Como transformar um presídio em universidade
Uma nova Ribeirão das Neves começará com o fim da Penitenciária José Maria Alkimin e a implantação do campus da UEMG
Uma nova Ribeirão das Neves começará com o fim da Penitenciária José Maria Alkimin e a implantação do campus da UEMG
Por Leninha Souza
“Se os governantes não construírem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios”, máximas como essas fizeram de Darcy Ribeiro, político, antropólogo, escritor, um dos mais críticos intelectuais do Brasil. É de Darcy também a frase de que a crise na educação não é uma crise, mas um projeto e de que precisamos reconhecer na universidade, na universidade necessária, o nervo ético de uma nova sociedade.
É inspirada nessas verdades, tão atuais sobre a realidade brasileira, que tenho buscado no parlamento encontrar formas efetivas de apoiar a educação em nosso estado, buscando fortalecer as nossas instituições de ensino e pesquisa, lutando pela garantia dos direitos dos servidores da educação e agora, de forma muito pontual, apresentei, no último dia 24 de maio, Requerimento com pedidos de providências junto ao Governo do Estado para acelerar a desativação da Penitenciária José Maria Alkimin (PJMA) e a implantação no local do Campus da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG) e Escola Técnica de Ensino Médio e Profissionalizante da Fundação Educacional Caio Martins – FUCAM, na cidade de Ribeirão das Neves. O cerne dessa movimentação é atender à necessidade de ampliação do acesso e permanência no ensino superior de moradores de Ribeirão das Neves e Região, gerando impactos positivos na grande BH, em especial na região conhecida como vetor norte.
Nossa orientação ao Governo do Estado é que seja concedido à UEMG o seu primeiro campus efetivamente próprio e que sejam ofertados cursos superiores de acordo com as demandas levantadas pelas instituições públicas locais, movimentos sociais, Terceiro Setor, associações comunitárias e organizações da sociedade civil. Recomendamos também que a Escola Estadual César Lombroso, instalada dentro do referido complexo prisional, seja incorporada à nova Proposta de Inclusão de Escolas Estaduais à Fundação Educacional Caio Martins (FUCAM) para que nesse local seja ofertada a formação em nível médio e possível oferecimento de cursos profissionalizantes, conforme demanda apresentada pela comunidade de Ribeirão das Neves-MG.
A UEMG é a terceira Universidade Pública do Estado, ficando atrás, em números de alunos matriculados apenas da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG e da Universidade Federal de Uberlândia – UFU, embora cumpra um papel fundamental na formação de profissionais com seus 119 cursos, a UEMG ainda não possui Campus próprio, funciona em prédios alugados ou cedidos por outras instituições. Nós entendemos que a implantação do Campus em Ribeirão das Neves trará benefícios incalculáveis do ponto de vista social, educacional e inclusive de Segurança Pública, corroborando o que Darcy Ribeiro preconizava, que o investimento em educação, era, em última instância, uma ação efetiva de combate à criminalidade.
As adequações necessárias às edificações da antiga Penitenciária de Ribeirão das Neves trarão à cidade e à sua gente uma nova perspectiva. Essa iniciativa soma-se à trajetória de lutas dos movimentos e instituições da cidade que buscam interromper um longo e perverso caminho de acúmulo, desde a década de 1940, de abrigar sete unidades prisionais. Para os pesquisadores do Centro de Estudo Pesquisa e Intervenção Ribeirão das Neves, CEPI- Neves. O número excessivo de prisões e um contingente de mais de 10% das pessoas em privação de liberdade do estado de MG num único município, tem trazido prejuízos incalculáveis ao desenvolvimento social, cultural e econômico da cidade, comprometendo o presente e o futuro da população, sobretudo, dos segmentos de mulheres e jovens da cidade.
É nesse movimento de olhar para o retrovisor, aprender com os erros e corrigir a rota que seguimos, buscando, com o enfrentamento responsável, consciente e consistente, ser uma oposição construtiva, capaz de se colocar por meio do diálogo e da construção de um futuro fundamentado na autonomia cidadã, na formação de novas gerações livres e com perspectivas de futuro e esse caminho se trilha com a educação pública e de qualidade!
A deputada Leninha Souza é vice-presidenta Estadual do PT, vice-lider do Bloco Democracia e Luta da ALMG e vice-presidenta da Comissão de Direitos Humanos*