Como matar uma escola?
É preciso que o governador escute alunos, professores e a comunidade na condução das políticas públicas.
Um ditado popular ensina que mães nunca deveriam morrer. A afirmação evidencia o quanto elas são alicerces na vida dos filhos. No campo da educação, existe algo equivalente à figura materna: a escola! A escola é para os alunos o que as mães são para os filhos: preparam os estudantes para a vida e dão asas para que possam voar.
As escolas são um organismo vivo e pulsante, trazem muitos benefícios para os locais onde estão instaladas. Dito isso, cabe um paralelo ao ditado popular: escolas não deveriam morrer nunca. Essa lição sobre o valor das escolas, ao que parece, não foi aprendida pelo governador Romeu Zema.
As políticas educacionais de Zema têm matado muitas escolas e de maneira acelerada. Um grupo de professores, alunos e moradores do Bairro Pindorama, localizado na Região Noroeste de Belo Horizonte, pede socorro para a Escola Estadual Dr. Lucas Monteiro Machado. Nas redes sociais, eles subiram a hashtag #sos_lucasmonteiro em busca de apoio à luta.
A Escola Estadual Dr. Lucas Monteiro Machado foi fundada em 1982. A edificação foi construída em 1965 para abrigar um seminário antes de se transformar em escola pública e guarda uma relação direta com o desenvolvimento de Pindorama.
Instalada em um terreno de 46 mil metros quadrados, em uma edificação de três andares, a escola possui 24 salas, teatro, biblioteca e quadras para a prática esportiva. Mas ao chegar lá, a imagem da imponência da edificação contrasta com a quantidade de alunos. Por corredores em que circulavam cerca de 2 mil estudantes diariamente, resistem 38 alunos do ensino médio e profissionalizante de tempo integral, no período diurno; e 42 alunos da Educação Jovem Adulto (EJA).
Sem qualquer constrangimento, a Superintendência Regional de Ensino, ligada à Secretaria Estadual de Educação, admitiu que a escola está em processo de “terminalidade”. O governo Zema contribuiu de forma decisiva para o fim dessa escola quando adotou como política educacional o ensino médio em tempo integral.
E o impacto no enfraquecimento das escolas pode ser grande. O governo anunciou para o ano letivo de 2024 a ampliação do Ensino Médio em Tempo Integral (EMTI) e do Ensino Fundamental em Tempo Integral (EFTI) em mais de 238 unidades escolares. O problema dessa política implantada sem o devido debate com as instituições e comunidades escolares é que ela resulta em evasão. Nessa fase da vida, muitos estudantes precisam trabalhar. Estudam em um horário e trabalham no outro. Com essa medida imposta pelo governo, ficam sem opção, como não podem deixar o trabalho por uma questão de sobrevivência, só resta a milhares de estudantes abandonar.
Em visita técnica da Comissão de Educação à Escola Estadual Dr. Lucas Monteiro Machado, atendendo a um requerimento apresentado por mim, os alunos e alunas relataram que muitos colegas tiveram que abandonar a escola depois que a jornada se tornou de tempo integral. Outra medida do governo para matar a escola é a proibição de matrículas para o primeiro ano do ensino médio.
Em audiência pública na Comissão de Educação da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apresentou um levantamento que apontava o aumento do número de pessoas de 15 a 17 anos fora da escola. Em 2014, o percentual desses jovens era de 6%. Depois da implantação da Educação em Tempo Integral, cresceu para 18% em 2021.
É preciso que o governador escute alunos, professores e a comunidade na condução das políticas públicas sob o risco de termos um número cada vez maior de escolas em “processo de terminalidade”, eufemismo usado para não dizer o que está ocorrendo: escolas estão sendo fechadas em todo o estado. Sigo acreditando que as escolas nunca devem morrer e lutando para que elas não tenham que fechar as portas.