Fortes ecos do passado sussurram aos ouvidos presentes
Os últimos episódios vividos por Vinícius Júnior chamam a atenção para a distância da liberdade que pessoas negras têm para ser quem potencialmente e verdadeiramente estão preparadas para ser.
Ainda estamos longe da tão sonhada e necessária liberdade. Os últimos episódios vividos por Vinícius Júnior, o jogador do Real Madrid, aquele menino nascido ali em São Gonçalo, município do Rio de Janeiro, palco de muitas e dolorosas subtrações de direitos e de vidas, chamaram minha atenção para algumas coisas e por isso eu afirmo categoricamente, no início deste artigo e ao longo da minha trajetória, que ainda estamos de fato distantes da liberdade que nós, pessoas negras, precisamos para sermos o que potencialmente e verdadeiramente estamos preparados para ser.
Um dos pontos que chamaram minha atenção foi a capacidade de deslocamento da sociedade brasileira da sua essência racista, e digo essência porque todos os caminhos construídos até hoje para a edificação desta nação chamada Brasil foram de ciladas ininterruptas para as pessoas negras, e não menos aos povos indígenas.
Sendo assim, afirmar que a essência desta pátria é colonial e perversa, dizer que o racismo é sem dúvida algum um dos seus traços mais marcantes e mais difíceis de expurgar não é nenhum absurdo, haja vista a atitude esquizofrênica de se insurgir contra a prática racista dos espanhóis, resistir ferrenhamente à verdade incômoda e trabalhar a mudança desse paradigma nefasto.
A mesma coisa aconteceu na ocasião do assassinato de George Floyd por McGregor. Continua-se negando o racismo intrínseco à sociabilidade aqui nestas terras tropicais e acumula-se perversidades aos montes.
Isto, que se chamou perversidade, é exposto nos rumos históricos da política de Estado, ainda que pese os esforços dos movimentos sociais e as esquerdas em avançar de alguma forma, a verdade dolorosa é que essencialmente esse deve ser um caminho de transformação paradigmática aqui na terra Brasilis, do contrário não haverá resultado real, profundo e perene.
Tivemos aqui uma Constituição, a de 1934, que versava sobre a necessidade de educar a sociedade para a Eugenia, a seleção dos seres humanos com base em suas características hereditárias com objetivo de melhorar as gerações futuras. Ou seja: embranquecer o país, simples assim, com base numa progressão estatística entre 1870-1910, que mostrou o crescimento da população branca naquele período e o sonho profético, dos que se empenhavam nesse tema, de que não haveriam negros logo ali em 2012.
O termo foi criado pelo cientista inglês Francis Galton (1822 – 1911), em 1883. A palavra eugenia deriva do grego e significa “bom em sua origem ou bem-nascido”.
A Constituição mudou e, hoje, com a Constituição de 1988, a garantia da dignidade para todas as pessoas é prevista sem nenhuma concessão a isso, mas os fortes ecos do passado sussurram nos ouvidos do presente.
São Maltas e Zambelis com armas em punho caçando à luz do dia, sem nenhuma interrupção, um homem negro, chicotadas em trabalhadores exaustos na plataforma de trens da Central do Brasil e tantos outros episódios, que aqui não caberiam, mas que você que lê este artigo sabe ou já pelo menos ouviu falar, me dão a certeza de que ainda temos muito a fazer.
Bem, o segundo ponto em questão, são muitos, mas os caracteres nos limitam ou nos ensinam a ser mais objetivos, sei lá, é que em certo momento ouvimos tranquilamente que negros não servem para serem técnicos, são bons jogando e só. Viu como é tarefa das grandes?!