As Guianas: a parte ‘esquecida’ da Amazônia que o mundo precisa enxergar

A invisibilidade desta área nos impede de debater seu futuro. Descubra a importância singular dessa região.

Por Gutemberg de Vilhena Silva*

Este texto nasce de algo aparentemente simples: um post da Mídia NINJA anunciando a isenção de vistos entre Brasil e Guiana Francesa.

A repercussão nos comentários revelou algo maior: o desconhecimento profundo que ainda existe sobre essa parte do continente americano.

E onde há silêncio, há também invisibilização — que gera distorções, preconceitos e ausências de debates políticos consistentes!

Pouco se fala sobre a região das Guianas, um complexo territorial que envolve cinco países (ver projetoguianas.com.br). Ela raramente aparece nos mapas afetivos, nas grandes análises geopolíticas ou nos debates sobre o futuro da Amazônia enquanto uma unidade territorial. Mas essa ausência não se justifica: estamos falando de uma das regiões mais ricas, estratégicas e diversas do mundo.

Historicamente disputada por potências europeias, a região das Guianas guarda um valor geopolítico singular. Voltada para o Caribe, para o Atlântico Norte, para o continente africano e também para a América do Sul, ela ocupa uma posição estratégica entre oceanos e continentes.

Mais do que minérios, as Guianas concentram uma biodiversidade ainda pouco estudada, com paisagens que combinam florestas primárias, manguezais, savanas e zonas úmidas de altíssimo valor ecológico.

Mas o que talvez mais impressione seja sua diversidade humana: povos indígenas originários da região convivem com descendentes de africanos, asiáticos, europeus e caribenhos. É uma das mais intensas expressões de diásporas e encontros culturais do mundo.

Ali, o mundo se entrelaça em formas de vida únicas, criativas e resilientes. As Guianas não são periferia. São centro de um outro projeto de mundo. Um território onde a convivência, a pluralidade e os saberes tradicionais apontam para futuros possíveis — e mais justos.

Com a COP30 se aproximando, é hora de tirar as Guianas da penumbra, porque talvez seja justamente da margem que virão as ideias mais centrais para enfrentar nossa crise planetária.

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*Diretor-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amapá (FAPEAP) e Dr. em Geografia.