“A arte, para mim, é também um instrumento político”, defende Itamar Vieira Jr.
Literatura latino-americana, mercado editorial brasileiro, o papel dos sebos e livreiros, bem como a Academia Brasileira de Letras são mais alguns assuntos abordados na conversa.
O livro Torto Arado virou um fenômeno da literatura nacional: publicado em Portugal em 2018 por falta de interesse das editoras, ganhou o prêmio Leya e, desde então, vem batendo recordes. Traduzido em mais de 20 países, garantiu também ao seu criador o Prêmio Jabuti e o Prêmio Oceanos em 2020. Seu autor vive viajando o Brasil e mundo afora para falar a respeito do livro em festivais e eventos literários. Atualmente, a obra está sendo adaptada para o audiovisual e deve virar série em plataforma de streaming.
Foi com esse livro que o escritor baiano Itamar Vieira Junior, 44 anos, se consagrou no mercado editorial brasileiro e no mundo. Mas ele também é autor de outros livros de qualidade e acabou de lançar a obra Salvar o Fogo, que tem tido uma boa aceitação do público e da crítica. Ela faz parte da trilogia que ainda será complementada com outro livro junto ao seu best seller. Vieira é geógrafo e doutor em estudos étnicos pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), além de servidor do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) há mais de 15 anos, do qual se encontra afastado para seguir sua vocação.
Sua experiência profissional junto aos sem terras, quilombolas, indígenas e demais povos tradicionais do campo e das florestas está traduzida profundamente em suas obras. A questão fundiária, a exploração e opressão contra os desfavorecidos, dentre outros elementos que compõem a história política e cultural da nossa sociedade estão presentes de forma visceral nos seus livros. Segundo ele, é uma forma de conscientizar e fazer as pessoas entenderem sua própria história.
Em entrevista à Mídia Ninja, Itamar fala sobre o papel político do escritor na sociedade. Ele se posicionou claramente a favor de Lula nas últimas eleições, mas não se poupa de fazer críticas construtivas ao atual governo. Na sua opinião, não tem como dissociar a arte da política e vice-versa. Tem utilizado sua posição atual para pautar temas relevantes, como o combate ao racismo ao defender a indicação de uma mulher negra ao Supremo Tribunal Federal (STF) e a necessidade de reforma agrária. Literatura latino-americana, mercado editorial brasileiro, o papel dos sebos e livreiros, bem como a Academia Brasileira de Letras são mais alguns assuntos abordados na conversa a seguir.
Você teve uma experiência profunda com o Torto Arado com uma visibilidade enorme em diversos países. Como está a recepção do público ao seu novo livro? A sua expectativa está sendo correspondida?
O livro foi lançado simultaneamente no Brasil e em Portugal, diferente de Torto Arado que foi lançado seis meses antes lá por causa do prêmio Leya, pois não tinha editora. Acho que o novo livro teve um começo excelente, os leitores foram comprar em peso. Fiz uma espécie de tour com nove lançamentos em capitais no Brasil, fora os festivais que tenho participado. Foi muito bom encontrar os leitores, porque Torto Arado aconteceu pouco antes da pandemia. Nesses meses de lançamento, já fui a Portugal duas vezes e sete editoras estrangeiras adquiriram os direitos autorais para tradução.
Em várias entrevistas você cita escritores brasileiros da década de 1930 como suas referências, mas, na entrada do seu novo livro, tem uma frase de Juan Rulfo, expoente escritor mexicano. Até que ponto a sua perspectiva está inserida no realismo fantástico latino-americano?
Sou mais leitor que escritor, e a literatura latino-americana, para mim, tem grandes referências com as suas especificidades. Primeiro porque a gente sai um pouco desse lugar da razão europeia de ver e ler o mundo, é algo que tem muito mais ressonância entre nós. Esse elemento que muitos chamam de “mágico” para mim é só mais uma perspectiva que elegeram sagrada e tradicional de ver o mundo, que encontra eco no ambiente onde eu vivo e na minha história. Por isso [Gabriel] García Márquez e tantos outros autores do Caribe, como Jacques Roumain e Jamaica Kincaid, me ajudaram a fazer uma leitura melhor do mundo e da minha própria história. Mas não sou muito adepto do termo “realismo mágico”. García Márquez dizia: escrevo realismo, conheço a América Latina e é simplesmente outra maneira de vocês verem e reverem o mundo.
Quando escrevo, surgem determinados elementos que, para nós que vivemos na cidade e fomos educados a partir dos pressupostos da colonialidade, dizemos que isso é “mágico” ou que “não existe”. Mas vou por um caminho contrário. Estou falando de pessoas, narrando a vida de personagens, onde aquilo faz sentido para a vida deles. Isso tem na fé no interior do nordeste, nas crenças nas religiões de matriz africana, no catolicismo popular, etc. Todos guardam essas referências do místico, do sagrado em diálogo permanente com as pessoas. Então tento narrar como se ali estivesse assumindo a perspectiva daquelas personagens transmitindo ao leitor que há muitas maneiras de ver e viver o mundo, e que não é só a sua a correta. O espírito, para você, pode não fazer parte do nosso cotidiano, mas para outras pessoas é uma regra. Para mim, o rio pode ser um recurso natural enquanto para algumas comunidades é um sujeito de direito, um ancestral e a história daquele local. Essa multiplicidade de perspectiva me interessa.
Esses elementos todos do catolicismo e dos conhecimentos tradicionais estão neste seu novo livro. Você tem falado sobre o “Brasil profundo”, gostaria que explicasse melhor essa nossa formação social, cultural e política nas entranhas do país.
Não é um catolicismo popular, já é nos moldes tradicionais que também existem e oprimem as pessoas. Isso guarda uma relação forte com a nossa própria história. O Brasil é essa imensidão diversa, rica, com muitas origens, um território do tamanho de um continente e ocupado em áreas e etnias desiguais em diferentes momentos da história. Tem uma frase na última parte de Torto Arado em que a narradora é uma encantada: “foi cavalgando o seu corpo que descobri que o passado não nos abandona”. Talvez seja essa a consciência que tenha me despertado.
Você se refere à ancestralidade?
Esse tema sempre esteve em voga, só que de diferentes maneiras. Muita gente privilegiada cultua os nomes da família: um barão, um conde, etc, ou seus bens ao citar que tal fazenda está com eles há 300 anos. É algo que faz parte da condição humana, mas quando os subalternizados falam de ancestralidade tem quem diga: ah, lá vem a galera da ancestralidade! Vivemos hoje como se a nossa história coletiva não fizesse parte da nossa vida, a história que decidiu em qual lugar e condições cada um de nós nasceríamos. Não chega a ser um determinismo, mas nossa vida está condicionada em parte por isso e as pessoas negam de muitas maneiras. Os negros e indígenas têm as piores escolaridades, salários, etc, e isso tudo está vinculado à nossa história, ao colonialismo e à escravidão, que determinaram o ranking de vida e valor ainda não desconstruído. Estamos num movimento de desconstrução, mas ainda não ruiu por inteiro. Essa consciência me leva a escrever sobre esses personagens, que vivem num mundo muito contemporâneo parecido ao nosso. Estamos falando de permanências, como em Torto Arado, que é um livro que se passa no país pós-abolição, mas poderia ser agora. No Salvar o Fogo, coloco um celular em certo momento, então a vida daquelas pessoas continua arcaica, explorada e precária, mas essa modernidade e arcaísmo coexistem no Brasil de uma maneira muito presente. Esses personagens, seja pelo caminho da espiritualidade ou ressignificação da própria história, nos levam a uma história coletiva que pertence a todos nós. Neste livro, a vida das pessoas está ao redor do mosteiro, que ainda define o rumo das pessoas na comunidade, como o próprio foro pela terra.
O episódio da pedofilia na igreja, por exemplo, vem nessa desconstrução e pode até soar mal para o conservadorismo da nossa sociedade, mas retrata uma realidade que existe há muitos anos.
Serve de metáfora também para falar sobre os abusos que foram cometidos e perpetrados no passado. Não que o sexual não existia, mas tinha outros até piores. A igreja foi durante alguns séculos a maior detentora de escravizados no Brasil. Pesquisas mostram que era dona de fazendas e as pessoas não tinham liberdade e eram exploradas por ela. Poucas pessoas falam sobre isso, o empreendimento colonial escravista só foi exitoso porque havia um lastro muito grande pelas instituições e a igreja. Essas coisas afetam o nosso cotidiano ainda hoje, embora a gente ignore. Por isso, essas personagens vivem nos nossos dias e estão fazendo a gente pensar e refletir nossa história. Talvez essa tríade nos convoque a pensar o Brasil dessa maneira, um país ainda impregnado de uma história que determina a vida de muitas pessoas.
Qual o papel sociopolítico do escritor na nossa sociedade? Há bastante tempo não víamos escritores se posicionando publicamente de forma tão contundente, e o próprio mercado estava cheio de livros de autoajuda e outros gêneros.
O escritor não é muito diferente do cidadão de uma maneira geral. Todos somos seres políticos e arte para mim é também um instrumento político. Não há como dissociar arte e política. Pelos espaços que passamos a ocupar, mesmo sem querer, os holofotes estão sobre nós e querem saber sobre o que pensamos. Nem sempre é necessário falar, mas em determinados momentos a gente não deve se furtar. Vivemos ano passado um momento crucial, por exemplo. Não era uma eleição qualquer: estava em jogo a democracia. Não havia muro para estar em cima, era necessário falar e participar ativamente. A literatura tem autores que não se inibiram de participar ativamente da política só porque escreviam: Sartre, Jorge Amado, etc. Eles participavam dizendo o que pensavam. Preciso desse espaço para as pessoas refletirem sobre determinadas coisas, já que eu posso provocar o debate público. Não sei nem se tenho essa capacidade, mas sempre que me provocam falo e estou escrevendo sobre o que é relevante ao meu tempo. Essa reflexão pode encontrar ou não eco em outras pessoas. Isso faz parte da nossa diversidade de pensamento e espectro político.
Houve um fenômeno na nossa literatura que agregou diversos escritores e intelectuais no início do século passado na editora José Olympio, que publicou autores como Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, José Lins do Rego e tantos outros que você volta e meia cita. Como enxerga o mercado editorial hoje?
Vem mudando, não por benevolência ou vontade própria, mas por demanda e sobrevivência. Quem está provocando essa mudança são os leitores, que se interessam por histórias que evoquem suas próprias vidas. Nos últimos 20 anos, com honrosas exceções, a literatura brasileira era praticamente urbana, escrita por homens brancos e quase centrada no eixo Rio-São Paulo, às vezes Porto Alegre. Há uma mudança no perfil da nossa sociedade e naqueles que estão provocando o debate. A lei de cotas vai completar 20 anos e provocou novos perfis que não tinham acesso às universidades e agora estão formados, estimulando novos debates que lhes interessam. Nunca se discutiu de uma maneira tão honesta e com tanta frequência o racismo no Brasil, por exemplo. Ainda há muito o que fazer, mas essa mudança já está em curso. Isso se reflete em todos os campos: nos debates, nas artes, interesses das pessoas, etc. Estamos num momento de encontro com a nossa própria história, aquelas histórias soterradas que eram invisibilizadas pelos privilegiados vêm à luz e as pessoas querem conhecê-las. Temos agora muitos autores de diferentes lugares e perspectivas publicando, autores da periferia, indígenas, negros, etc. Ou seja, o Brasil se encontra, e não é uma onda, é algo que veio para ficar. Existem mudanças estruturais significativas em nossa sociedade que, ainda que lentas, são irreversíveis.
Qual o cenário de distribuição das obras e o futuro do livro de papel frente às tecnologias? A Saraiva anunciou o fechamento de todas as suas lojas nesta semana.
Tenho observado uma mudança positiva nos últimos anos, apesar do fechamento da Cultura e da Saraiva. Acho que isso diz menos sobre livros do que ao modelo de negócio que essas livrarias tinham, que era cheio de livro de autoajuda sem uma curadoria e um livreiro. A falência de um modelo de negócio e outras livrarias abrindo, como a Travessa, que expandiu, por exemplo. Trabalhar com livro não é fácil, mas os números têm indicado que houve um aumento desde a pandemia nas vendas de livros e lucros das editoras. Claro que ainda há muita desigualdade no mercado, como a Amazon, que tem um modelo muito predatório e precisa de uma intervenção do Estado para regulamentar. A Lei Cortez [PLS 49/2015], que tramita no Senado, busca fixar um preço fixo do livro no primeiro ano, como existe em outros países. Não equinamizaria tanto, mas amenizaria um pouco a competitividade porque é impossível uma pequena livraria competir com a Amazon.
No lançamento de Salvar o Fogo teve uma estratégia importante: quem comprava o livro na pré-venda na livraria tinha um exemplar em capa dura e recebia um poster, e quem comprava nas grandes não. Criou um diferencial mantendo o preço igual até o lançamento, então temos que criar estratégias para garantir a existência dos pequenos. Não adianta você deixar tudo nas mãos das grandes, porque o algoritmo não substitui a humanidade do livreiro que lê o livro e sabe o que você pode gostar. O êxito dos livros muitas vezes depende desse contato de quem conhece o livro com o leitor. Por outro lado, tem lugares no Brasil onde não há livrarias e as pessoas precisam comprar por um site. Mas é importante buscar a equidade porque é muito desigual essa luta para o livreiro e o alfarrabista do sebo, que estão na ponta e merecem atenção ao tornar a literatura mais acessível às pessoas.
Os movimentos sempre foram aliados ao governo Lula, mas também tinham muitas críticas, sobretudo fundiárias. Veio o golpe e a ascensão do Bolsonaro levando todos para a campanha desse Lula ressignificado, que inclusive incorporou alguns movimentos no governo. Quais são as expectativas?
Eram mais otimistas. Na democracia, num governo que ainda não tem maioria no Congresso, ainda é preciso fazer coalizões. É um jogo de ganhos e perdas e a situação continua desfavorável para a gente, e imaginar um governo que precisa compor com o centrão é algo que nos deixa aflitos. Ao mesmo tempo, não há saídas fora da política, então é preciso equalizar sem que a balança penda mais para um lado do que para outro. Então tenho críticas, mas precisamos de um tempo e ter paciência, afinal, foram quatro anos de terra arrasada em todos os aspectos da vida social e política do país. É importante a sociedade estar atenta provocando e debatendo, como agora na campanha por uma mulher negra do STF. Não é uma questão apenas de representatividade, deveria ser um pacto de justiça histórico. No Tribunal Superior passam decisões que impactam a vida de todos, então como vamos ficar nas mãos apenas de homens brancos? Isso é muito importante, todos precisam ter voz naquele espaço. É impossível homens brancos decidirem, por exemplo, sobre o aborto que impacta sobretudo a vida de mulheres periféricas como um problema de saúde pública. É impossível julgar casos racistas apenas por homens brancos, ou seja, essa campanha é muito oportuna e teve iniciativa na sociedade civil. Precisamos provocar esse governo para que não haja retrocessos. Voltamos à normalidade e devemos aproveitar para participar ativamente, não apenas chancelar o que está sendo feito, mas também provocar mudanças mais céleres sobre o que impacta a nossa vida.
Você é um entusiasta e tem um profundo conhecimento sobre a reforma agrária a partir da sua experiência no Incra. Essa é uma das soluções estruturantes para tornar o Brasil mais justo?
A reforma agrária sem dúvida é uma delas e é um tema que não envelhece. O Brasil hoje é um grande produtor de grãos de alimentos, mas a maior parte disso é commodities. Em 2021 foram produzidas 1,2 toneladas por habitante, isso é muita comida e muita terra. O que justifica mais de 30 milhões de pessoas passando fome e quase metade da população em situação de insegurança alimentar? O Brasil produz commodities para a balança comercial e boa parte disso é exportado, nós não comemos só soja ou milho. Precisamos de uma alimentação diversificada, que é produzida pela agricultura familiar. O Brasil é um país profundamente desigual quando se trata de acesso à terra, e as nossas desigualdades têm origem nessa estrutura fundiária. Isso vem desde as capitanias hereditárias até a Lei de Terras, de 1850, que determinou que só quem podia pagar por ela teria acesso à terra. A falta de uma reforma agrária junto com o decreto de abolição, por exemplo, é uma grande ausência. Se olharmos para o campo brasileiro, boa parte desses agricultores que permanecem sem terras tem origem negra ou indígena. A reforma agrária é um tema que não envelhece e diz respeito à soberania alimentar de qualquer país.
Enquanto o Brasil não tiver uma política efetiva de reforma agrária teremos problemas nos outros campos. As pessoas vão continuar ocupando as periferias das cidades sem acesso ao trabalho, vamos continuar com inflação para alimentar as pessoas e problemas de abastecimento no país. Sem contar que o pequeno e o médio agricultor ainda têm uma maneira de produzir menos predatória que o agronegócio. Utiliza menos agrotóxico, menos fertilizante, etc, e no mapa coincidem as áreas de preservação com os territórios indígenas e quilombolas, além dos parques nacionais. Ainda é uma maneira de usar, viver e trabalhar no mundo, por isso a reforma agrária é um tema que não envelhece e gostaria muito que voltasse. Nos últimos anos saiu de pauta, mas isso não acaba nossos problemas.
Tem até bastante processo tramitando no Incra, o problema é o tempo que demora e muitas vezes seus resultados. O que emperra isso?
As coisas param na burocracia do estado, que é feita para muitas coisas não acontecerem. Quem faz as leis e determinam os processos ainda são um grupo muito privilegiado, aqueles que decidem a vida de muitas pessoas. Ontem [22/09] finalmente se decidiu pela inconstitucionalidade do Marco Temporal, mas olha quanto tempo levamos nesta discussão. Quantas vidas não foram sacrificadas por isso? Tivemos anos de paralisia de demarcação de terras indígenas e quilombolas. A instrução normativa é uma burocracia surreal, que faz com que o processo de regularização fundiária quilombola leve mais de 20 anos para ser concluído. Enquanto isso, as pessoas estão fragilizadas, vulneráveis, são assassinadas. Recentemente houve o assassinato de Mãe Bernadete, uma liderança quilombola da Bahia de 72 anos, que estava na linha de frente na sua comunidade. O processo dessa comunidade está tramitando desde 2008, e se o governo fizer de uma forma célere mas sem mudar a legislação vai levar mais de 10 anos para regularizar essa terra. Precisamos encarar esse problema de uma maneira honesta, desburocratizar para que as pessoas não esperem tanto tempo. Esses 30 anos acirram os conflitos, as comunidades não podem esperar. Precisamos pacificar os conflitos no campo.
Como está a renovação geracional da literatura brasileira? Você cita o Milton Hatoum e o Raduan Nassar, mas eles vieram depois de você. Pode nos citar alguns nomes?
A literatura brasileira tem vivido um momento bem pujante. Tem muita gente escrevendo a partir de muitas perspectivas e não tinham vez, e as grandes editoras têm publicado. As pequenas editoras sempre fizeram um trabalho muito interessante, mas as grandes estavam restritas a determinados grupos. Agora temos essas vozes falando da periferia, do campo, da Amazônia, então vejo um momento muito bom. Talvez essas últimas décadas seja o melhor momento da literatura brasileira pela qualidade do que é escrito e por essas vozes invisibilizadas que agora ecoam. Temos o José Falero, Eliana Alves Cruz, Jeferson Tenório, Socorro Acioli, Micheliny Verunschk, que ganhou o Jabuti no ano passado e é de Pernambuco. Estão escrevendo a partir de outras perspectivas e mostrando a nossa diversidade. São nomes importantes e tem muitos outros na nossa literatura.
Como você se sente sobre a possibilidade de se tornar um imortal e qual a sua visão sobre a Academia Brasileira de Letras?
A ABL ainda é um espaço muito restrito, espero que a Academia aponte para essa diversidade na sua composição. Fiquei muito feliz quando o [Gilberto] Gil foi escolhido, muito merecido porque é um autor importante de música e poesia, mas é um espaço que precisa ser mais diverso. Nunca pensei em ser imortal, e quando você está lá quem está fora fica contando com sua morte para entrar na sua cadeira (risos). Acho que os escritores deveriam entrar só depois dos 90 (risos).