Discutir porte de armas em meio à tragédia não é palanque; é responsabilidade
Os defensores de Bolsonaro nos acusam de “aproveitarmos a tragédia para fazermos palanque”. Não. Estamos debatendo, com fortes argumentos, o incentivo das ideias de Bolsonaro a atos extremos de violência.
Dois assassinos fortemente armados entram numa escola e massacram alunos e professores.
Uma das propostas de Bolsonaro é a flexibilização do porte de armas. O símbolo da campanha é o sinal de arma. Toda a família defende ostensivamente o discurso da violência como solução para crise de segurança (bandido bom é bandido morto etc.). Defende também armar a população.
Bolsonaro defende as armas para solução de quase todos os problemas.
Estupro? Arma. Feminicídio? Arma. Criminalidade? Arma. E mesmo depois da tragédia de Suzano, qual solução foi apontada por um senador bolsonarista? Arma, para professores e servidores.
Nunca em nosso país se falou tanto em armas. Nunca se promoveu tanto a violência como solução para o país.
Um dos assassinos era defensor de Bolsonaro e de suas ideias. Como seu ídolo Bolsonaro, também defendia as armas como solução para os problemas.
Pois bem. O problema dele era ter o rosto com espinhas e ter sofrido bullying por isso. Abandonou o colégio.
O seu ícone nunca defendeu a educação. Ao contrário, qualifica constantemente os professores como mal da sociedade brasileira e culpados de uma suposta “doutrinação”.
Seu ícone nunca defendeu o diálogo como forma de solução de problemas. Ao contrário, sempre ridicularizou os discursos pacifistas e as medidas de conciliação.
Seu ícone defendia as armas para solução de problemas.
E essa foi a solução que ele encontrou para seu problema. Não foi se aceitar. Não foi voltar para o colégio. Não foi buscar ajuda dos professores para lidar com o bullying.
Foi entrar no colégio armado até os dentes, tirar vidas inocentes com requintes de crueldade e depois, seguindo a própria ideologia, executar o assassino, que era ele mesmo.
Ao apontarmos isso, os defensores de Bolsonaro nos acusam de “aproveitarmos a tragédia para fazermos palanque”.
Não. Estamos debatendo, com fortes argumentos, o incentivo das ideias de Bolsonaro a atos extremos de violência.
Infelizmente, a tragédia de Suzano pode ser apenas um exemplo do equívoco da ideologia armamentista defendida por Bolsonaro. Mas temos sinais de que poderemos ter muitos outros. Afinal, proliferam Guilhermes Tauccis nas redes sociais.
No lugar de nos acusarem levianamente de fazer palanque, tentem contra-argumentar.
Tentem defender o projeto de flexibilização do porte de armas e chorar pela tragédia em Suzano sem parecerem hipócritas ou loucos.