Por Mel Colonna, Luiza Cristina, Vinícius Rodrigues e Marcelo Zig

As Paralimpíadas de Tóquio 2020 começaram, sendo marcada pelo número de representatividade e diversidade nos jogos. Hoje viemos falar sobre alguns paratletas negros desta edição.

A participação brasileira no tênis de mesa nas paralimpíadas acontece desde 1976, e desde lá muitos paratletas entre cadeirantes, amputados e com paralisia cerebral têm entrado na disputa pelas medalhas. Entre os paratletas que disputaram a modalidade nas Paralimpíadas de Tóquio 2020, podemos citar a mesatenista Milena França dos Santos, paratleta negra, goiana, de 25 anos e estreante na competição. Ela foi a Tóquio após obter títulos em campeonatos brasileiros e Jogos Paralímpicos Universitários além da participação nos Jogos Parapan-Americanos de Lima de 2019. A participação de Milena e de outros paratletas nas paraolimpíadas de 2020 suscita o debate sobre a inclusão maior de paratletas negros em modalidades paralímpicas.

Outros esportes também estão recheados de representatividade de pessoas pretas, como a natação paralímpica que foi a segunda categoria que o Brasil mais acumulou medalhas – em Tóquio, a modalidade garantiu nossa melhor participação em Jogos Paralímpicos. E começamos muito bem, com paratletas já estreando o pódio na madrugada do dia 25 de agosto. E não um pódio comum, mas um pódio representativo, com Gabriel Geraldo, o Gabrielzinho, atleta negro de Juiz de Fora levando a medalha de prata para o Brasil. E não parou por aí. Gabrielzinho conquistou ainda duas medalhas de ouro nas Paralimpíadas de Tóquio.

Gabrielzinho abocanha medalha de ouro durante pódio

Foto: Lisi Niesner

Ainda temos muitas personalidades incríveis para conhecer! Inclusive nosso time de paratletas negras está incrível! A Lucilene Sousa competiu ontem, infelizmente não chegou ao pódio, mas ela vem marcando presença nas piscinas por muito tempo e ver ela chegar nas paralimpíadas nos orgulhou!

Outras atletas emblemáticos são a Joana Neves, mais conhecida como Peixinha que está se preparando fortemente para entrar nas águas! Infelizmente (ou felizmente) a peixinha não deu entrevistas, ela estava bastante concentrada! Mas por aqui emanamos boas energias! E a Ana Karolina, recordista mundial, conversou um pouco com a gente, sobre representatividade e mostra que na sua categoria S12 ela é a primeira mulher negra:

“Bom, eu desconheço outras atletas paralímpicas negras, não tive referências. E acredito que não existiu nenhuma paratleta negra na classe S14 da natação. Acredito que, assim como a Rebeca Andrade foi a primeira atleta olímpica negra a ganhar uma medalha na prova dela, eu também posso ser a primeira paratleta negra brasileira em busca de uma medalha nessa categoria”. E deu certo: Ana conquistou a 10ª medalha na Paralimpíada de Tóquio com a conquista do bronze no revezamento 4x100m livre misto S14 (atletas com deficiência intelectual).

Ela também fala sobre como a visibilidade dos jogos paralimpicos vem diminuindo os preconceitos. “Antigamente a sociedade  tinha muito mais preconceito  com os paraolímpicos e o nosso esporte era bem pouco divulgado. Hoje em dia ainda sofremos preconceitos, mas muito menos. Os jogos paralímpicos melhoram a nossa visibilidade.” e por fim Ana contou para gente suas expectativas para as competições, revela que está confiante no nado de costas e no  nosso revezamento misto!- Tenho grandes expectativas. Acredito que a nossa medalha venha pelo revezamento 4×100 livre misto, e tenho bastante chance também nos 100 metros costas. Eu me dediquei muito por essa prova, então estou feliz e confiante.- Diz nossa possível futura medalhista, que já está fazendo história por estar representando as mulheres negras nas paralimpíadas de Tóquio!

Foto mostra as quatro nadadoras se preparando para o salto de costas em piscina paralímpica. Ana é a única negra dentre elas.

Ana Karolina, a única atleta negra em sua bateria.

A representação negra na esgrima paralímpica, não ficou para trás, o Brasil tem uma representação de peso nos Jogos de Tóquio, a delegação conta com dois atletas negros. Carminha Silva, estreante nas paralimpíadas e Vanderson Chaves, competindo pela segunda vez nos Jogos. A atleta feminina carrega uma trajetória bem recente no esporte, mas mesmo assim com bastante êxito. Ganhou uma medalha de ouro no Campeonato Brasileiro de Esgrima em Cadeira de Rodas e uma de bronze na Copa Brasil de Esgrima em Cadeira de Rodas. Além disso, é a única mulher a compor o tempo brasileiro. Já o atleta Vanderson Chaves está competindo na sua segunda paralimpíada. Com um desempenho excepcional, nosso atleta ficou em segundo lugar nos Jogos em 2016. Infelizmente, nossos atletas fora desclassificados em suas estreias e já aprovado o país. De qualquer modo, estar nas paralimpíadas enche nosso coração de orgulho, pois já sabemos o descaso que enfrentamos com os esportes no Brasil.

Diferente das modalidades que foram adaptadas das olimpiadas para as paralimpiadas, o goalball foi criado especificamente para os paraatletas com deficiência visual.

O goalball é disputado em partidas de dois tempos de 12 minutos com três minutos de intervalo na quadra com as dimensões da quadra de vôlei tendo um gol de 9m de largura e 1,30m de altura de cada lado como objetivo das equipes compostas por três jogadores titulares e três reservas sendo todos arremessadores e defensores simultaneamente. A modalidade foi desenvolvida com base nas percepções tátil e auditiva dos competidores com deficiência visual das classes B1, B2 e B3 que jogam juntos e todos com vendas nos olhos independente da classe que pertença. Por isto o som que deve prevalecer na quadra durante a partida é o do guizo da bola.

A delegação brasileira é composta por doze paratletas, sendo seis mulheres e seis homens. Dentre estes, três mulheres e um homem são negros. Jéssica Gomes Vitorino nasceu com baixa visão por causa de uma catarata congênita hereditária. Aos 16 anos, viu uma apresentação da modalidade na escola e começou a praticar o esporte. Conquistou o bicampeonato nos Jogos ParapanAmericanos (Lima 2019 e Toronto 2015); bronze no Mundial de Goalball Malmö 2018; prata no Campeonato das Américas 2017 em São Paulo.

Kátia Silva tem glaucoma congênito, mas só foi descobrir o problema após sofrer uma hemorragia aos 13 anos, fruto da pressão ocular. Em 2015, mudou-se para Brasília, onde conheceu o goalball. Passou em uma peneira da Uniace em janeiro de 2016 e começou a se dedicar exclusivamente ao paradesporto. Ao fim de 2019, quando pensava em desistir, foi convocada pela primeira para a Seleção Brasileira.

Moniza Lima conheceu o goalball na Bahia por indicação de um professor, em 2013. Foi convocada pela primeira vez em 2017 e já carrega o bronze no Campeonato Mundial (Malmo 2018); prata na Copa América 2017.

Foto de Leomon, o camisa 4, no centro do gol do golbol durante uma partida. Ele carrega a bola azul e se prepara para lançar. Ele veste a venda nos olhos e o uniforme azul da seleção brasileira

Foto: Takuma Matsushita/CPB.

Leomon Moreno foi um dos grandes nomes brasileiros de destaque em Tóquio e no goalball masculino. Ele perdeu a visão quando ainda era um bebê, por conta de uma retinose pigmentar. O atleta conheceu a modalidade por meio dos irmãos, que já praticavam o esporte e possuem a mesma doença que ele. Além do ouro em Tóquio, ele já havia conquistado o bicampeonato nos Jogos ParapanAmericanos (Lima 2019 e Toronto 2015); na mundial de Malmö 2018 e Finlândia 2014).

E agora falando sobre Halterofilismo… A disputa por uma medalha na modalidade do Halterofilismo, esporte que tem como regra o levantamento de peso de forma a realizar movimentos validados por um árbitro, teve uma equipe brasileira de peso nas paralimpíadas de Tóquio deste ano. Dentre o grupo brasileiro de concorrentes nessa modalidade, dois paratletas negros de alto potencial estiveram presentes, são eles: o baiano Evânio Rodrigues, de 36 anos, que tem três medalhas de ouro e duas de prata em competições mundiais e mais uma de prata nas paralimpíadas do Rio de 2016, e a carioca Tayana Medeiros, que tem consigo um recorde no levantamento em 2019 e duas pratas no mundial da modalidade em 2021.

Estes só foram alguns dos diversos atletas negros que marcaram presença nessas edições de Tóquio, muitos com medalhas e muitos com posições históricas, batendo seus próprio recordes e mostrando a diversidade e importância da representatividade entre os atletas PCDs.

Para não fechar por aqui, importante citar o campeão Thiago Paulino que chegou a dormir com o anúncio de sua medalha de ouro do arremesso de peso F57, mas teve dois de seus arremessos invalidados e terminou com a medalha de bronze. Segundo o Comitê Paralímpico Brasileiro “A China protestou durante e depois da prova, a arbitragem não acatou. China foi ao júri de apelação, que é uma instância do IPC, o júri recebeu e deu provimento. O Brasil apresentou imagens das transmissões de TV dos arremessos em que não havia qualquer indício de infração no movimento de arremesso do atleta, mas a alegação do júri é que o vídeo acusatório seria de outro ângulo, mas se recusou a mostrar o vídeo que embasou a decisão.”

 

View this post on Instagram

 

A post shared by NINJA E.C (@ninjaesporteclube)

Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube