Eu não vou nem fingir – sentei na sala de cinema esperando que Angelina Jolie me provasse porque ela merecia uma vaga na disputada categoria de Melhor Atriz no Oscar desse ano. Veja bem, a cabine que assisti ao filme aconteceu no dia 10 de janeiro, apenas cinco dias após Fernanda Torres levar o seu Globo de Ouro na categoria que Jolie também competia. Eu estava tomada (e ainda estou) pelo meu patriotismo cinematográfico.

E se queria ser surpreendida, surpreendida fui. Não porque encontrei ali a confirmação das dezenas de memes que vi circulando acusando a atriz de overacting, mas sim porque Angelina estava perfeitamente encaixada na versão de Maria Callas que entregam pra ela.

Talvez seja a personagem – “Maria Callas”, o filme protagonizado pela atriz Angelina Jolie (sim, esse é o gentílico dos nascidos em Los Angeles!) é uma cinebiografia que retrata os últimos dias da lendária soprano greco-americana Maria Callas. Essa mana era conhecida por ter uma personalidade forte, tendo o perfeccionismo com ela mesma e todos ao seu redor como sua marca registrada. Por isso, ela ganhou o apelido de “La Divina”… No quesito trabalho meticuloso, ela era a Beyoncé da Ópera.

Além disso, ela teve uma vida amorosa turbulenta. Foi casada com um italiano que também foi seu empresário e depois teve um relacionamento com o magnata grego Aristóteles Onassis, que a deixou para se casar com Jacqueline Kennedy. Não bastasse ser abandonada, há rumores que ela teria sido drogada e abusada por Onassis ao longo do seu relacionamento. Falando nisso, o filme apresenta seu remanescente vício em remédios de uma forma irresponsavelmente lúdica, além de mal tocar na perda de peso extrema que ela passou ao longo de sua vida.

Foto: Divulgação

Angelina fez o que pode com a Maria que lhe ofereceram, mas ao que tudo indica, não vai ser o suficiente. Quem está acompanhando a corrida das campanhas, leu nessa semana que seu nome vem perdendo força significativamente e ficou mais evidente após a sua ausência na lista de indicados ao Screen Actors Guild Awards de 2025. Vanity Fair e o Entertainment Weekly também já não incluem Jolie entre as principais candidatas em suas previsões finais, enquanto Demi Moore ganhou a dianteira com “A Substância” depois da vitória e discurso no Globo de Ouro.

De qualquer forma, o descompasso não está na over, under ou em qualquer parte da atuação e sim no tom geral do filme. Num longa onde a história da sua personagem se confunde com a própria história da ópera, que por definição é drama encenado acompanhado de música, o filme não entrega… drama. A primadona está definhando na tela e literalmente morre nas cenas finais, mas como ele está constantemente tentando ser belo, poético e plástico, acaba por deixar a coisa toda um pouco plana demais.

Eu posso até ver alguns dos meus amigos latinos chamando o filme de “aburrido”. Ou a gen z taxando de “boring”. Aqui em bom português a gente chamaria de chato. Não seria para tanto, é apenas um filme em linha reta. Uma esplendorosa, perfeitamente conduzida linha reta. Falta a emoção de Callas. E justamente por isso não podemos dizer que o filme consegue retratar a profundidade de uma das maiores divas da música. Talvez esse sim deveria ser chamado de monocórdico, Le Monde.

Com exceção aos cortes de sua adolescência, que me fizeram querer ver um filme sobre a história de Callas, e não sobre seu fim, eu sinto que Pablo Larraín, diretor chileno que conduz a orquestra, perdeu a chance de fechar a sua trilogia de mulheres icônicas com um estrondo. Pablo fez “Jackie“, em 2016, e “Spencer“, em 2021 – ambos renderam indicações de Melhor Atriz às respectivas protagonistas, Natalie Portman e Kristen Stewart.

Quem sabe teremos Jolie, quem sabe não.

Eu saí do filme mais simpática à Callas e à Angelina e feliz que mais um filme de protagonismo feminino complexo está na paisagem do cinema este ano.

Porém, sigo totalmente Fernanda Torrezida.

Nos vemos no dia 23 de janeiro.