Há 20 anos, o grito de Francelmo ecoa: Justiça Climática pelo Pantanal
Há 20 anos, o sacrifício de Francelmo inspira jovens do Pantanal na luta por justiça climática.
Por *Gabriel Adami
No dia 12 de novembro de 2005, o Brasil e o mundo testemunharam um ato extremo de resistência. Francisco Anselmo de Barros, conhecido como Francelmo — ativista ambiental e símbolo da luta pelo Pantanal — ateou fogo em seu próprio corpo em protesto contra a expansão das usinas alcooleiras na região pantaneira. Seu gesto dramático, carregado de desespero e coragem, denunciava a destruição de um dos biomas mais ricos e sensíveis do planeta.
Duas décadas depois, o eco do sacrifício de Francelmo ressoa com força renovada. Enquanto líderes de mais de 196 países se reúnem na COP30, em Belém do Pará, para discutir os rumos do futuro climático da humanidade, vozes do Pantanal voltam a se erguer exigindo justiça climática — um conceito que, embora recente nas políticas globais, já pulsava no coração de ativistas como ele.
Hoje, jovens pantaneiros assumem o bastão da resistência. Proteger o futuro do Pantanal é garantir que a memória de Francelmo seja honrada — e que ela faça jus aos milhares de outros “Francelmos” que se sacrificaram em defesa das áreas úmidas. Somos diversas juventudes na linha de frente pela defesa do Pantanal.
Durante as duas semanas de negociações da COP30, eu e outros jovens ativistas pantaneiros levaremos ao mundo as demandas de um bioma que sofre silenciosamente com o avanço do agronegócio, o desmatamento e as mudanças climáticas. Participamos, ao longo das duas semanas, de painéis sobre Transição Justa, em parceria com a Organização Ibero-Americana de Juventude (OIJ), e de discussões com a UNEP (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) sobre sistemas alimentares sustentáveis.
A presença dessa juventude é mais que simbólica — é estratégica e necessária. O Pantanal, maior área úmida continental do planeta, enfrenta uma crise sem precedentes: secas históricas, queimadas devastadoras e a ameaça constante da expansão agroindustrial. Nos últimos anos, o bioma perdeu boa parte de sua capacidade natural de regulação climática e de proteção da biodiversidade. É urgente que as áreas úmidas sejam incluídas nas negociações da COP30, de modo que sua existência seja efetivamente garantida.
Ao levarmos nossas vozes à COP30, não representamos apenas uma região — representamos uma luta ancestral pela vida, pela água e pela dignidade ambiental. A memória de Francelmo, transformada em chama de esperança, inspira novas gerações a manter viva a defesa do Pantanal e de todos os ecossistemas ameaçados.
Mais do que nunca, lembrar Francelmo é agir. É exigir que o desenvolvimento respeite os limites da natureza e que a justiça climática chegue às margens dos rios, aos campos alagados e às comunidades que vivem e resistem no coração do Pantanal.
Sobre o autor

Gabriel Adami, liderança do Pantanal no Comitê da Campeã da Juventude da COP30 e Conselheiro de Políticas Juvenis do Fórum Mundial da Alimentação
Graduando em Ciência Política pela Universidade de Brasília, é ativista socioambiental e atua com incidência política no Legislativo brasileiro. Integra o Grupo de Trabalho de Juventudes da Frente Parlamentar Ambientalista, que promove a inclusão de jovens no Parlamento, e atua pela elaboração de políticas públicas voltadas à conservação da maior planície alagável do mundo. Desde 2024, é Conselheiro de Políticas Juvenis do Fórum Mundial de Alimentação, contribuindo para a integração de organizações e movimentos da América Latina e do Caribe na promoção de sistemas alimentares mais sustentáveis e saudáveis.