Por Tácio Santos para a cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube

O Corpo na Grécia Antiga como o Corpo do Atleta

As medidas dos atletas que competiram na primeira edição dos Jogos Olímpicos na Era Moderna, em 1896, são desconhecidas. Contudo, as fotografias que resistiram ao tempo indicam que a maioria deles apresentavam um mesmo tipo corporal, independente da modalidade que disputavam. Até porque quase todos eram atletas amadores generalistas que competiram em mais de um esporte.

Este tipo corporal que representa a maioria dos primeiros atletas olímpicos é um dos vários caracteres das Olimpíadas que remetem à Grécia Histórica, conforme demonstrou um estudo realizado à época por Charles Bemies. Ele documentou as medidas de atletas de sucesso e as comparou tanto com a população de pessoas fisicamente ativas em geral, como com as regras de proporção corporal utilizadas em escolas de arte para remontar as esculturas gregas. Bemies observou que o tipo corporal dos atletas de sucesso era similar àquele das estátuas clássicas, enquanto o mesmo não acontecia com os praticantes de atividade física em geral.

Jogo de basquete nas Olimpíadas, 1924. Atletas mais baixos que o padrão da atualidade. Foto: The Official Report of the Olympic Games of Paris 1924

O Big Bang dos Tipos Corporais

Entretanto, conforme os Jogos Olímpicos se expandiram, a homogeneidade de tipos corporais diminuiu. Dados do Comitê Olímpico Internacional (COI) mostram que o número de atletas, de países e de esportes aumentou consideravelmente ao longo do Século XX, havendo também a inclusão de atletas do sexo feminino. Paralelamente, o peso e a estatura dos atletas passou a variar enormemente de uma modalidade para a outra, conforme demonstra um amplo estudo realizado por Kevin Norton e Tim Olds. E ao contrário do que possa parecer, isto não ocorreu apenas por uma questão probabilística devida à maior quantidade de pessoas.

Nos esportes cujos atletas eram apenas ligeiramente mais altos que a população em geral no ano de 1900, ocorreu um aumento de estatura vertiginoso até o ano 2000, enquanto nas modalidades com atletas apenas um pouco mais baixos no início do século, a altura média diminuiu década a década. O mesmo ocorreu com o peso corporal, ou seja, os pesados ficaram mais pesados e os leves ficaram mais leves. Este fenômeno ficou conhecido como Big Bang dos Tipos Corporais, pois como nas representações gráficas do big bang que deu origem ao universo, os dados de peso e estatura de atletas partiram de um mesmo ponto inicial e avançaram em direções diferentes.

Perikles Kakousis ganhou medalha de ouro no halterofilismo (que viria a se tornar o levantamento de peso olímpico) nos Jogos de St. Louis, em 1904. Foto: Divulgação / Wikipedia

Um Novo Big Bang dos Tipos Corporais no Século XXI?

A diversidade de tipos corporais não se deu exatamente por incentivo, apoio e desenvolvimento do esporte para todos, como o COI divulga como sendo sua missão. Tão pouco, foi pelo efeito da prática sobre o corpo das pessoas, como se jogar basquete as deixasse mais altas, e praticar ginástica as fizesse mais baixas. O fato é que os Jogos Olímpicos alcançaram um nível de exigência tamanho, que apenas pessoas com um conjunto de características físicas específico, que lhes confere alto rendimento em certo esporte, pode atender. E mesmo assim, para fazê-lo, deve conseguir se dedicar integralmente a um único esporte, e em nível profissional.

Por outro lado, mesmo que o Big Bang dos Tipos Corporais não tenha ocorrido para integrar mais pessoas aos Jogos Olímpicos, pessoas que a sociedade insiste em não integrar conseguiram se classificar para Tóquio 2020. Esta edição dos jogos tem a maior proporção de mulheres da história, além de maior quantidade de atletas refugiados, e atletas assumidamente homossexuais, transexuais e não-binários. Esperamos que este seja o início de um novo Big Bang dos Tipos Corporais, mas um big bang que leve não apenas à diversidade em aspectos biológicos, mas também à diversidade em aspectos sociais.