabu na sociedade.

Já no ano de 2020, participei da campanha eleitoral da vereadora Thais Ferreira e pude ver de perto as dificuldades de conciliar a maternidade com a vida corrida da política. Mas pude ver também como a presença de crianças nestes espaços deixava tudo mais leve, colorido e com pitadas extras de esperança. No entanto, as dificuldades de representação feminina em cargos eletivos vão além da maternidade e se mostram em números.

A deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ) também protagonizou um momento emblemático ao amamentar sua filha, Moana Mayalú, durante discurso contra a Medida Provisória da capitalização da Eletrobras na tribuna da Câmara dos Deputados, em 2021. A bebê estava em uma bolsa canguru, próxima ao corpo de Talíria e, em determinados momentos, procurou o seio da mãe; a política seguiu com sua fala, enquanto a menina era amamentada. A foto das duas no plenário ganhou repercussão nas redes sociais, e mais uma vez, 5 anos depois da foto de Manuela circular, causou incômodo em muita gente. Algumas mães compartilharam o registro no Instagram, exaltando a importância da representatividade do ato.

Recentemente, a deputada estadual pelo Rio de Janeiro, Renata Souza, compartilhou sua gravidez nas redes sociais. Renata é a deputada estadual mais votada do Rio de Janeiro e presidenta da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher e espera sua primeira filha, Rubi. Sua gravidez levantou o debate de um projeto de lei apresentado em 2019,  que fala sobre a licença maternidade e paternidade de parlamentares. O relator do Projeto, deputado estadual Rodrigo Amorim, votou pela constitucionalidade do projeto na Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia do Rio, no dia 17 de abril deste ano. Agora, o Projeto de Resolução está pronto para ir ao Plenário para votação dos deputados.

Esses são alguns exemplos de mães eleitas para cargos eletivos que demonstram a maternidade, ao contrário do que era feito antigamente, quando as mulheres na política, para demonstrar força e seriedade, não traziam a público a maternidade. As mulheres, mesmo sendo a maior parcela da população brasileira, com 51%, nas eleições municipais de 2020 elegeram apenas 12% de prefeitas. O número de vereadoras eleitas foi de apenas 16%. No pleito de 2022, apenas 18% das cadeiras nas assembleias legislativas foram levadas por mulheres. No Congresso Nacional, deputadas federais e senadoras também ocupam somente 18% das vagas. Há poucas informações sobre quantas dessas mulheres são mães, mas sabemos que todas nós precisamos de alguma forma conciliar as atividades de cuidado da família com a atividade política.

Um levantamento realizado pelo Instituto Alziras com as prefeitas eleitas em 2020 é o único a trazer um panorama sobre o assunto. Segundo o Censo das Prefeitas Brasileiras (2021-2024), 85% das mandatárias municipais são mães. Em seu artigo no Ecoa, publicado em 2022, a atual ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, enumera motivos para que mais mães cheguem aos cargos eletivos no Brasil. Ela cita que, apenas em setembro de 2021, a licença-maternidade, um direito das trabalhadoras, deixou de ser considerada como “falta” na Câmara dos Deputados e passou a ser inserida nos painéis de votação.

Não quero romantizar a maternidade, sei dos percalços que as mães passam desde a gestação até a vida adulta dos seus filhos, mas a verdade é que o olhar materno muda a política brasileira. O senso para adiar o fim do mundo, destas mulheres que têm filhos, é importante para que tenhamos melhores políticas de cuidado para todos e todas. Mas também é importante que encontremos maneiras de acolher essas mulheres na vida pública, com estrutura e amparo.