Por Felipe Conte para a Cobertura Colaborativa NINJA Esporte Clube 

Bola vai, bola vem. Entre um saque e outro, ele enxuga o suor sob o calor escaldante da terra do sol nascente. Uma semana atrás, o sonho era apenas uma miragem no horizonte. Distante cerca de 18.800 km a oeste de onde o tenista de 32 anos cresceu, em Caxias do Sul, na região da serra gaúcha. Somente na quinta-feira da semana passada (15), é que veio a confirmação da vaga para os Jogos Olímpicos de Tóquio. A desistência de algumas duplas colocou Marcelo Demoliner na chave olímpica e deu a ele a chance de representar o Brasil fazendo o que mais ama.

O tênis apareceu na vida do pequeno Demoliner aos três anos de idade quando, na companhia do pai Juliano, desenhava no saibro e brincava de rebater bolas. Desde cedo, aprendeu a devolver com voleios os desafios que a vida apresenta. Saiu de casa aos 14 com uma raquete nas costas e com o objetivo de atingir o top100 do mundo. Mudou-se para Camboriú, em Santa Catarina, estado que revelou Guga, o maior tenista brasileiro. A mãe, Gisa, sofria com a falta dele por acreditar que o filho não estava pronto para se virar sozinho. Mas as escolhas do gaúcho, com o apoio da família, fizeram Marcelo crescer, atingindo os 1m93cm de estatura e alcançando o número 34 do mundo no ranking de duplas da Associação de Tenistas Profissionais (ATP, em inglês), em 2017.

Marcelo Demoliner, aos 32 anos, chega para disputar a primeira Olimpíada da carreira. Foto: Gisa Fedrizzi / Divulgação

Conforme as vitórias não vinham no simples, o tenista desempenhava bom papel nas duplas. No ano da melhor colocação no ranking (2017), ele jogava ao lado do australiano Marcus Daniell, com quem conquistou quatro vice-campeonatos de torneios ATP 250. O brasileiro chega a Tóquio como 52° do ranking de duplas. Neste ano, teve como parceiro o mexicano Santiago Gonzáles e também atuou ao lado do russo Daniil Medvedev, atual número 2 do ranking de simples. 

O principal parceiro na trajetória de esportista, no entanto, já não está mais presente na vida de Marcelo. O avô, Raul Fedrizzi, perdeu a luta contra o câncer aos 85 anos em setembro, meses antes de poder acompanhar o desafio olímpico. Grande apoiador, ele enchia a boca de orgulho para falar do neto. “Meu avô era o meu maior fã e tenho certeza de que ele está acompanhando tudo o que está acontecendo lá de cima”. Mesmo sozinho, Demoliner pensa na família como combustível para o desempenho nas quadras japonesas. “Chegar na Olimpíada é um sonho não só meu, mas dele e de toda minha família. É uma conquista nossa. Agora que a chance chegou, vou dar tudo de mim nas quadras”, complementa.

Empresário de reconhecida história em Caxias do Sul, Raul Fedrizzi, esteve presente nas conquistas do neto. Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação

Ninguém disse que seria fácil. O sorteio de chaves, realizado na última quarta-feira (21), colocou Demoliner e a dupla, o mineiro Marcelo Melo, diante dos líderes do ranking mundial e atuais campeões de Wimbledon, os croatas Nikola Mektic e Mate Pavic. “O meu maior aprendizado é que você precisa dar tudo de si para atingir seus sonhos. Eu não esperava estar disputando essa Olimpíada, mas a convocação veio de última hora e aqui estou, no Japão, vivendo esse sonho que tenho desde criança”, conta. Sob o olhar atento do avô e com o apoio da torcida brasileira, o caxiense estreia hoje (23) às 23h, no horário de Brasília.