Desejo, consumo, compulsão destrutiva: é sobre CO₂, mas também é sobre prazer
Consumo destrutivo é também prazer: a crise climática é libidinal, não só material
Chris Zelglia. da Cobertura Colaborativa NINA na COP30
A crise climática geralmente é vista apenas através de dados: quantidades de dióxido de carbono, gráficos relacionados ao aquecimento do planeta e metas de redução. No entanto, além das emissões, existe uma camada mais complexa e desconfortável: a dinâmica subjetiva que mantém o consumo excessivo. Nós não geramos apenas poluição, geramos significados, sonhos, satisfação e prazer.
Na perspectiva neoliberal, o consumo deixou de ser uma ação prática para se transformar em um desejo afetivo. O indivíduo moderno é levado a almejar sempre mais, como se a sensação de plenitude fosse alcançada assim que o próximo item fosse finalmente adquirido. Por isso, a devastação ambiental não pode ser analisada somente sob a ótica econômica: ela também atua na esfera psíquica.
Freud trouxe à tona a ideia da pulsão de morte, destacando que existe uma forma de busca por satisfação que não é voltada para o bem-estar, mas para a repetição, mesmo que essa seja destrutiva. Lacan descreve o gozo como um elemento excessivo, aquilo que vai além da necessidade e se assemelha à perda. O consumo atual opera exatamente nesta linha: é uma busca interminável que impulsiona economias, algoritmos e a vida das pessoas.
Portanto, ao falarmos de dióxido de carbono, estamos também falando de gozo. O que nos motiva a querer bens que sabemos serem fabricados por cadeias extrativas danosas? Por que aceitamos a noção de que progresso é igual a consumo sem limites, mesmo em um planeta com recursos finitos? A psicanálise aponta que a questão climática vai além do aspecto tecnológico ou político: é também uma questão de libido.
A compulsão destrutiva não é apenas uma questão individual, é incentivada socialmente, influenciada pela publicidade e conveniente para os interesses políticos. Enquanto as pessoas buscam satisfação através do consumo, evitam lidar com o vazio, a ansiedade e a carência. Enquanto isso, rios secam, florestas ardem e cidades enfrentam crises.
Se modificarmos apenas os aspectos físicos, sem abordar as formas de desejo, continuaremos a repetir o mesmo ciclo. Não podemos enfrentar a crise climática sem confrontar nossas maneiras de buscar prazer e nossas ilusões sobre o que desejamos e por quê.
A transição ecológica, portanto, requer mais do que apenas inovações tecnológicas: demanda novas maneiras de desejar. A questão não se resume apenas a como diminuir as emissões?, mas também a que tipo de pessoa queremos ser em um mundo em risco?
A solução não estará somente na política ambiental, mas na política do desejo.