CEUs de São Paulo estão sem teatro desde dezembro
A mais recente má notícia entre as tantas crueldades que vêm sendo cometidas contra a educação e a cultura do país é a da interrupção de atividades teatrais nos Centros Educacionais Unificados (CEUs), projeto de alta relevância na rede de ensino da Capital.
Por Carina Vitral e Camilla Lima
A mais recente má notícia entre as tantas crueldades que vêm sendo cometidas contra a educação e a cultura do país é a da interrupção de atividades teatrais nos Centros Educacionais Unificados (CEUs), projeto de alta relevância na rede de ensino da Capital iniciado pela prefeita Marta Suplicy com objetivo de integrar cultura, esporte e educação para toda a comunidade de cada região onde se localizam as unidades.
Atualmente, são 46 CEUs espalhados em bairros da periferia paulistana com altos índices de pobreza e exclusão social. Em 2003, quando a prefeitura inaugurou o CEU Jambeiro, em Guaianases, o primeiro da rede, cada unidade fora projetada para oferecer escola (ensinos infantil e fundamental), berçário, creche, auditório, teatro, ateliê, estúdio, telecentro, biblioteca, áreas de esporte e lazer, centro comunitário, padaria e área verde. Um oásis dentro de regiões quase sem opções de atividades esportivas, artísticas e recreativas para a coletividade.
Hoje, lamentavelmente, verifica-se que questões administrativas se sobrepõem ao interesse da população. Conforme noticiado pelo jornal “Agora São Paulo”, a prefeitura alega problemas para renovar os contratos emergenciais de prestação de serviços que estavam em vigência desde 2018 e informa haver uma licitação em andamento. Fato é que, no fim do ano foram encerrados contratos de técnicos de som e de luz que trabalhavam em 37 unidades. E nesta semana terminam os contratos dos profissionais das outras nove unidades, totalizando cem trabalhadores especializados, o que significa que as encenações teatrais estarão paralisadas em toda a rede de CEUs – a menos que os organizadores levem sua própria equipe técnica. Para além do prejuízo cultural em si, aumenta o número de desempregados na Capital.
Que triste para a maior cidade do país, que deveria ser exemplo para todo o Brasil. E que perda para aquela população cuja maioria jamais frequentou teatro ou outros espaços artísticos e tem nos Centros Educacionais a oportunidade de iniciar contato com expressões culturais que enriquecem o repertório do ser humano.
Infelizmente, esse episódio ocorre num momento de intensos retrocessos culturais e educacionais que se agravaram com a chegada ao poder central de fascistas, beócios, iletrados que veem nas artes, na ciência e na educação inimigos a serem eliminados. O primeiro atentado cometido por Bolsonaro foi a extinção do Ministério da Cultura, em janeiro de 2019, e desde então uma série de ataques vem destruindo a estrutura cultural e os programas inovadores construídos nas últimas décadas por pessoas, especialmente os ministros Gilberto Gil e Juca Ferreira e suas equipes, que conhecem profundamente as raízes culturais do Brasil e as carências do nosso povo. No mais recente absurdo, um dirigente da pasta ora rebaixada a papel inexpressivo confessou-se nazista e, pior, tomou medidas para censurar a criação artística e subordiná-la a métodos e critérios obscurantistas.
Neste momento tão lamentável na história do país, São Paulo precisa se diferenciar do bolsonarismo. A Capital tem potencial para ser muito mais pujante nas artes e na cultura em geral. Não pode ser refém de dificuldades de gestão ou de orçamento. A cidade pode, por exemplo, espalhar Pontos de Cultura em todas as regiões, incrementar a produção cultural dos territórios, inserir os coletivos periféricos nas políticas públicas, entre tantas iniciativas que certamente têm apoio da população, que está ávida por espaços de participação e engajamento. É preciso que a prefeitura tenha ousadia e agilidade para superar os entraves e dê prioridade para ações de amplo interesse social.
Carina Vitral é presidente nacional da União da Juventude Socialista (UJS) e presidiu a União Nacional dos Estudantes (UNE).
Camilla Lima presidiu a UJS na Capital paulista, é professora na rede estadual e atua na área da cultura com audiovisual.
Quer saber mais: www.bancadafeministasp.com.br