Celular na escola: é preciso regras mais justas
Para muitos, o celular é o único acesso à internet e às plataformas de aprendizado.
Sou estudante, tenho 20 anos e, assim como toda a minha geração, cresci em um mundo em que a tecnologia é uma grande parte da nossa vida. O celular não é só um meio de entretenimento, mas uma ferramenta de estudo, trabalho e organização do dia a dia. E é por isso que a UBES se posiciona contra a proibição total dos celulares nas escolas.
Respostas simples para problemas complexos não se sustentam e acabam por criar outros problemas.Sabemos que o uso excessivo de telas traz desafios sérios, impactando o neurodesenvolvimento, a saúde mental e até as relações sociais. Mas será que simplesmente proibir resolve? A resposta é não. A Lei 15.100/2025, que veta o uso de celulares nas escolas, precisa ser regulamentada urgentemente para que não se torne mais uma medida punitiva e desconectada da realidade dos estudantes.
Para muitos, o celular é o único acesso à internet e às plataformas de aprendizado. Retirar essa ferramenta sem oferecer alternativas significa aumentar a desigualdade educacional e prejudicar quem mais precisa.
Ser contra a proibição não significa defender o uso irrestrito. Pelo contrário, acreditamos que o uso dos celulares precisa de regras claras. Defendemos que o aparelho possa ser utilizado nos intervalos e horários livres, garantindo que ele fique sob posse do estudante, sem confisco. Medidas disciplinares como suspensão ou expulsão pelo uso inadequado são desproporcionais e podem levar muitos alunos a abandonarem a escola.
O uso responsável da tecnologia precisa ser ensinado. Defendemos que as escolas promovam atividades para conscientizar os estudantes sobre os impactos do uso excessivo de telas e ensinar como a tecnologia pode ser uma aliada no aprendizado. Saber se autorregular, evitar o vício e combater o cyberbullying são habilidades essenciais para a vida digital.
Os professores também precisam de formação para que o uso pedagógico dos celulares funcione de verdade. Como está hoje a Lei sobrecarrega os docentes os tornando fiscais. A tecnologia pode tornar as aulas mais dinâmicas, aproximar o ensino da realidade dos jovens e ampliar o acesso ao conhecimento. Mas isso só será possível se os educadores tiverem suporte para usar essas ferramentas de maneira estratégica.
Outro ponto fundamental é o investimento em infraestrutura. Se queremos que os estudantes tenham outras formas de acesso à tecnologia, as escolas precisam de laboratórios de informática bem equipados e conexão de internet segura, com filtragem para impedir acesso a conteúdos inadequados e sites de apostas.
A saúde mental dos estudantes também precisa ser prioridade. A Lei 13.935/2019, que garante a presença de psicólogos e assistentes sociais nas escolas, deve ser cumprida. O impacto da tecnologia na nossa geração é real, e não podemos ignorar o aumento dos casos de ansiedade, depressão e outras questões ligadas ao uso excessivo das telas.
A escola não pode ser um ambiente de repressão, mas sim um espaço de aprendizado e socialização. Proibir os celulares sem incentivar atividades esportivas e culturais só agrava o isolamento dos estudantes. Precisamos de campeonatos, interclasses, festivais e eventos organizados em parceria com os alunos para fortalecer o convívio e criar momentos de desconexão saudável.
Também é essencial garantir o direito ao uso dos celulares para estudantes com deficiência ou neurodivergentes. Para muitos, esse dispositivo é um recurso fundamental de acessibilidade e comunicação. A inclusão não pode ser deixada de lado nesse debate.
Não podemos aceitar que um problema tão complexo seja tratado com uma solução simplista. O celular não é o vilão da educação, e sua proibição total não resolve os desafios do ensino. O que precisamos é de um modelo equilibrado, que reconheça os riscos, mas também as oportunidades que a tecnologia oferece.
Proibir por proibir nunca será a resposta. É hora de construir soluções que realmente façam sentido para quem está dentro das salas de aula.
Hugo Silva é presidente da UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas).