A cultura ‘vai pra cima’ de André Sturm
Depois de chamar os movimentos da periferia pra treta, o Secretário de Cultura de SP está nas cordas.
O movimento de cultura da cidade de São Paulo deu um sinal de força e resistência à gestão municipal, sob comando do tucano João Doria, vulgo “João Gestor”. Após ocupar durante 24h a Secretaria Municipal de Cultura, o grupo desocupou o local em marcha até o Teatro Municipal.
A ocupação reivindica a saída imediata do Secretário de Cultura, André Sturm, protagonista do desmonte de diversos programas e projetos da pasta, e que ameaçou partir para cima de um agente de cultura da periferia. Além disso, exige o descongelamento do orçamento da cultura, que está em cerca de 43%.
O desmonte da cultura
O primeiro começa em janeiro, quando Doria escolheu o diretor do badalado Museu da Imagem e do Som (MIS), André Sturm, para assumir a pasta da cultura. Desde então, fracasso sobre fracasso deram o tom da “gestão”. A escolha de Sturm agradou setores da cultura mais elitizados e deu um sinal de alerta para a periferia, historicamente negligenciada pelo poder público.
A medida seguinte veio em consonância: o congelamento de 43% do orçamento da pasta, afetando diretamente programas e projetos, tanto em execução como os futuros.
No entanto, o que de fato mobilizou a cultura a ocupar as ruas foi a medida posterior: Sturm derrubou edital de fomento à dança avaliado em 5 milhões de reais, que atenderia diversos grupos já selecionados. A justificativa foi de que não houve publicidade, e algumas companhias haviam sido beneficiadas em função disso.
Dias depois, o edital foi relançado, com 500 mil reais a menos, e com possibilidade de menos grupos serem contemplados. Foi a partir disso que nasceu a primeira manifestação e a criação da Frente Única de Cultura (FUC).
Muitas outras retiradas de programas culturais se somaram: o do programa PIÁ, voltado para educação vocacional de jovens da periferia. Cerca de 200 profissionais e 4 mil crianças perderam acesso ao programa.
O primeiro teste de grande evento dessa “gestão” Doria e Sturm, a Virada Cultural, se mostrou pífia, esvaziada com as alterações de espaços, uma “descentralização” que focou em espaços que a Prefeitura pretende privatizar, como o Autódromo de Interlagos e o Jockey Club
A ocupação “vai pra cima”
O estopim veio na última semana, quando Sturm ameaçou partir para cima de um agente de cultura de Ermelino Matarazzo, na Zona Leste, após ser cobrado por investimentos na Casa de Cultura do bairro. Ele também ameaçou fechar o espaço, que disse não pertencer à população, mas ao governo.
Além disso, a Secretaria interferiu diretamente no resultado do edital VAI, ao excluir cinco projetos selecionados. O programa, principal fonte de financiamento para projetos de pequeno porte e das periferias, remunera as pequenas iniciativas em até 80 mil reais, e teve 33% de diminuição de verba neste ano. A denúncia foi realizada pelos próprios julgadores, que decidiram não assinar a ata final sem uma reunião com Sturm.
Foi esse o impulso necessário para a ocupação da secretaria. Depois, um pedido de demissão de Sturm com mais de 6 mil assinaturas foi entregue nas mãos de João Doria pela Frente Única da Cultura.
O protagonismo periférico
É importante frisar que, apesar da grande reunião de coletivos e agentes culturais de todas as partes, há protagonismo dos movimentos culturais da periferia nessa ação política que desencadeou na ocupação.
Os grupos vem atuando com força pela Lei de Fomento à Cultura na Periferia desde a gestão anterior, e agora se coloca como ponta de lança mais uma vez para resistir ao desmonte da cultura na cidade.
Balança Sturm
Apesar de não enxergar legitimidade nas reivindicações do movimento, Sturm balança na cadeira. Mesmo entre seus funcionários na pasta, há rejeição à sua atuação. Isso ficou claro com a ocupação, que dividiu o espaço da Secretária com os funcionários públicos. Mesmo sem manifestações públicas, houve apoios discretos dos trabalhadores. O que prova como Sturm, que perdeu também a própria equipe, está nas cordas.
Duas ações reforçam essa tese: Sturm inicialmente fugiu pelos fundos do prédio quando a secretaria foi ocupada, inviabilizando qualquer tipo de diálogo, ao qual ele se recusou até o fim. Depois, ontem (1), preferiu trabalhar da biblioteca Mário de Andrade, também no centro, para evitar contato. Foi surpreendido por ativistas, e, como virou costume, saiu pela porta dos fundos.
Também deve ser assim que sairá do comando da pasta.
Cursinhos Populares na linha de frente
O cursinho popular UNEAFRO foi para a linha de frente da manifestação contra os congelamentos. A instituição que leva capacitação para jovens da periferia que anseiam entrar no ensino superior público, está sob risco com a paralisação das verbas. Parte dos jovens recebem um valor do programa Bolsa Cursinho, que garante estudo integral para o vestibular.
O financiamento foi prometido pelo Secretária Municipal de Desenvolvimento, Trabalho e Empreendedorismo, no entanto o líder da UNEAFRO, Douglas Belchior, salienta que sucessivos avisos estão sendo enviados sobre o cancelamento do benefício, que afetará cerca de 250 jovens, tanto da sua instituição, quanto do cursinho popular Mafalda, também voltado para adolescentes da periferia.