A fundação do Rio e o início do fim
Hoje o Rio de Janeiro completa 456 anos. A fundação da cidade, realizada por um capitão, significou, para a maioria de seus moradores, o início do fim.
Hoje o Rio de Janeiro completa 456 anos. A fundação da cidade, realizada por um capitão, significou, para a maioria de seus moradores, o início do fim. Acredita-se que há milhares de anos o ser humano pré-histórico já se banhava nas águas da Baía de Guanabara e baleias grávidas vinham passar seus últimos dias de gestação em suas águas cristalinas. No início do século XVI, contavam-se pelo menos 85 aldeias em volta da Baía e em cada uma delas, moravam entre 500 e 3000 indígenas.
No dia 1o de Março de 1565, a mando de um rei de 9 anos de idade, o capitão viajou para o Rio de Janeiro com a missão de “produzir um fato”: a fundação da cidade! O texto do escrivão para a postagem e as testemunhas deveriam assegurar que o Rio, fundado dez anos antes por outra facção, era agora, território português. Sim, estamos falando da disputa por território que nos assola até hoje. Chovia muito, o capitão, acompanhado por alguns poucos seguidores, aportou na pequenina praia da Urca, então uma ilha, e mandou que erguessem um muro feito de areia e madeira. O capitão mandou que colocassem uma porta no meio, para a produção da postagem e ordenou que um porteiro trancasse a porta e ficasse do lado de dentro, como num teatro ruim. Ordenou que o porteiro gritasse: “quem vem lá?”. E o capitão respondeu: “Estácio de Sá, governador do Rio de Janeiro que pede pra entrar!”. E entrou! Notícia criada, fato produzido, agora era postar e pedir pro gado espalhar.
A partir do dia da sua fundação, o Rio de Janeiro passou a viver sob o fogo cruzado! De um lado da Baía, no outeiro da Glória, ficava a facção franco-tamoia e, do outro lado, na Urca, estava a facção luso-temiminó, consideravelmente menos populosa e com tudo para perder essa guerra. Para cada homem na Urca, havia cem homens na Glória. Foram dois anos de ataques até a Batalha de Uruçumirim, marcada pro dia 20 de janeiro de 1567. Durante a batalha, o exército composto por poucos portugueses e muitos temiminós, abriu caminho até o Catete, onde se viu encurralado e obrigado a subir a Ladeira da Tavares Bastos. De lá, conseguiram avistar a Confederação dos Tamoios de mais perto. “Uau! É uma população!”. De repente e ainda sob flechas, o capitão avista o acampamento onde os franceses estavam escondendo o seu arsenal. Berra pros temiminós, “se um de vocês conseguir escalar o outeiro e jogar um desses seus cachimbos acesos naquele arsenal, venceremos a guerra e ficaremos no poder por mil anos! KKK”, gargalhou o capitão. Silêncio temiminó. Nesse momento, uma baleia esguicha vermelho e parte. O capitão berra, desviando das flechas: “Aquele português que cumprir essa missão, eu dou São Cristóvão!”. Silêncio luso. Nessa hora, Araribóia dá um passo a frente, desvia de uma flecha e diz: “Eu vou! Eu quero essas praias!”. Cinco horas depois, a explosão pôde ser ouvida de Cabo Frio! Quando estavam embarcando na praia do Flamengo pra voltar pra Urca, a facção luso-temiminó sofreu um novo ataque, agora pelos poucos filhos dos tamoios que tinham acabado de ser explodidos. Os robôs da época disseram que, nesse momento, “o capitão, fundador da cidade do Rio de Janeiro, foi atingido por uma flecha perdida que o pegou de raspão”. Mas os relatos indígenas dizem que foi um menino tupinambá, recém órfão, que acertou o capitão dentro do olho esquerdo, com uma flecha envenenada, que o levou à morte um mês depois. Os portugueses avançaram pela Baía, já sem baleias, levando 10 soldados à francesa pra enforcar na praia da Urca, numa grande comemoração! Afinal, apesar das perdas, a guerra estava ganha, a cidade estava finalmente fundada, a postagem na porta de areia já havia se espalhado pelo mundo e o território agora estava sob o comando de uma nova milícia local: os fundadores da cidade do Rio de Janeiro.
Nota: Não me atenho aqui ao relato do historiador mas, a partir dele, permito que a imaginação crie “situações” e “sínteses” para tentar compreender o que parece, até hoje, tão incompreensível.