Ancestralidade e parceria com a natureza como caminho para resistir à crise climática
Fazemos a nossa parte. No entanto, boa vontade, compromisso individual e de alguns grupos para achar caminhos não são o bastante.
Neste junho, mês do Meio Ambiente, estamos há mais de um mês lidando com as consequências da crise climática que afeta o Rio Grande do Sul com inundações, morte, dor e desalento. Vivemos a comoção, nos solidarizamos, fazemos a nossa parte para ajudar minimizar o sofrimento de quem perdeu tudo. Imediatamente o Governo Federal tomou as providências para socorrer o povo gaúcho e a população ofereceu o seu melhor, solidariedade e trabalho voluntário.
Fazemos a nossa parte. No entanto, boa vontade, compromisso individual e de alguns grupos para achar caminhos não são o bastante. É preciso mais do que consciência e boa vontade para solucionar uma questão tão grave. Isso porque não foi apenas uma tragédia natural, chuvas pontuais, foi o impacto direto da crise climática! Resultado da falta de prevenção, do negacionismo e da incompreensão de que não podemos seguir destruindo a natureza, ignorando as leis de proteção dos diversos biomas brasileiros em nome da ganância e do acúmulo de riquezas para alguns.
A avalanche de dor e destruição que atingiu o Rio Grande do Sul é consequência da irresponsabilidade, da falta de compromisso e de entender que não há mais tempo para debates e discussões. Já passou do tempo da ação. A crise climática não é mais previsão, é a realidade que atingiu primeiro o Rio Grande do Sul, mas não ficará restrita àquele estado e seguirá impactando as pessoas, principalmente as populações mais vulnerabilizadas.
Há urgência de mudança de rota. Investir na Educação Climática, não apenas das crianças, mas principalmente dos adultos. E essa iniciativa está sendo executada? Não! No Rio de Janeiro, por exemplo, existe a Lei 9.949/23, de minha autoria quando estive deputada, que insere na rede estadual de ensino a disciplina de educação climática. Quantas salas de aula estão aplicando a matéria? Com a palavra o governador que é o responsável pela execução.
O que também cabe agora é promover adequações para que as cidades tenham mais condições de enfrentar a crise Climática. Mas já há algum plano, alguma estratégia, algum estudo para colocar em prática no Brasil? Ou a prioridade vai seguir sendo a PEC 03/2022, que abre caminho para privatizar as praias?
Recentemente houve um seminário promovido pelo Vaticano e nele o arquiteto, chinês, Kongjian Yu apresentou uma solução, já utilizada em seu país há décadas, baseada na própria natureza, com o plantio de vegetação que absorve as águas das chuvas e concreto poroso. O conceito é conhecido como Cidades-esponja.
Um sistema que dá espaço às águas, não tenta contê-las com canalização utilizando concreto denso. Segundo o arquiteto, este é um sistema muito mais barato do que as grandes obras de concretagem. Ops! Será que esse não seria um empecilho para aplicar o sistema no Brasil? Já que aqui a especulação, a ganância e o excesso de dinheiro no bolso de alguns vale mais do que a vida de muitos.
Chama a atenção no conceito de Cidades-Esponja, que é um sistema muito antigo, utilizado pelos nossos ancestrais, que o arquiteto reconhece ter trazido para os dias atuais uma técnica usada há milhares de anos por seu povo e que aqui no Brasil é o que acontece na Amazônia, por exemplo, a floresta natural faz a contenção das águas para utilizá-las nos tempos secos. É a sabedoria dos nossos ancestrais, dos povos originários, dos antigos, mostrando que a saída é trabalhar em parceria com a natureza. Não contra ela.