Especial Brazil Conference: Um papo com Luana Escamilla, do Fluxo Sem Tabu

A ONG combate a pobreza menstrual e o tabu, promovendo conscientização e apoio a meninas e mulheres.

Nos dias 12 e 13 de abril, acontece a Brazil Conference, um evento promovido por estudantes brasileiros em Boston para atrair o olhar do mundo para o Brasil e impulsionar a economia e o desenvolvimento do país. Para conhecer melhor os embaixadores da edição deste ano, a coluna irá conversar com todos eles até o início do evento para promover diálogo com os brasileiros que irão fomentar inovação em Harvard e MIT. 

No papo de hoje, vamos conhecer melhor a trajetória de Luana Escamilla, fundadora do projeto social Fluxo Sem Tabu. A ONG combate a pobreza menstrual e o tabu em torno da menstruação, promovendo conscientização sobre os desafios enfrentados por meninas e mulheres. “A primeira vez que falei publicamente sobre pobreza menstrual foi em 13 de outubro de 2020. Eu tinha 16 anos, estava no segundo ano do ensino médio e, naquele dia, fundei o Fluxo Sem Tabu. Um mês antes, em setembro, me deparei pela primeira vez com o termo “pobreza menstrual” no documentário Absorvendo o Tabu, vencedor do Oscar em 2019, e me indignei ao perceber que ninguém ao meu redor falava sobre isso. O silêncio refletia o constrangimento e a falta de políticas públicas para um problema que afeta milhões de mulheres”, conta. 

Mas Luana não ficou inerte diante do problema, pois ela sabia que a falta de diálogo era também um dos principais gargalos para a falta de ação. Então ela foi para a internet fomentar o assunto e criar uma rede engajada neste sentido.

“Decidi agir criando um site e um Instagram para dar voz ao tema e mobilizar uma vaquinha para ajudar 700 mulheres em Carapicuíba. Comecei sozinha, sem investimento ou experiência, conciliando o projeto com a escola. Voltava do cursinho, ia ao atacado com meu pai à noite para comprar e montar os kits e, nos intervalos, produzia conteúdos no TikTok. Graças a outras meninas de 16 anos que começaram a acompanhar o Fluxo Sem Tabu, transformamos as 700 pessoas que eu inicialmente queria ajudar em 26 mil em todo o Brasil”, celebra.

Com vocês, Luana Escamilla!

André Menezes: Poderia nos contar um pouco mais sobre o projeto específico que a levou a ser selecionado para a Brazil Conference? O que torna esse projeto especial e qual é o seu impacto na comunidade?

Luana Escamilla: O Fluxo Sem Tabu é uma ONG que combate a pobreza menstrual e o tabu em torno da menstruação, promovendo conscientização sobre os desafios enfrentados por meninas e mulheres. Por meio de ações educativas, distribuição de absorventes e espaços acolhedores, buscamos garantir o acesso a produtos de higiene menstrual, combater a exclusão social e melhorar as condições de saúde e educação das mulheres. Sempre busco soluções criativas e de impacto para combater a pobreza menstrual. 

Entre essas iniciativas, destaco a vending machine de absorventes, uma máquina que oferece produtos menstruais gratuitamente para mulheres em situação de vulnerabilidade. Temos também uma preocupação gigantesca com a conscientização. Produzimos materiais educativos, organizamos palestras com especialistas e realizamos projeções que levam dados sobre a pobreza menstrual para as ruas, por exemplo. Mas talvez a nossa maior força seja nossa capacidade de mobilizar jovens e mostrar que meninas podem, sim, fazer grandes mudanças acontecerem. Hoje, somos uma comunidade de 280 mil pessoas, predominantemente jovens, que acreditam na transformação social e se dedicam a promovê-la. Muitas meninas, inspiradas pelo projeto, mencionam o Fluxo Sem Tabu em seus TCCs, iniciam seus próprios projetos, escrevem redações e compartilham nossa mensagem pelas ruas. Esse impacto, que vai além do engajamento, revela a força de uma geração comprometida em construir um mundo melhor para todos.

AM: Quais foram os maiores desafios que você enfrentou ao longo do seu trabalho e como conseguiu superá-los?

LE: Sem dúvida, um dos maiores desafios que enfrentei foi a dificuldade de fazer as pessoas levarem a sério uma menina de 16 anos falando sobre menstruação na internet. O tabu que envolve a menstruação já é grande por si só, e quando você é jovem e mulher a chance de alguém te ouvir é menor. Eu aprendi então a usar a minha juventude como uma força, algo que me conecta com outras meninas que também querem mudança, e assim deixei de me sentir sozinha.

AM: Quais inovações ou mudanças você gostaria de implementar em sua organização nos próximos anos para aumentar o impacto social?

LE: Gostaria de chegar em lugares de mais difícil acesso, levando informação e dando voz para histórias que permanecem não ouvidas. Quero que o Fluxo seja cada vez mais um espaço seguro e sem tabus. Quero um mundo mais acolhedor para as mulheres e mais atencioso com as nossas necessidades.

AM: O que você espera aprender ou vivenciar na Brazil Conference em Harvard e MIT, e como pretende aplicar essa experiência em seu trabalho no Brasil?

LE: Levar o tema da pobreza menstrual para Harvard é, sem dúvida, um sonho que a Luana de 16 anos jamais imaginaria. Na Brazil Conference, espero aprender com pessoas que admiro sobre como transformar ainda mais ideias inovadoras em soluções de impacto real. Esta experiência será fundamental para aprimorar nosso trabalho, expandir nosso alcance e desenvolver mais iniciativas que façam a diferença na vida das mulheres no Brasil. O que mais me inspira é a oportunidade de conectar, trocar conhecimentos, entender dores e conquistas, e aprender com os erros e acertos de pessoas que sempre admirei.

__

Leia outras entrevistas com os embaixadores da Brazil Conference 2025