Em SP, Lula amplia votação do PT em todas as cidades. Bolsonaro perde votos em 3 a cada 4 municípios
Por ser o estado com maior número de votos do país, os candidatos tendem a concentrar seus esforços em SP
Por Otávio Z. Catelano, Andressa Z. Rovani e Fabíola Brigante Del Porto
Entre as eleições de 2018 e 2022, o estado de São Paulo ganhou mais de 1,6 milhão de novos eleitores, totalizando 34,6 milhões de cidadãos aptos a votar atualmente – o que representa cerca de 21% do eleitorado brasileiro. No primeiro turno da disputa presidencial de 2022, o estado registrou 23,4 milhões de votos válidos, sendo 47,7% para Jair Bolsonaro (PL) e 40,9% para Lula (PT).
Por ser o estado com maior número de votos do país, os candidatos tendem a concentrar seus esforços em SP. A campanha de Lula, por exemplo, tentou reverter a baixa votação do candidato petista de 2018, Fernando Haddad – o agora candidato ao governo do estado que disputou a Presidência da República pelo PT. Na última eleição, Haddad testemunhou uma disparada de Bolsonaro entre os eleitores do estado.
Como resultado, Lula conquistou 6,6 milhões de votos paulistas a mais que Haddad em 2018. Somente na capital do estado, o ex-presidente teve quase 28% de votos a mais que o ex-prefeito – cerca de dois milhões de votos de diferença. Já São José do Barreiro, uma pequena cidade próxima à divisa com o Rio de Janeiro, foi a cidade em que a diferença de votos petistas mais cresceu. Em 2018, Haddad havia conquistado 17,6% dos votos barreirenses, enquanto neste ano Lula alcançou 55,3%.
Observando o restante dos municípios, Lula conquistou porcentagens maiores que Haddad em 100% do estado. Apenas em Barra do Chapéu (+3,3%) e Barra do Turvo (+9,2%) o crescimento registrou taxa menor que dez pontos percentuais. Em pelo menos 384 cidades, o ganho foi de 20 pontos ou mais. Entre esses, destaca-se Pindamonhangaba, a cidade de Geraldo Alckmin, onde Lula angariou 22.578 votos a mais do que Haddad em 2018 – uma diferença de 24%. Também chama atenção o aumento de 22,7% de votos em São José dos Campos (101.929 votos a mais), a cidade escolhida como domicílio eleitoral de Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Apesar de ter mantido sua vitória no estado de São Paulo, Bolsonaro viu seu apoio encolher: o candidato à reeleição saiu do primeiro turno com 138 mil votos a menos do que conquistou em 2018. Considerando apenas a capital, a perda foi de cerca de 217 mil votos, compensada com alguns pequenos ganhos no interior. Dos 645 municípios do estado, Bolsonaro conquistou novos eleitores em relação ao primeiro turno de 2018 em apenas 150 – ou uma a cada quatro cidades paulistas. Mesmo nessas cidades, o crescimento é pequeno. Os aumentos mais expressivos foram nas cidades de Barra do Chapéu (+14,7%, 544 votos), Itaoca (+13,5%, 322 votos) e Ribeirão Branco (+10,6%, 1.181 votos).
Em Saltinho, a cidade mais bolsonarista do estado, o presidente alcançou 75,8% dos votos no primeiro turno. Entretanto, mesmo lá, sua porcentagem caiu 1,5% em relação à votação em 2018. Além disso, Bolsonaro perdeu votos em todas as cidades paulistas que registraram mais de 100 mil votos válidos em 2018, mesmo naquelas em que conquistou um número expressivo de votos, como é o caso de Piracicaba (64% em 2018 e 61% em 2022).
Em um segundo turno apertado, cada voto faz a diferença. Mesmo conquistando menos votos em SP do que Bolsonaro, não faltam motivos para que a campanha de Lula veja com bons olhos os resultados do primeiro turno no estado.
Otávio Z. Catelano – Doutorando em Ciência Política pela Unicamp e pesquisador do Cesop-Unicamp no Observatório das Eleições 2022 (INCT IDDC)
Andressa Z. Rovani – Doutoranda pela Unicamp e pesquisadora do Cesop-Unicamp no Observatório das Eleições 2022 (INCT IDDC)
Fabíola Brigante Del Porto – pesquisadora do Cesop-Unicamp e do Observatório das Eleições 2022 (INCT IDCC)
Esse artigo foi elaborado no âmbito do projeto Observatório das Eleições 2022, uma iniciativa do Instituto da Democracia e Democratização da Comunicação. Sediado na UFMG, conta com a participação de grupos de pesquisa de várias universidades brasileiras. Para mais informações, ver: www.observatoriodaseleicoes.com.br.