Por Matías Muñoz

Hoje, no gigante Centro de Convenções Messe, na cidade de Munique, onde está ocorrendo o #AIDS2024, tive o privilégio de participar de uma sessão organizada pela Sociedade Alemã da AIDS (DAIG e.V.) que me deixou esperançoso.

Eu sabia que seria testemunha de uma história emocionante: a do “Paciente de Düsseldorf”, Marc Franke, que foi curado do HIV como consequência de um transplante de células-tronco.

O transplante de células-tronco, embora promissor em casos específicos como o de Marc Franke, Timothy Ray Brown e outras 5 pessoas no mundo, não é uma opção viável para todas as pessoas com HIV devido à sua complexidade e riscos associados. Este procedimento, originalmente utilizado para tratar certos tipos de câncer, implica na destruição do sistema imunológico do paciente e sua posterior reconstrução com células-tronco compatíveis, um processo que acarreta um alto risco de complicações e mortalidade. Além disso, requer um doador compatível, o que é raro. Por essas razões, o transplante de células-tronco é considerado uma opção extrema e não uma solução prática para a maioria das pessoas com HIV.

A combinação da ciência rigorosa e da experiência pessoal de Marc criou uma narrativa poderosa que destacou tanto os avanços da medicina quanto a resiliência humana. Ver como a ciência e a humanidade se entrelaçam é um lembrete da necessidade de trabalhar em conjunto, de dar nome e rosto aos casos, de incluir a experiência pessoal para melhorar os resultados.

Ao concluir a sessão, foi aberto um espaço para perguntas e comentários, e foi evidente que todos os presentes compartilhavam um sentimento comum: esperança.

A história de Marc Franke é uma prova viva de que a cura é possível, mas para que essa esperança se torne realidade para todos os afetados, precisamos de um compromisso sólido de investimento público em pesquisa. É crucial que esse investimento seja livre de interesses econômicos que possam obscurecer o bem comum.

Assim, com Estados comprometidos com a ciência e a tecnologia, poderemos assegurar que a cura chegue e esteja ao alcance de todas as pessoas.

Diz Javier Hourcade em uma interessante nota para Corresponsales Clave que recomendo: “Nos preocupa que esses pacientes curados tenham se transformado em pregadores como consequência de um quase milagre científico”. É possível que o tratamento que a mídia dá a esse tema seja sensacionalista e bastante distante da realidade das milhões de pessoas que vivem com HIV? Sim. Mas também é verdade que toda oportunidade que o movimento de resposta ao HIV tem de se tornar visível em tempos de retrocessos pode ser um bom presságio.

Foto: Oliver Kornblihtt

Esse texto artigo de opinião foi escrito por Matías Muñoz, um ativista vivendo com HIV.