A democracia não veste toga
O atual presidencialismo brasileiro – um presidencialismo sem presidente – tem criado um cenário de rearranjo do sistema político através de uma cúpula tupiniquim.
São cada vez mais presentes nos meios de comunicação informações de articulações que envolvem todos os últimos ex-presidentes. Sarney, FHC, Lula e outros coronéis das elites nacionais. Em pauta está a “transição ajuizada”, como defendem os líderes do PSDB. Leia-se: eleições indiretas.
Com o retórico argumento de recuperação econômica do país, o famoso “jeitinho brasileiro” entra novamente em cena. Um pacto entre “donos do poder” avança e nomes, como Jobim e Tasso Jereissati, já são aventados.
Mas o que fica nítido é que o verdadeiro presidente é o conjunto de Reformas Trabalhistas e da Previdência. Que somado à PEC dos Gastos é um ataque impiedoso aos direitos conquistados pelo povo.
Desta forma, não importa se o presidente é ciclano ou beltrano. Para ser um presidenciável, nesse caso, é preciso ter um único predicado: o compromisso com essa agenda de retrocessos. Ou seja, o “jeitinho brasileiro” caminha para uma mudança onde nada muda.
O governo Temer, que já era ilegítimo, perdeu completamente as condições políticas para levar à frente tal agenda. E, nas penumbras da política, uma eleição indireta é articulada. Nada é mais insano para o momento político do que uma eleição indireta. Como aceitar que um novo presidente seja escolhido por um Congresso Nacional repleto de réus e indiciados? Como aceitar que essa casta política somada ao empresariado – responsáveis pelo atual quadro de instabilidade – continue a ser o establishment político?
Por outro lado, é inegável que setores do judiciário, de forma nem tão subterrânea assim, tentam aprofundar a criminalização da política. Impulsionados pela República de Curitiba, o poder de viés mais aristocrático e antidemocrático do país trilha caminhos para ascensão ao Poder Executivo. A ministra do STF, Carmen Lúcia é uma das cotadas a assumir a presidência em uma eleição indireta. Ayres Britto, Gilmar Mendes e Jobim são outros nomes do judiciário brasileiro que foram ventilados para o posto. Contam, para isso, com empresas que monopolizam a comunicação e que propagandeiam os impropérios da Operação Lava-Jato como um novo modus operandi de combate a corrupção. Aproveitando-se da justa indignação popular e do crescente descrédito nos políticos e na política, essas empresas constroem passo-a-passo uma narrativa que resume a política a uma questão técnico-gerencial.
Tal caracterização gira os holofotes da opinião pública apenas para o combate à corrupção, negligenciando a agenda política adotada, que é de amplo e total desmonte do Estado e dos direitos adquiridos na Constituição de 88.
Sonhos acontecem quando a gente vai à luta
Momentos de crise também são momentos de oportunidades. A maior resposta que podemos dar aos que, nos bastidores, buscam salvar o status quo, “desideologizando” e “despolitizando” a política, é a aposta no ativismo cidadão. Só ele será capaz de pintar um quadro de mudanças reais e sistêmicas.
Cabe ao PSOL e as esquerdas terem, nesse momento, nitidez programática para compor uma aliança, à quente, com as demandas populares e o crescente sentimento de mudança que paira no ar. As mobilizações pela derrubada de Temer e pela garantia das eleições diretas são o caminho para barrar as reformas da previdência e trabalhista.
Não queremos uma troca de presidente apenas, queremos um novo governo! Com uma agenda de garantias e ampliação de direitos, de aposta na participação popular como um campo privilegiado de elaboração dos rumos políticos.
Nesta crise profunda em que o país está imerso, não há outra saída que não seja pela ampliação do horizonte democrático.
Cabe ao povo, o soberano da democracia, encontrar nas urnas e nas ruas as soluções para o Brasil. Foi esse o recado dado pelas massivas mobilizações do dia 18 de maio último que, convocadas da noite para o dia, ocuparam as ruas de diversas capitas do país. No mesmo espírito, mais de 100 mil pessoas lotaram a praia de Copacabana, na semana seguinte, no ato-show que contou com a presença de Mart`nália, Teresa Cristina, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Mano Brown, Criolo, Zezé Motta, e tantos outros artistas.
É hora da mulherada disputar os rumos
Há um diálogo entre as personagens Maud (Carey Mulligam) e Steed (Brendan Gleeson), no filme As Sufragistas, que reflete o tamanho de nossos desafios:
Maud (Carey Mulligan) – A guerra é a única língua que os homens entendem
Steed (Brendan Gleeson) – Não resta nada a não ser detê-la
Maud – Estamos em todos os lares, somos metade da raça humana, não há como deter todas nós
Steed – Você pode perder a vida antes que isso acabe
Maud – Nós vamos vencer!
Os rumos do país estão em nossas mãos, nas mãos dessa mulherada.
Não sairemos das ruas! Levaremos nossos corpos, sonhos, desejos, corações e afetos num grande movimento em defesa da democracia e de nossos direitos.
Sozinha eu ando bem, mas com você ando melhor! Esse lema embalou grandiosas mobilizações. Vamos entoá-lo novamente! Nosso hoje e nosso amanhã precisam da luta coletiva. Vamos juntas.
Diretas já! E eleições gerais!