Operações de resgate na TI Yanomami não intimidam atuação do garimpo
Todos os dias são avistadas dezenas de aeronaves que transportam mantimentos e garimpeiros pelo território
A rotina intensa de resgates na Terra Indígena Yanomami não inibiu a atuação dos garimpeiros. Segundo relatos de fontes da Folha de SP e também de técnicos do governo federal que estão na TI, todos os dias são avistadas dezenas de aeronaves que transportam mantimentos e garimpeiros pelo território.
Os servidores do governo federal que atuam na região estimam que todos os dias uma média de 40 voos, mesmo após ter sido declarado estado de emergência, são avistados a partir da região de Surucucu. Esta é a mais afetada. Lá há um Pelotão Especial de Fronteira do Exército atuando, além de profissionais da Força Nacional do SUS que se intercalam entre atendimentos e resgates feitos em voos diários da Força Aérea Brasileira.
Os garimpeiros seguem na cooptação de indígenas, contou a presidente designada da Funai, Joenia Wapichana. Profissionais de saúde disseram a ela que crianças já foram levadas ao Hospital da Criança Santo Antônio, em Boa Vista (RR), por garimpeiros.
Em uma das comunidades já dominadas pelos invasores, técnicos da Funai constataram a ausência de crianças Yanomamis, levantando a suspeita de que garimpeiros as teriam escondido. Invasores armados também se deslocaram até unidades voltadas à saúde indígena para buscar medicamentos que devem ser destinados aos Yanomami.
O Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Yanomami, que realiza o transporte de pacientes da terra indígena a Boa Vista, já recebeu pedidos de socorro de indígenas de dentro de garimpos, com o uso da internet clandestina instalada por garimpeiros. Dessa forma foram possíveis resgates dentro de áreas de garimpo.
Atualmente mais de 20 mil garimpeiros ocupam irregularmente o território, amparados pela vista grossa e até incentivo de Jair Bolsonaro e com apoio militar. O presidente Lula declarou estado de emergência de saúde e além de investigações em curso para apurar o crime de genocídio, prometeu operações para retirada dos garimpeiros.
Segundo o Ministério dos Povos Indígenas, 99 crianças yanomamis morreram em 2022 em decorrência dos impactos do garimpo ilegal. As mortes ocorreram por desnutrição, diarreia, pneumonia e outras doenças, conforme a pasta. As crianças tinham entre um e quatro anos de idade. Por conta do garimpo, os rios estão poluídos, o que impede a pesca. Além disso, com áreas de plantações cada vez menores, os indígenas tiveram seus hábitos alimentares alterados devido a redução das fontes de alimentação.
Segundo o Ministério Público Federal (MPF) que alertou e cobrou o governo Bolsonaro por várias vezes, em menos de dois anos, foram 44 mil casos de malária na TI Yanomami onde vivem 28 mil indígenas. Mais da metade das crianças está desnutrida. Em comunidades mais isoladas, o índice chega a 80%.
Na semana passada o MPF voltou a pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) que seja feita a desintrusão da Terra Indígena (TI) Yanomami, além de outras seis TIs. O MPF ressaltou que à situação de crise sanitária se soma o descumprimento de decisões do STF que determinaram a retirada de invasores dos territórios Karipuna, Uru-Eu-Wau-Wau, Kayapó, Araribóia, Munduruku, Trincheira Bacajá e também Yanomami.