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Incluir os jovens no debate climático não é opção, é necessidade e justiça
Nossa geração deve ter um papel ativo no planejamento futuro e ser considerada quando se fala em oportunidades verdes ou em novos postos de trabalho em uma economia de baixo carbono
Por Sara Emanuelly
Parece óbvio e até redundante dizer que as mudanças climáticas não impactam a todos da mesma forma nem no mesmo tempo. Como se não bastasse herdar um mundo em transformação, jovens como eu enfrentam um desafio ainda maior: ingressar em um mercado de trabalho em constante mudança, mas que ainda é refratário à nossa presença.
Embora especialistas afirmem que os chamados empregos verdes podem gerar até 60 milhões de novos postos de trabalho no mundo, essa realidade ainda está distante dos jovens, especialmente daqueles sem formação sólida ou sem acesso a boas escolas e universidades renomadas. Há um grande descompasso entre as qualificações exigidas para atuar na área e o currículo de quem se prepara para entrar nesse mercado.
Invariavelmente, as vagas são destinadas a profissionais experientes e altamente qualificados, com formação à qual nem todos os jovens, da periferia ou não, têm acesso. Faltam programas que os enxerguem e, principalmente, ofereçam oportunidades reais. Na verdade, o mercado está despreparado para acolher o jovem que vive em um mundo em colapso e busca entender como pode ser parte da mudança.
Eles não podem ser ignorados. Segundo o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), há quase 2 bilhões de pessoas com idades entre 10 e 24 anos no mundo. Seu ingresso no mercado de trabalho deve acontecer até meados da próxima década. O que encontrarão? Não sabemos.
O que sabemos é que os jovens de hoje precisam ser ouvidos. Essa geração deve ter um papel ativo no planejamento futuro e ser considerada quando se fala em oportunidades verdes ou em novos postos de trabalho em uma economia de baixo carbono.
Para agravar ainda mais esse cenário, os sistemas educacionais não abordam com a devida seriedade a crise climática e seus impactos na vida de crianças, adolescentes e jovens adultos – justamente aqueles que menos contribuíram para a situação e que mais tempo viverão sob seus efeitos.
Essa questão é tão grave que, no fim do ano passado, o Banco Mundial lançou o relatório Choosing Our Future: Education for Climate Action (Escolhendo o Nosso Futuro: Ensino para a Ação Climática), que analisa os impactos das mudanças climáticas no ambiente escolar. O estudo revelou que menos de 2% dos fundos globais destinados à ação climática são direcionados à educação sobre o tema. Esses dados reforçam a necessidade urgente de reformar o ensino para preparar profissionais para os empregos verdes. Algumas oportunidades existem, como cursos gratuitos em áreas específicas de energias renováveis, mas ainda são poucas.
Além disso, dentro dessa população, quem mais sofre com as desigualdades no mercado de trabalho são os jovens negros. Muitas vezes, a única alternativa para essa parcela da população é a informalidade – o que os priva dos benefícios do trabalho formal e da garantia de direitos trabalhistas. Segundo o boletim Emprego e Renda, do Centro Brasileiro de Justiça Climática, “embora representem 56,1% da população em idade ativa, as pessoas negras correspondem a mais da metade dos desocupados (65,1%)”.
Como garantir que esses jovens tenham acesso a um mercado de trabalho em transformação? Falta uma rede de apoio que possibilite sua inserção nas novas áreas que surgirão e que os qualifique para atuar onde são mais necessários.
Os planejamentos futuros sobre as mudanças climáticas – como se a crise já não tivesse nos alcançado – ignoram aqueles que viverão mais tempo em um planeta que não ajudaram a destruir, mas que terão que reconstruir. Vivemos um momento alarmante. Precisamos nos posicionar não como vítimas passivas, mas como agentes ativos da mudança para um modelo econômico mais sustentável.
O planeta que herdamos ainda perpetua desigualdades e separa pessoas, sem garantir que a nova geração tenha voz e papel ativos. Por isso, no Engajamundo, atuamos na formação e mobilização de jovens para que compreendam suas raízes, seu entorno e o que fazer para torná-lo mais sustentável e resiliente. As mudanças climáticas já impactam suas vidas.
O Brasil sediará a COP30 este ano, e este pode ser um momento crucial para promover mais igualdade e refletir sobre o modelo econômico que queremos construir – mais eficiente, mais justo e mais sustentável. Nosso país não pode ignorar uma geração que já foi silenciada por muito tempo, mas que precisa fazer parte dessa transformação.
Sara Emanuelly é pesquisadora, comunicadora e ativista socioambiental e climática, é articuladora nacional e coordenadora do Grupo de Trabalho sobre Mudanças Climáticas do Engajamundo