Gourmetizaram até a mentira: Agora é pós-verdade!
A mentira tem perna curta, mas a pós-verdade… essa se espalha igual a um vírus, contamina tudo e todos e ameaça gravemente a democracia.
A mentira tem perna curta, mas a pós-verdade… essa se espalha igual a um vírus, contamina tudo e todos e cria um novo ambiente que ameaça gravemente a democracia.
Cabe muita mentira numa pós-verdade.
Manipular fatos, ocultar elementos importantes na hora de construir uma notícia, espalhar boatos para criar ondas favoráveis ou contrárias a determinadas teses não é uma novidade.
O que separa verdade de mentira é uma linha tênue, que muitas vezes é borrada.
Quando isso acontece, verdade e mentira se confundem, perde-se a nitidez e o debate público fica embaralhado. Nesse processo se constrói o senso comum, se cristalizam posicionamentos e perde-se a racionalidade na hora de se discutir temas fundamentais para a sociedade.
A manipulação midiática se constrói em cima dessa linha. Em certos momentos de maneira mais descarada em outros mais envergonhada. Quer mais descaramento do que a frase cunhada por Goebbels “uma mentira dita milhares de vezes se transforma em verdade”. O império de Hitler se eregiu sobre essas bases.
Claro que cabe discutir o que é verdade. Filosofia, psicologia, ciências sociais, biologia, física, química, enfim, todas as áreas do conhecimento se embrenham neste debate. Mas não é preciso ir tão longe para identificar uma mentira.
Mas na era da pós-verdade tudo ficou mais fácil.
Porque a pós-verdade é um salvo conduto para a mentira. Na verdade, ela é a própria mentira, mas de roupa nova, modernizada e com uma capacidade de viralização espantosa.
A pós-verdade está tão badalada que ganhou a honra de se transformar em verbete de dicionário. A honraria foi concedida pela Universidade de Oxford. Todo ano eles escolhem um palavra nova para acrescentar à língua inglesa. Em 2016 a eleita foi “post-truth” ou pós-verdade.
pós-verdade: adjetivo – que se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e à crenças pessoais. (tradução livre). Fonte: Oxford Dictionary (link) – https://en.oxforddictionaries.com/definition/post-truth
Ou seja, não importa qual é o acontecimento, o que importa é como você se sente perante ele.
Para tomar a decisão de incorporar o termo ao dicionário, Oxford estudou os casos do Brexit (decisão tomada na Inglaterra para sair da União Europeia) e a eleição de Donald Trump. Em torno destes dois acontecimentos explodiram as menções à pós-verdade.
Na ocasião do processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff, o termo “pós-verdade” ainda não estava tão disseminado por aqui, mas se estivesse teria superado em muito as citações dos dois casos anteriores. Mais em alta estava a frase “não tenho provas, mas tenho convicção”. Uma frase típica da “era da pós-verdade”.
E chega a ser um paradoxo que, diante de uma sociedade vigiada 24 horas por dia, onde qualquer fato pode ser checado facilmente antes de ser propagado, o que esteja prevalecendo seja a mentira.
Ou não, talvez seja exatamente o excesso de informação, que brota numa quantidade e numa velocidade tão astronômica, que nos deixa vulneráveis e incapazes de discernir o real do imaginário. Se somarmos isso à radicalização do momento político, de extremismos em todos os campos, então relaxa e… que se danem os fatos.
Assim o Brasil sofreu um golpe, enganado pela pós-verdade de que a presidenta cometera um crime de responsabilidade e que – primeiro a gente tira a Dilma e depois….. – Depois a gente se vê por ai, sem trabalho, sem aposentadoria, sem direitos sociais e trabalhistas e sob a batuta de Temer e Cia.
Aprendemos desde pequenos – e ensinamos depois para as nossas crianças – que mentir é feio.
Mas, enfim, chegou a pós-verdade para livrar a nossa pele e manter nosso nariz no lugar. Tá mais do que na hora de chamar a coisa pelo nome que a coisa tem: Mentira.