Foto: divulgação

Se tem uma palavra que poderia descrever Flora Cruz talvez essa palavra seja: fortaleza. Com apenas apenas 21 anos, Flora percebeu rápido que era uma mulher à frente de seu tempo, madura desde a infância. Além de enfrentar os desafios de ser mãe solo no Brasil e ter que conciliar a maternidade com uma faculdade de moda, essa potência preta ainda precisa dedicar um tempo à saúde do pai, Arlindo Cruz, cantor, compositor e um dos maiores nomes do samba e pagode nacional que, em 2017, sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC).

Como se não bastasse a rotina corrida do dia a dia, Flora ainda precisa lutar diariamente contra ataques gordofóbicos em suas redes sociais. “As pessoas se incomodam em ver um corpo feliz e capaz. Agora a gente teve a nossa medalhista Beatriz Souza no judô, que trouxe o ouro para o Brasil, e é uma mulher gorda. Sempre digo, o corpo gordo é e sempre foi capaz”, afirma, fazendo referência aos Jogos Olímpicos de Paris 2024, em que a atleta brasileira alcançou o lugar mais alto do pódio nesta modalidade. 

Mas, como disse, Flora é fortaleza e não deixa a peteca cair. Na coluna de hoje, ela fala sobre sua relação com a família, o sonho de se tornar carnavalesca e de ser uma referência para as mulheres plus size na moda brasileira.

Com vocês, a fortaleza Flora Cruz

Minha querida, nesta coluna costumamos entrevistar pessoas pretas que têm trajetórias inspiradoras, e a sua não poderia ficar de fora. Como foi amadurecer tão rápido para também poder cuidar do nosso Arlindo Cruz depois daquele episódio de AVC em 2017?

Na minha família, todo mundo diz que eu sempre fui uma criança à frente do meu tempo. Sempre fui mais pra “frentex”. Na escola, eu queria ser mãe dos meus amiguinhos, mas depois que o AVC atravessou a nossa vida, a gente foi vivendo um dia de cada vez. E o que manteve a gente em pé, vivo, forte e unido, foi a fé e o amor. O amor pelo Arlindão e o amor da família. A gente ainda vive um dia de cada vez, e obviamente a maturidade chegou e as responsabilidades. Aprendemos muito com as dores da vida, os sustos, e esse foi o maior aprendizado para mim.

O que mais nele te inspira nos dias de hoje?

Sem sombra de dúvidas a vontade que ele ainda tem de viver. A gente tem um dia ruim, chega em casa e dá uma reclamada, e aí olha para ele e ele está com o semblante em paz, às vezes dá um sorriso… e a vontade que ele tem de viver é inspiradora demais.

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Falando um pouco de beleza negra, vejo que uma pauta que você não abre mão é a da autoestima. Na sua opinião, por que as pessoas ainda se incomodam tanto com corpos gordos?

É histórico: o corpo gordo, ser gorda, nunca foi bem visto na nossa sociedade. A gente aprendeu a odiar e a menosprezar o corpo gordo. Isso é cultural. A gente vem lutando contra essa cultura da gordofobia. As pessoas se incomodam em ver um corpo feliz e capaz. Agora a gente teve a nossa medalhista Beatriz Souza no judô, que trouxe o ouro para o Brasil e é uma mulher gorda. Sempre digo, o corpo gordo é e sempre foi capaz.

Sei também que você é mãe de um lindo garotão chamado Ridan. Quais são os maiores desafios de ser uma mãe solo no nosso país?

O maior desafio de ser mãe solo no nosso país é criar um filho de bem e de caráter, firme, feliz, honesto e inteligente. A educação no nosso país é uma coisa que nós, mães, precisamos estar sempre acompanhando. As dificuldades são essas, passar para o meu filho valores que prezo na minha casa.

Quais são os seus projetos atuais e futuros, tanto no âmbito pessoal quanto profissional?

Atualmente estou terminando a faculdade de moda e estou trabalhando com a internet. Eu amo trabalhar com essas duas coisas, amo falar de moda e incentivar mulheres. Represento uma bandeira muito grande e falo para muitas pessoas, principalmente mulheres. Tenho uma troca com as minhas seguidoras que é mágica. No âmbito pessoal, acho que estou em um momento maravilhoso. Estou em paz e correndo atrás daquilo que almejo, tendo tempo com meu filhão. Estou feliz e grata por esse momento. Depois dessa luta com o AVC, as coisas estão voltando para o trilho agora, o nosso “novo normal”. Saúde mental está voltando a ficar em dia, cuidando da saúde física também. Sobre projetos futuros, quero trabalhar com moda e carnaval, já estou como assistente de criação da Rocinha para aprender a fazer carnaval de pertinho, e pretendo ser uma carnavalesca – por que não?! Na moda, quero revolucionar o quanto eu puder e conseguir o ramo plus size. Não temos uma loja popular e bacana, de departamento, por exemplo, plus size com a mesma qualidade e acessibilidade. Vou lutar por isso.

Você acha que a pauta racial avançou no Brasil?

Acredito que a pauta racial avançou sim. A gente está vivendo agora com a internet e lê muito sobre opiniões e falas importantes, a internet está propagando informações essenciais que muitos não tinham acesso, não se interessavam ou não sabiam sobre a história. A internet é um meio importantíssimo para esse avanço, um grande aliado nas nossas lutas e temos um caminho muito longo pela frente ainda. Temos muita coisa para ver acontecer e para fazer acontecer. Precisamos acreditar nesse avanço, que as nossas falas e pautas são recebidas de forma positiva para que a gente consiga acreditar nisso.

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Qual legado gostaria de deixar?

Amor e união, que é o que a minha família mais tem. Dentro do âmbito profissional, quero incentivar mulheres e ser lembrada como uma porta-voz da autoestima, autoconhecimento e felicidade da mulher, de mostrar que as mulheres são capazes. Quero ser lembrada como uma pessoa que lutou e luta todos os dias por nós, mulheres, que estamos aos poucos conquistando nosso devido lugar e sabemos que ainda tem muito caminho pela frente. Gostaria de ser lembrada por emanar amor, de ser uma mãe bacana para o meu filho, de ser uma boa filha e por somar com o movimento plus size no Brasil.