Doria recria programa de trabalho para usuários de crack que criticou durante campanha
Apesar de apresentar como novidade, Doria criou programas iguais ao da antiga gestão, que ele chamou de “bolsa crack” e “de braços abertos com a morte” durante campanha.
A partir do próximo dia 31/03, a Prefeitura de São Paulo vai encerrar o pagamento da chamada “bolsa varrição”, recebida por usuários de crack beneficiários do programa De Braços Abertos. Em seu lugar virá a novidade Trabalho Novo, programa criado pela gestão de João Doria (PSDB).
Este projeto vai gerar renda e trabalho para 300 pessoas, inclusive para os cerca de 290 atualmente participantes do De Braços Abertos. Ele será divido em três cargas horárias: 4h de atendimento psicológico, 8 horas de formação profissional e 4 horas vão integrar uma frente de trabalho, que ainda não foi definida. Os integrantes vão receber até R$ 667,00 mensais.
Apesar de se apresentar como novidade, o programa tem a mesma estrutura do antecessor, ao qual o atual prefeito chamou de “bolsa crack” e “de braços abertos com a morte” durante campanha. O projeto encerrado dava uma bolsa de até R$ 500,00 mensais pelo trabalho de varrição nas ruas do centro e de dois bairros na periferia de São Paulo, oferecia moradia social, acompanhamento psicológico e formação profissional em diversas áreas. Exatamente como o “novo”.
Em entrevista ao Jornal Metrô, a Secretária de Trabalho e Empreendedorismo, Aline Cardoso (PSDB) criticou a gestão do Programa Operação e Trabalho, operado pela Organização Social, Adesaf, responsável por coordenar o De Braços Abertos. Cardoso apontou que não há fiscalização e que não é exigida frequência mínima de trabalho para recebimento dos salários.
A organização exigiu explicações da secretária em ofício enviado no último dia 20/03, em que fez uma série de críticas à condução do atual programa.
“Reconhecido o sucesso do DBA, [a Prefeitura] tenta promover um programa que tem, exatamente, o mesmo perfil de oferta de bolsa para pessoas em situação de vulnerabilidade social que atuam em frentes de trabalho (…). Ora, o que é isso senão a mesma iniciativa travestida, batizada de um novo nome? Isto é tentar ludibriar a imprensa e a sociedade”, afirma o documento.
Em respostas às críticas ao pagamento, a OS argumenta que técnicos da prefeitura, indicados pela Secretaria de Trabalho, acompanham os pagamentos, que são realizados todas as quintas-feiras. Além disso, que o valor dos pagamentos é proporcional aos dias trabalhados.
Na reportagem, Cardoso aponta que o “programa tem um objetivo claro, que é o de aumentar a empregabilidade destes usuários” e crítica a tolerância ao consumo de drogas. “Há casos de participantes que continuam usando crack de cinco a sete dias por semana. Não é possível esperar que sejam absorvidos pelo mercado de trabalho”.
A política de redução de danos, adotada pelo governo na criação do De Braços Abertos, no entanto, tem o objetivo de diminuir os riscos que a pessoa causa a si e a sociedade, e como consequência, aumentar a sua empregabilidade, ou capacidade de criar uma iniciativa empreendedora. Ou seja, seu objetivo principal não é a empregabilidade. Muito menos a abstinência do beneficiário.
“Em uma tentativa desastrosa, a Administração Municipal incluiu os beneficiários no programa Trabalho Novo. Dos 63 beneficiários que foram convocados pela Prefeitura para sensibilização deste programa, 37 concluíram o curso. Destes 37, 11 foram encaminhados para os processos de seleção das empresas parceiras do Trabalho Novo. Dos 11, apenas 4 foram contratados. E os 4 não passaram do período de experiência. Dados estes que reforçam que o Trabalho Novo não se aplica ao perfil público-alvo do De Braços Abertos: pessoas em situação de rua que fazem uso crônico / abusivo de substâncias psicoativas, agravando ainda mais o sentimento de frustração dos beneficiários”, aponta o documento.
Os resultados dos dois programa mostram que, apesar da mudança estética, as políticas aplicadas pela prefeitura tem gerado a piora dos serviços. Isso ficou claro com a polêmica criação do projeto Redenção, que será o principal vetor de atendimento à população que faz uso abusivo de drogas.
A princípio o programa seria apenas para abstinência, mas com os resultados positivos da política de redução de danos do De Braços Abertos, e as desastrosas ações na Cracolândia, a prefeitura foi obrigada a fazer alterações, incluindo por exemplo o trabalho remunerado, com o Trabalho Novo.
O coordenador do Redenção, Osmar Guerra, declarou que é preciso mesclar os dois modelos. Para ele a prefeitura atropelou a ideia inicial do programa, que sempre teve como diretriz a redução de danos.
Neste período, a Prefeitura vem fechando uma série de moradias sociais de beneficiários do De Braços Abertos. Até agora, dois dos oito hotéis foram fechados, ambos no centro, e cerca de 94 pessoas foram enviadas para moradias provisórias e para os Centros Temporários de Acolhimento (CTA), estruturas de contêineres que atendem pessoas em situação de rua.
Muitos voltaram para as ruas e regrediram em seus tratamentos, realidade que o governo ignora. A Secretaria de Desenvolvimento e Assistência Social, na figura do seu chefe de gabinete, José Castro, disse que todos os prédios serão fechados e os beneficiários deslocados para outros programas.