Cheguei para ficar: a trajetória de resistência da 1ª mulher negra reeleita vice-presidente da ALMG
Minha história é a história de muitas mulheres negras e periféricas que lutam diariamente para transformar realidades
Minha história é a história de muitas mulheres negras e periféricas que lutam diariamente para transformar realidades. Nasci em Montes Claros, no Norte de Minas Gerais, e desde cedo entendi que a educação e a organização coletiva seriam minhas ferramentas para construir um mundo mais justo. Me forjei, ao longo desse tempo, uma mulher acima de tudo comprometida com a luta por direitos, dignidade e representatividade.
Em 2022, fui reeleita deputada estadual e, em um marco histórico, me tornei a primeira mulher negra a assumir a primeira vice-presidência da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Agora, ao renovar meu mandato nesse cargo, reafirmo não apenas meu compromisso com o povo mineiro, mas também o lugar das mulheres negras nos espaços de poder. É essa a marca que quero deixar neste dia em que a Mesa Diretora do biênio 2025-2026 toma posse.
Ecoei aos quatro cantos deste estado que minha presença na vice-presidência da Assembleia de Minas não seria meramente figurativa, como de fato não foi. Com o presidente Tadeu Leite, trabalhei durante os anos de 2023 e 2024 incansavelmente, com compromisso e dedicação para construir um parlamento sensível e acessível para todas e todos, para debatermos na Casa Legislativa uma série de ações em torno de pautas pertinentes para a sociedade mineira, para transformar Minas Gerais em um exemplo nacional em temas urgentes como a crise climática, o combate ao racismo e o enfrentamento à violência de gênero.
Olho para trás e uma convicção se apresenta: muito orgulho do trabalho feito, a muitas mãos, de forma coletiva, que impactou positivamente e melhorou a vida das pessoas. Missão dada e cumprida!
É deste ponto que seguimos. Hoje tomo posse novamente como 1ª vice-presidenta da Assembleia de Minas Gerais. E isso não é uma conquista pessoal, mas um marco simbólico e concreto para todas as mulheres negras que lutam por representatividade na política. Afirmo que estar na vice-presidência da Assembleia é mais do que um lugar de honra, é trazer comigo milhares de meninas, jovens e mulheres pretas que ousaram romper a sentença que a sociedade impõe. É resistir e persistir no desejo de uma sociedade mais justa e solidária.
Renovar meu mandato como vice-presidente da ALMG é um momento histórico que reverbera além dos muros do parlamento. Em um país onde a representação política ainda é majoritariamente masculina e branca, minha presença nesse cargo é um ato de resistência e um exemplo para as futuras gerações. Segundo dados do Instituto Marielle Franco, apenas 2,5% das cadeiras nas Assembleias Legislativas do país são ocupadas por mulheres negras. Eu, portanto, não sou representante de mim mesma, neste momento, espero estar à altura para representar todas as mulheres negras que lutam por voz e transformação.
Minha trajetória evidencia a importância de políticas afirmativas e da participação das mulheres negras na construção de uma democracia mais plural e inclusiva. Minha história é um reflexo da luta coletiva das mulheres negras no Brasil, desde as líderes quilombolas até as parlamentares contemporâneas, nós temos desafiado estruturas racistas e patriarcais para ocupar espaços de decisão. Espero que a minha trajetória inspire e fortaleça a luta por uma política mais diversa e representativa, abrindo os caminhos para que outras mulheres negras possam sonhar, ocupar e transformar os espaços de poder.
A renovação do meu mandato na vice-presidência da ALMG é um lembrete poderoso de que a presença das mulheres negras na política não é um acaso, mas uma conquista fruto de muita resistência e organização. Renovar o mandato é renovar o compromisso com todas as mulheres, especialmente as mulheres negras, que diariamente enfrentam o racismo, o machismo e a exclusão. É dizer para a sociedade que estamos aqui, que somos capazes e que não vamos retroceder. E, como eu mesma digo, nós, mulheres negras, chegamos, estamos chegando e chegamos para ficar.