Invasão, ocupação e descobrimento? Baixo Tapajós reconstruindo a história em 11 de novembro
Quando os indígenas ocupam, eles dizem que é invasão; Quando são eles que invadem, é descobrimento
por Pati Lima Felix
“Lá dentro tava acontecendo uma festa regada a champagne e tocava uma música estilo festa de formatura, sabe?” — declarou um manifestante que não quis ser identificado.
Na noite de 11 de novembro de 2025, indígenas de vários povos — grande parte da Região do Baixo Tapajós — deixam marcas na história com a ocupação realizada na Zona Azul da COP30.
A zona dos ternos e fardas azuis, onde chinelos ou pés descalços não entram, estava sob a segurança do Departamento das Nações Unidas para Segurança e Proteção — UNDSS (sigla em inglês).
É importante esclarecer que a Carta das Nações Unidas proíbe a ameaça ou uso de forças nas relações internacionais. Agressão militar unilateral é considerada ilegal pelo direito internacional. A ONU deve priorizar a diplomacia e meios pacíficos para resolução de conflitos.
“Foi uma tremenda baixaria. E o pior de tudo é que os indígenas ficam sentados no chão, não fizeram um estande para eles. É muita pilantragem. Usam rostos de indígenas como propaganda para a COP na Amazônia, mas barram a entrada. Tratam como lixo. Querem tirar fotos, serem pintados pelo jenipapo deles, mas ajudar mesmo é só da boca pra fora.” — disse Erick Ferreira, morador da Região do Baixo Tapajós.
Em conversa com moradores da Região do Baixo Tapajós, que buscavam ingressar no Setor Azul, a fim de terem suas reivindicações ouvidas, eles demonstraram a indignação de terem poucas credenciais ou quase nenhuma comparado ao número de interessados que vieram até a Capital Belém para serem ouvidos.
Considerando a situação, traçaram a estratégia de ocupar o Setor Azul da COP — local das negociações mais importantes.
E o que é uma invasão? Invasão é o ato de penetrar em espaço que não é próprio de quem invade. Ou seja, ingressar usando violência e agressão a um espaço alheio. Já a ocupação representa o movimento ou ato político de resistência que objetiva uma perspectiva transformadora da realidade. É um ato que envolve reivindicações de direitos próprios daqueles que estão ocupando.
Considerando esses conceitos, podemos dizer que quando afirmam que os indígenas “invadiram” o Setor Azul da COP, estão também dizendo que lá não é o lugar deles, pois invasão só ocorre no que é alheio.
Por isso, o correto é afirmar que ocorreu uma ocupação do espaço e que sim, houve resistência por parte da organização do Setor Azul e os indígenas foram recebidos com muitas agressões. Havia também mulheres e idosos no momento.
Ao que parece, quando os indígenas realizam movimento político de ocupação de espaços de debates — sobre questões que envolvem os direitos deles —, o outro lado chama isso de invasão. Já quando o outro lado invade rios, territórios e inclusive a Foz do Amazonas, chamam de descobrimento. “Descoberta de terras aqui e ali”; “descoberta de petróleo na Bacia Tal…”; “descoberta de petróleo na Foz do Amazonas”. Parece que o termo “descobrimento” nunca sai da moda.