Construções do racismo nosso de cada dia
O discurso que defendia a inferioridade dos negros no Brasil começou no período de colonização e até hoje discursos racistas e tratamentos diferentes permanecem recorrentes no nosso país.
Pela Estudante NINJA Isabelle do Vale, 17 anos
O discurso que defendia a inferioridade dos negros (ainda ligado a questões morais e ideológicas) começou no Brasil no período de colonização, quando os europeus não só escravizaram os africanos mas também desenvolveram um discurso eurocêntrico, em que a superioridade do branco era afirmada diante dos povos negros, para justificar a exploração.
Na contemporaneidade, nota-se uma substancial mudança em relação aos espaços ocupados por negros, no entanto, discursos racistas e tratamentos diferentes permanecem recorrentes no Brasil. Nessa perspectiva, esses desafios devem ser superados, visto que o racismo no país é estrutural, normalizado e institucional.
Em primeiro lugar, é necessário atentar-se ao alarmante e contínuo genocídio negro no Brasil. Segundo o censo do Instituto brasileiro de geografia e estatística, IBGE, de 2017, de cada 100 pessoas assassinadas, 71 são negras. Diante de tal realidade, verifica-se a violência contra negros, principalmente os que vivem nas periferias, como algo recorrente e naturalizado no país, uma vez que o Estado falha nas poucas tentativas de combater a situação e a sociedade lida com esses dados e notícias como algo já comum no cotidiano. Dessa forma, as manifestações racistas, desde abordagens policiais violentas até piadas com teor discriminatório potencializam o processo de negação e persistência do racismo.
Por conseguinte, é importante entender o conceito de racismo não como uma questão moral, mas política. O professor Silvio Almeida, autor do livro “O que é racismo estrutural”, define esse fenômeno social como uma forma sistemática de discriminação que tem a raça como fundamento e se manifesta por práticas conscientes e inconscientes.
Seguindo por esse viés, nota-se que o Brasil, país com maior número de negros do mundo fora do continente Africano, apesar desse povo ser maioria, em quantidade, paradoxalmente, por conta da herança histórica escravista, se torna minoria em questões sociológicas. Dessa maneira, o discurso é tão poderoso que não é reproduzido apenas pelos brancos, naturais beneficiários dessa gradação, mas a própria camada afetada o incorpora. Nesse sentido, vítimas atuam como aliadas dos opressores. Apesar disso acontecer, ainda são muitos os que lutam pela igualdade de direitos. Uma luta que começou há séculos e continuará forte até que o sonho de Martin Luther King seja alcançado.
Para José Vicente, reitor da faculdade Zumbi dos Palmares, a luta dos negros é um movimento de heróis. Mas quem seriam esses heróis? e por que eles são tão esquecidos nos estudos de história nas escolas? A começar pelo movimento abolicionista que, ainda, muitos ligam à imagem da Princesa Isabel como “salvadora da pátria”, a luta negra possui diversas imagens e figuras muito importantes para as conquistas atuais, A primeira forma de expressão dos movimentos negros no Brasil eram ações de “rebeldia”: a quilombagem, tendo como seu maior representante o líder Zumbi dos Palmares. Mundialmente, o movimento negro foi reconhecido como uma luta no século XX, liderado por pessoas influentes como Rosa Parks, Martin Luther King Jr e Malcom X.
No Brasil, as conquistas estão sendo alcançadas gradativamente, muitas vezes, à força. No contexto atual, com mais ênfase, visto que o próprio Presidente da República, Jair Bolsonaro, afirmou recentemente que “racismo é coisa rara no Brasil”.
São diversos os fatores que intensificam a persistência desse fenômeno social. Para a socióloga Angela Davis, não basta não ser racista, é preciso ser antirracista. Logo, não é por mudanças individuais que uma sociedade integrada será alcançada, mas por meio de políticas públicas que visem à igualdade. Desse modo, torna-se dever no Ministério da Justiça em parceria com o da educação, investir na reparação social por meio de políticas compensatórias, melhorias no ensino público e políticas de cotas, a fim de, gradativamente, alcançar uma conjuntura social mais justa e igualitária.