Na introdução da canção “A Vida É Desafio”, gravada ao vivo pelo renomado grupo Racionais MC’s, o rapper Mano Brown afirma: “Tem que acreditar. Desde cedo a mãe da gente fala assim: ‘filho, por você ser preto, você tem que ser duas vezes melhor’. Aí passado alguns anos eu pensei: como fazer duas vezes melhor, se você está pelo menos cem vezes atrasado, pela escravidão, pelo preconceito, pela história, pelos traumas, pelas psicoses, por tudo que aconteceu? Duas vezes melhor como? Você é o melhor ou o pior de uma vez. Sempre foi assim. Se você vai escolher o que estiver mais perto de você ou o que estiver dentro da sua realidade, você vai ser duas vezes melhor como? Quem inventou isso aí? Quem foi o pilantra que inventou isso aí? Acorda pra vida, rapaz!”.

A não premiação de Vinicius Jr. como o melhor jogador do mundo este ano parece refletir essa realidade. Apesar de seu desempenho excepcional em campo e de ter brilhado no futebol mundial, conquistando uma Champions League contra o próprio vencedor da Bola de Ouro, o racismo institucional parece ter dado um recado claro.

Vini Jr. é um atleta que não se cala diante das injustiças. Ele enfrentou a Espanha ao denunciar torcedores racistas do Atlético de Madrid que o insultaram com ofensas raciais. No entanto, o problema é mais profundo: o mesmo racismo que ecoa nas arquibancadas também permeia as instituições, manifestando-se como racismo institucional, um fruto amargo do racismo estrutural.

A forma como o racismo se manifesta na sociedade é cruel. Nossos ídolos, mesmo alcançando o topo, continuam sendo alvos de ataques racistas, de manobras do sistema e de respostas cínicas em premiações. A luta de Vinicius Jr. é um lembrete de que, apesar dos avanços, ainda há um longo caminho a percorrer na busca por igualdade e justiça.