Da Bahia para a eternidade, Isaquias Queiroz fez história em 2016 e busca deixar sua marca em Tóquio
Maior canoísta brasileiro de todos os tempos pode se tornar o brasileiro com mais medalhas olímpicas na história
Por Matheus Victor para a cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube
Recordista de medalhas entre atletas brasileiros em uma única edição de Olimpíadas, esse feito foi conquistado por Isaquias Queiroz em 2016, em pleno Rio de Janeiro, com torcida e tudo. Hoje, no alto de seus 27 anos e mais experiente, o baiano é uma das esperanças de medalhas do Brasil.
Naquela oportunidade, Isaquias estreou nas olimpíadas e subiu no pódio em três oportunidades, duas vezes solo, sendo prata no C1 1000m e bronze no C1 200. Já ao lado de Erlon de Souza, sua dupla naquela olimpíada e durante sete anos, conquistou outra prata na prova C2 1000m.
Diferente do Rio, em Tóquio, Isaquias competirá apenas em duas provas, C1 1000m e C2 1000m, que por vez terá outro parceiro, já que Erlon de Souza não conseguiu se recuperar de uma lesão no fêmur. A dupla de Queiroz no Japão será Jacky Goldman, atleta de apenas 22 anos e que curiosamente é da mesma cidade que Isaquias, Ubaitaba, e também é parceiro de clube, os dois pertencem ao Flamengo. Os dois remaram juntos em uma prova em maio deste ano, naquela oportunidade, diante de quase todas as principais duplas da modalidade, eles conquistaram a medalha de bronze.
Infância Difícil
O pai de Isaquias morreu quando o atleta tinha apenas dois anos, dessa forma, o baiano e outros nove irmãos foram criados apenas por sua mãe. Aos três anos Isaquias passa por seu primeiro obstáculo. Uma panela com água quente o atinge, e queima grande parte de seu corpo, o ainda garoto precisou ficar internado por um mês e sua mãe ainda chegou a ouvir do médico, que seu filho não ia conseguir sobreviver.
Porém, contrariando a previsão médica, Isaquias sobreviveu, se recuperou e continuou sua vida rumo à glória. Mas antes disso, deu um outro susto em sua família. Com dez anos, o curioso menino subiu em uma árvore para ver uma cobra morta que estava pendurada em um galho. Durante a escalada o garoto perdeu o equilíbrio, caiu em cima de uma pedra, sofreu hemorragia interna e precisou retirar um dos rins.
A vida de Queiroz começou a mudar quando em 2005 conheceu o Projeto Segundo Tempo, que promovia a inserção de jovens em várias modalidades esportivas, uma delas é a canoagem.
Após seis anos do início do treinamento, Isaquias tornou-se o primeiro brasileiro a ser campeão mundial júnior de canoagem. O baiano conquistou o ouro no C1 200 e a prata no C1 500. O futuro da cria de Ubaitaba era promissor, e colocavam muita expectativa nele.
Curiosamente, o nome da cidade de origem do atleta, remete ao esporte que ele pratica, o nome Ubaitaba vem de uma união dos vocábulos indígenas ubá (Canoa pequena), y (rio) e taba( aldeia, cidade). A cidade baiana é considerada o celeiro da canoagem.
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Um presente de sucesso
A promessa Isaquias Queiroz vinga. Treinado pelo espanhol Jesús Morlán, o brasileiro conquistou um desempenho satisfatório e acumulou medalhas durante a carreira. Morlan infelizmente morreu em dezembro de 2018, mas mesmo assim Isaquias segue a rotina de treinamentos de seu antigo treinador. Acontece que o espanhol deixou salvo em um computador esse planejamento de treinos, e hoje o atleta brasileiro e seu novo treinador o usam como referência. Apesar de ser atleta do Flamengo, Queiroz também mantém sua rotina de treinos em Lagoa Santa, município de Minas Gerais.
Atleta destaque e líder da canoagem brasileira, Isaquias e seus colegas boicotaram um evento teste das olimpíadas de 2016. Os atletas estavam a oito meses sem receber do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) , patrocinador da canoagem brasileira. Naquela oportunidade, Isaquias usou sua voz em prol de seus companheiros e afirmou que “Uma das causas da nossa decisão é o respeito que se deve ter por um atleta. É a nossa forma de protestar”.
E não era a primeira vez que o atual campeão olímpico protestava por reconhecimento e incentivo a atletas de canoagem. Em 2013 o brasileiro conquistou um ouro (C1 500m) e um bronze (C1 1000m) no Mundial de Canoagem, e foi no Facebook desabafar pela falta de incentivo financeiro, chegou até cogitar abandonar o esporte. Felizmente isso não ocorreu, e hoje Isaquias é uma das esperanças de ouro em Tóquio. E caso o baiano torne a subir no pódio por mais duas vezes, se tornará o brasileiro com mais medalhas olímpicas, ao lado dos velejadores Robert Scheidt e Torben Grael.
Além das três medalhas olímpicas, Isaquias acumula 12 medalhas em mundiais e quatro medalhas em pan-americanos.
Isaquias Queiroz em mundiais
Duisburg 2013
• C1 500 (ouro), C1 1000 ( bronze)
Moscou 2014
• C1 500 (ouro), C1 200 (bronze)
Milão 2015
• C2 1000 (ouro), C1 200 (bronze)
Racice 2017
• C1 1000 (bronze)
Montemor-o-Velho
• C1 500 e C2 500 (ouro), C1 1000 (Bronze)
Szeged 2019
• C1 1000 (ouro), C2 (bronze)
Isaquias Queiroz em Pan-Americanos
Toronto 2015
• C1 1000 (ouro), C1 200 (ouro) e C2 1000 (prata)
Lima 2019
• C1 Lima 2019 (ouro)