Por Michelle Nunes para cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube

Além da ideia de democracia nas pólis, antigas cidades gregas, a Grécia Antiga também foi berço dos primeiros Jogos Olímpicos, no ano 776 a.C. A dominação masculina notável na totalidade dos aspectos estruturais não deixaria de marcar presença no evento, afinal mulheres não eram permitidas nem mesmo nas arquibancadas. Por sua vez, o questionamento acerca da participação feminina direta e esportiva não encontrava brechas para existir.

Sabemos que muitas foram sacrificadas para que hoje pudéssemos gritar por Formiga em Tóquio. Que dirá por Laurel Hubbard, primeira mulher trans a participar da competição. Conquistas suficientes? Uma utopia. Ainda estamos muito longe, tal qual os 2.4 milhões de seguidores de Marta se distanciam dos R$ 155 milhões de Neymar.

Incompatibilidade ou temor?

No Brasil, o decreto-lei nº 3.199, de 1941 (Estado Novo, Vargas), exemplifica o fato de que continuávamos oprimidas aos moldes dos primeiros Jogos, na Grécia:

“Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país” (Art. 54).

Clássica reflexão da industrialização capitalista, a “incompatibilidade biológica” clássica e pautada no conservadorismo não seria fator desestimulante para as atletas brasileiras. A organização de várzeas e manifestações pedindo equidade no esporte eram recorrentes, mesmo após o golpe militar de 1964.

No cenário internacional, o ano de 1900 foi o primeiro no qual mulheres puderem participar das Olimpíadas (em modalidades limitadas) na cidade de Paris, na França. Como já é de costume na História, a liberação chegou com atraso ao território brasileiro, que só revogou o decreto supracitado em 1979. Entretanto, as mulheres só detiveram participação em todas as modalidades no ano de 2012, nas olimpíadas de Londres, ou seja, há pouco menos de 10 anos atrás.

No sistema capitalista, as mulheres também são vistas como propriedade privada e, por isso, percebe-se que não é só sobre esporte, mas também sobre luta e política. Isso posto, chegamos em 2021, com a problemática vista por muitos como “resolvida”.  

Não é bem assim. Os baixíssimos índices de patrocínio e reconhecimento do esporte feminino não são elementos reservados à nossa pátria, no momento nem tanto amada, conhecida como o país do futebol. Ao redor do globo, mulheres ainda precisam provar seu talento incansavelmente. Por que o Brasil só para quando o futebol masculino joga?

Por último, mas definitivamente importante, é indispensável destacar o talento da seleção feminina. Além de ser invicta em estreias, 7 vezes campeã da Copa América Feminina, suas 10 melhores artilheiras somam 400 gols. 

Que as meninas nos tragam o ouro, mas que levem pro mundo a certeza de que, apesar de tudo, da Grécia Antiga ao brasil de 2021 (com letra minúscula), ainda resistimos.