Um dos assuntos que marcou o Novembro Negro, infelizmente, foi o triste caso de discriminação de alunos da PUC-SP contra alunos da Universidade de São Paulo (USP) durante um campeonato universitário de handebol em Americana (SP). Para dar continuidade aos debates sobre a importância das cotas raciais, hoje converso com um dos responsáveis por trazer a discussão dessa política pública para o Brasil. Mestre Ivamar é ator, pesquisador, griô e escritor. Ele está presente no movimento negro desde a década de 70. Nos anos 2000, coordenou a pré-conferência das centrais sindicais no Brasil, uma preparatória para a Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata em Durban, que ocorreu em 2001, na África do Sul. A conferência foi promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU).

“Quando retornei ao Brasil, iniciamos a luta pelas ações afirmativas, e essa conferência foi fundamental neste sentido, porque o Brasil pactuou a implementação da política de cotas nas universidades e políticas antirracistas”, lembra Ivamar.

Foi com extrema tristeza que ele recebeu a notícia do caso da PUC-SP. Para Ivamar, casos como esse só servem para reforçar ainda mais as desigualdades e o preconceito no país.

“A PUC-SP, reconhecida pela excelência na formação jurídica e pelo compromisso com valores humanistas, enfrenta o desafio de lidar com episódios que contradizem esses princípios, como atitudes racistas por parte dos estudantes. É lamentável que, mesmo em um espaço que deveria promover a diversidade e a ética, ainda existam comportamentos que reforçam preconceitos e desigualdades”, afirma.

Para ele, a universidade não pode deixar esse episódio passar de forma batida. “A universidade, com sua estrutura e tradição, tem a responsabilidade de investigar e punir tais condutas. Embora ainda existam muitos episódios como esse, nós estamos dentro das academias, partidos políticos, na música, nas faculdades. Todas essas foram conquistas do movimento negro, assim como a implementação das cotas, tudo pela nossa pressão em cima dos governos. Não podemos nunca deixar com que jovens negros passem pelo o que eu já passei décadas atrás”, finaliza.