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Ontem na festa do BBB Gil chorou com Camila. Foi no BBB que Gil se assumiu homossexual e, desde algum tempo no jogo, tem refletido sobre as violências e inseguranças a respeito da sua comunidade de fé. Não é a primeira vez que Gil fala coisas importantes e fortes para a reflexão sobre a religião cristã e sobre as violências com a comunidade LGBTQiA+. Ontem, vendo o vídeo, só penso como gostaria que ele lesse isso aqui.

Sabe Gil, eu também já chorei pensando que eu nunca mais poderia ir em um acampamento da igreja e já abracei muitos que, como eu e você, passaram exatamente por isso. A coisa que eu mais gostava era estar com meus amigos, com os jovens. Aquelas coisas de igreja que só quem viveu a comunidade intensamente sabe, aquelas memórias que só quem já viveu essa experiência intensa, metafísica e social de estar nas comunidades de fé cristã, sabe. Do nada, tiram isso de nós.

É violento mesmo se reconhecer LGBTQIA+ nesses espaços porque te violentam duas vezes: querem que você negue quem você é e ainda querem te arrancar a única coisa que é individual na fé cristã – a experiência pessoal da espiritualidade, a sua certeza de que há um Deus.

Como você teve Camilla De Lucas pra te dizer que sua vida é revolução, eu também tive pessoas que me disseram isso, mas eu te entendo Gil. É difícil mesmo fazer revolução num espaço que nos diz que só há um caminho. Romper, no nosso caso, não é uma escolha nossa, né? É escolha deles, e isso dói.

Eu tomei decisões de vida que não se encaixavam na institucionalização fundamentalista da religião e de forma silenciosa, violenta e silenciosa, fui sendo jogada para fora de espaços que antes me acolheram, me formaram, me deram senso de comunidade e amor de família. Quando isso aconteceu comigo, eu comecei a perceber como muitas pessoas que eu amo passavam pelas mesmas coisas e inclusive escolhiam se calar, porque tinham MEDO, sentiam CULPA. Pessoas que se viam presas em relacionamentos abusivos, que tinham posicionamentos políticos e sociais fortes, pessoas que lidavam com a sexualidade de outras formas, pessoas que escolheram sobre seus corpos, pessoas que por pouco desviaram do falso “único caminho, única verdade”. É louco porque nessa horas percebemos que fazemos parte dessa família até mostrar quem realmente somos, e quando mostramos temos que escolher apenas dois caminhos: mudar e se adaptar a vontade da ”família” ou ir embora. E isso dói mesmo. Por isso que quando te vejo chorar dói em mim também. A igreja nos machuca de tantas formas!

Lembro que decidi romper de vez com essa loucura quando percebi que o discurso: “to falando isso porque eu te amo” violava tudo o que eu aprendi sobre amor, era antibíblico. Era abuso, não era amor.

Existe uma forma de ser na igreja, imposta no nosso meio, que é passiva, agressiva demais, não nos cabe, não nos gosta e não serve e é justo que tenhamos medo porque essa foi a única forma de conhecer a Deus – pelo temor. Mas sabe, Gil, nosso Deus é um Deus que lança fora o medo, acaba com a culpa, liberta e ama incondicionalmente. O medo é uma manobra para nos manter controlados numa estrutura de poder.

A violência de excluir nossos corpos da “graça de Deus” é também estratégia política dessas instituições – a certeza de que é possível ser amado, amada e amade por Deus, independente da moral, é uma das únicas coisas que não podem nos arrancar e isso os apavora pois enfraquece o discurso de poder de outrora.

Você, em rede nacional, sendo, nas suas palavras, uma “bicha, bandida, perigosa, cachorra e evangélica” é um serviço essencial num país que enfrenta a maior tragédia religiosa do últimos tempos – um governo cristofascita, que mata em nome de Deus pessoas como nós. Já diria nossa irmã Ventura Profana: “As que confiam na trava são como os montes sião que não se abalam”.

Nós anunciamos um Deus plural, insubmisso, livre. Que coisa linda!

Deus é como nós, Gil! Não como eles.

No fim dessa jornada, eu quero acampar com você!