Greve de fome contra os que devoram a previdência num banquete
Os homens no poder têm os beiços úmidos pela gordura dos bichos alimentados e assados por um trabalhador que ficará sem Previdência.
Duas camponesas e um frei começaram uma greve de fome no último dia 5 na Câmara dos Deputados. No primeiro dia, explicaram seus motivos: proteger da fome os milhões de brasileiros e brasileiras desvalidos, que ficarão ainda mais abandonados se a previdência pública for destruída com uma Reforma que acaba com suas bases de solidariedade. Mais três mulheres campesinas se juntaram a eles há dois dias. Outros diversos lutadores sociais e movimentos em todo o Brasil estão mobilizados contra a Reforma da Previdência.
A cada dia que segue os olhos do religioso e das mulheres mais se encovam nos ossos de suas faces. Em meio à pele que opaca esses olhos mantém a chama dos que têm convicções a defender. Com o fio de voz que mantém no oitavo dia desta greve, eles alertam que previdência é preparação para o futuro. O que será dos que nada possuem no presente, se na velhice futura, nenhuma proteção do Estado houver? A denúncia que fazem mostra as maquinações de um sistema egoísta, para o qual a destruição da previdência pública é apenas mais um capítulo da apropriação privada do destino dos pobres.
Enquanto isso, banquetes são servidos nos palácios do governo e hotéis de luxo. Os homens no poder têm os beiços úmidos pela gordura dos bichos alimentados e assados por um trabalhador que ficará sem Previdência. Cada acompanhamento de suas refeições têm as mãos de um pobre em sua produção. Tomates vermelhos? Folhas verdes? Camarões róseos? Mãos ásperas, esbranquiçadas, rachadas pelo trabalho mal pago.
Na cozinha, mãos de mulheres com pouco ou nada a oferecer aos seus filhos e filhas misturam temperos e arrumam pratos para os que cortam a carne de seus rebentos, retirando-lhes o direito à educação, à saúde, à infância. Mesas postas, vinho servido, uma maioria negra entre os que enchem taças, estacionam os carros, limpam a sujeira nos cantos. Uma [quase?] totalidade branca entre os que se deleitam. Para os que foram senhores de escravos, nada diferente no hábito de não enxergar a humanidade dos que servem seus pratos.
São insaciáveis os que comem as riquezas dessa Nação. Enquanto milhões voltaram à miserabilidade, eles asseguraram lucros vultosos aos bancos. Elites que se movem pelo lucro e pelo ódio transformaram-se em capachos de multinacionais que passaram a ser donas do pré-sal. Vendem tudo por dois tostões para financiar suas festas, sem preocupação com o amanhã. Basta de continuar a explorar essa fonte inesgotável de riquezas naturais e gente que é o Brasil. Basta de se apropriarem de seiva, minérios e sangue.
Às vésperas das festas de final de ano, quando a legislação trabalhista já refluiu mais de 60 anos com o extermínio da CLT, três generosos seres — duas camponesas e um frei — iniciaram uma greve de fome pelo povo. Dignos, seus gestos gritam, mesmo que suas vozes desapareçam pela fraqueza da falta de comida. Mas somente isso não bastará para impedir que a previdência social pública seja destruída no Brasil. É hora do povo virar a mesa dos banquetes que prepara, pois os senhores do poder são insaciáveis.