Em 2018 se completa 50 anos da manhã de quinta feira que parou as ruas do Rio de Janeiro e mudou a história do país.

Não há muito o que comemorar. Os estudantes continuam nas ruas, a repressão segue junto a cada um desses e a Avenida Rio Branco novamente virou palco de um velório. Marielle é a prova que as vítimas não mudaram. Aqueles que se opõem as desigualdades, continuam sendo dizimados e não desistem de tentar fazer nossas vozes silenciadas.

No dia 28 de Março de 1968, estudantes de ensino médio e vestibulandos protestavam por alimentação de qualidade e livre acesso no restaurante estudantil calabouço. De acordo com as autoridades, o local era frequentado por críticos ao regime militar e por isso controlavam a entrada.

Logo após seguiriam em ato até a ALERJ, fato que por volta das 18h foi interrompido quando a tropa de choque da Guanabara invadiu o local e executou o estudante Edson Luís de Lima Souto, além de deixar cerca de 6 feridos dentre eles Benedito Frazão Dutra, que também faleceu dias depois devido aos ferimentos.

“Os velhos no poder, os jovens no caixão” frase que podemos ver em fotos da grande marcha que velou o corpo de Edson no saguão da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, ainda ecoa pelas ruas. Quando leio tal história me ponho a pensar se amanhã não serei o próximo Edson Luís. Lembro o início da minha militância, ainda como estudante secundarista, assim como Edson não fui a princípio nenhum grande sabedor ou liderança estudantil, sabia da necessidade a qual se dava aquele momento, eu ia perder minha escola.

Ou até mesmo em situação que se me debruço a narrar, toda semelhança não é coincidência. Ocupamos em maio de 2016 o Centro Paula Souza em São Paulo e os motivos eram por uma alimentação de qualidade nas escolas técnicas de São Paulo e por investigação nos desvios da merenda escolar. E em uma sexta feira pela manhã a tropa de choque ao entrar nos trouxe a mesma sensação, sabíamos que poderia sim ser o fim de nossas vidas, mas havia uma necessidade. Pois, para que outros possam viver, se alimentar, ter uma educação de qualidade, vale a pena se entregar.

Vimos tantos e tantas guerreiras e guerreiros entregues. Marielle Franco foi uma dessas. Mulher preta, acadêmica, bissexual e uma defensora dos direitos humanos. Que não teve medo, ou melhor, que substituiu seus medos por uma vontade de lutar e transformar o espaço que cresceu. Uma jovem que enfrentou a hegemonia branca nos espaços de poder fazendo parte de menos de 1% de mulheres pretas que são vereadoras no nosso país. Brutalmente assassinada ou melhor, como a cantora Mc Carol, traduziu na letra que leva o nome da vereadora “Eu também morri naquele carro”.

Edson e Marielle são pedaços de nós que vão fisicamente mas deixam princípios e não somente luto, mas a luta. Palavra que conduziram suas vidas e seguem conduzindo as nossas.