Nos últimos dias, li perplexo que a família de Vladimir Herzog enviou uma carta ao governador Tarcísio de Freitas pedindo que a Escola Estadual que leva o nome do jornalista assassinado pelo governo militar durante a ditadura não seja transformada em um colégio cívico-militar. Essa notícia me fez refletir: será que esse modelo de escolas, promovido como uma solução educacional que preza pela disciplina e pela ordem, é realmente o que precisamos? Vamos pensar sobre isso.

O conceito de escolas cívico-militares resgata uma ideia que remonta aos anos de repressão da ditadura militar, um período sombrio da nossa história. Naquele contexto, o objetivo era evidente: formar uma juventude que obedecesse sem questionar. A educação era moldada para produzir submissão e sufocar qualquer tentativa de pensamento crítico ou oposição. Hoje, o que vemos é uma tentativa de reviver esse modelo autoritário, disfarçado de eficiência educacional.

Ao impor regras rígidas, uniformes e uma hierarquia militarizada, essas escolas tentam formatar o comportamento dos estudantes, desestimulando o pensamento autônomo. Em vez de preparar cidadãos críticos, engajados e capazes de enfrentar os desafios democráticos do presente, cultivam uma mentalidade submissa e conformista.

Essa lógica é uma herança direta da ideologia anticomunista que justificou o golpe militar. Durante a ditadura, o currículo escolar era manipulado para demonizar qualquer pensamento que fugisse do controle do regime. Ideias consideradas subversivas, especialmente as identificadas como comunistas, eram vistas como ameaças à segurança nacional. Esse discurso de ódio e medo continua ecoando até hoje.

Nas escolas cívico-militares, essa visão ultrapassada persiste. Alimenta-se a fantasia de um inimigo ideológico invisível, perpetuando um ciclo de perseguição e censura. Esse controle sobre o pensamento jovem é exatamente o que o governo militar buscava: manipular a educação para dominar mentes e sufocar qualquer movimento de resistência.

Durante a ditadura, o controle sobre o que podia ser ensinado era total. Livros, filmes e até conversas em sala de aula eram censurados. A educação era limitada para impedir questionamentos ao regime. Ao adotar o modelo cívico-militar hoje, estamos permitindo que essa lógica autoritária se perpetue.

O ensino livre e plural é essencial para o desenvolvimento de uma juventude crítica e consciente. Restringir currículos e impor diretrizes rígidas sobre o que deve ou não ser ensinado é abrir mão da diversidade de ideias e do pensamento verdadeiramente autônomo.

As escolas cívico-militares impõem um controle sufocante sobre a individualidade dos estudantes. Ao limitar sua liberdade de expressão e impor uma obediência cega, estamos destruindo aquilo que temos de mais valioso: a criatividade, o pensamento crítico, a diversidade e, consequentemente, a capacidade de imaginar um mundo melhor.

Estaremos formando uma geração que encontra dificuldades em questionar, propor e se posicionar de forma independente.

Qualquer semelhança com a ditadura não é coincidência. Esses modelos educacionais foram criados para garantir controle social. Hoje, diferente de 60 anos atrás, vencemos a mordaça imposta pelo regime militar e precisamos usar nossa voz para combater esse retrocesso.

Como presidente da UBES, estou comprometido em enfrentar todas as tentativas de impor um modelo educacional que oprime e silencia. Defendemos uma educação livre, plural, democrática e comprometida com a formação de cidadãos críticos e conscientes. A juventude brasileira merece muito mais do que disciplina cega. Merece o direito de pensar, questionar e transformar o mundo.