Por ignorância e preconceito, atletas intersexo do atletismo não estão nas Olimpíadas
Atletas intersexo desafiam os padrões do binarismo de gênero no esporte, enquanto lutam por um espaço que lhes foi retirado
Por Mariana Walsh
A atual edição dos Jogos levanta a bandeira da diversidade e igualdade de gênero, porém isso não condiz com o que as atletas intersexo precisam enfrentar no cenário esportivo mundial. A prova dos 800m do atletismo feminino em Tóquio não conta com a presença das atuais medalhistas olímpicas, Caster Semenya, Francine Niyonsaba e Margaret Wambui, que estão barradas da prova por fazerem parte desse grupo.
Pessoas intersexo são aquelas que desenvolvem naturalmente características sexuais que não se encaixam nas noções de sexo feminino ou masculino existentes. Ou seja, são corpos que fogem do ideal de corpo biológico normativo estabelecido como padrão, e não se encaixam no modelo fisiológico e fenotípico determinado pela sociedade. No meio esportivo, são elas que deixam a questionar o binarismo de gênero.
Em 2018, a World Athletics, instituição que gere o atletismo mundial, decidiu introduzir novas regras para as corridas de meia distância, e com isso, as atletas que possuem níveis elevados de testosterona, não podem competir caso não diminuam seus hormônios. A entidade alega que a testosterona alta é uma vantagem em provas desse tipo, e com a nova determinação, pretendem “garantir uma competição justa”.
A solução proposta para quem quiser seguir competindo é baixar os níveis com injeções ou pílulas anticoncepcionais, ou realizar uma intervenção cirúrgica. Porém, muitos que se encontram nessa situação se recusam a alterar seus corpos e tomar medicamentos, sob o argumento de que essa alteração hormonal é natural, diferentemente do que acontece em um doping.
A sul-africana campeã olímpica da prova dos 800m, Semenya, até tentou desafiar a regra e entrou na justiça desportiva para reverter a decisão. Como defesa, ela afirmou que o órgão quer determinar “quem é mulher ou não”. Infelizmente, seu ponto de vista não foi aceito e ela perdeu em todas as instâncias.
Em Tóquio, essas atletas não estarão presentes, mas é importante refletir sobre o tema. Para elas, que sempre competiram, lhes foi tirado o direito de fazer o que amam, por não se encaixarem no padrão. Para quem dedicou a sua vida ao esporte, esse é um fim um tanto quanto injusto. Como enquadrar algo complexo em um sistema binário? Se o ideal é de inclusão, é preciso que isso atinja a todos
Texto elaborado em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube