Olimpíadas em tempos de guerra: uma história atual
Os Jogos Olímpicos já foram afetados pelas guerras da era contemporânea e essa edição também será impactada pela violência presente no mundo.
Por: Yasmin Henrique
Os Jogos Olímpicos, um símbolo de união entre diversas nações e povos, foram cancelados três vezes devido a guerras. A primeira vez foi em 1916, quando a Olimpíada, que deveria ocorrer em Berlim, foi suspensa por causa da Primeira Guerra Mundial, que durou de 1914 a 1918.
No início, pensava-se que a guerra seria breve, o que motivou a decisão de não cancelar as Olimpíadas de imediato. No entanto, com a guerra se prolongando, o evento foi adiado, conforme explicado pelo historiador Luiz Antônio Simas em uma série de reportagens especiais sobre ‘Histórias Olímpicas’ para o Globo Esporte (GE).
Dois anos após o término da Primeira Guerra Mundial, as Olimpíadas foram retomadas em 1920, em Antuérpia, como um símbolo de renovação para a humanidade. Este evento foi notável por várias inovações, incluindo a estreia da bandeira olímpica branca com cinco anéis entrelaçados e a introdução do juramento dos atletas, realizado pelo esgrimista e jogador de polo aquático belga Victor Boin. Além disso, a revoada de pombos foi adotada como um símbolo de paz.
Impactos da segunda guerra mundial e da guerra fria
Na década de 1940, o planeta passou por outro grande conflito, com o início da Segunda Guerra Mundial em 1939. Consequentemente, os Jogos Olímpicos de Helsinque 1940 e Londres 1944 foram cancelados. Segundo Simas, as Olimpíadas de 1940 estavam originalmente programadas para Tóquio, mas a sede foi alterada devido à Segunda Guerra Sino-Japonesa, que teve início em 1937.
Depois da guerra, Londres, que havia sido parcialmente destruída, sediou os Jogos Olímpicos em 1948. Esse evento simbolizou uma importante fase de recuperação para a Grã-Bretanha, como destaca o historiador Thiago Gomide, entrevistado pelo GE na mesma série de Simas.
Embora os grandes conflitos tenham terminado, a Guerra Fria trouxe novos desafios para os Jogos Olímpicos, incluindo o boicote dos EUA aos Jogos de Moscou em 1980 e a resposta da União Soviética ao boicotar os Jogos de Los Angeles em 1984.
Gomide destaca que, mesmo diante das tensões, os Jogos Olímpicos mantiveram sua função de expressão de pertencimento e representação global. Com o fim da Guerra Fria, o cenário olímpico finalmente encontrou a tranquilidade. Desde os Jogos de Seul em 1988, todas as edições foram realizadas sem interrupções causadas por conflitos.
Guerras atuais e seu reflexo nas olimpíadas 2024
Ainda assim, os Jogos de Paris 2024 estão sendo influenciados por conflitos em andamento. O conflito contínuo entre Israel e Palestina, por exemplo, afetou esta edição. Israel, um estado membro da ONU, vinha enfrentando pressão para ser excluído das competições devido aos recentes confrontos na Faixa de Gaza. Em contraste, a Palestina, que não é reconhecida como país pela ONU, é reconhecida como nação pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) e, portanto, participa dos Jogos.
Após os recentes bombardeios em Gaza, ativistas em apoio à Palestina pediram a exclusão de Israel das competições, alegando que o país violou o princípio da Trégua Olímpica. Contudo, o presidente francês Emmanuel Macron considerou essas medidas exageradas. O COI optou por não aplicar sanções a Israel para os Jogos de Paris 2024, apesar das discussões em torno da participação de atletas sob bandeira neutra.
A invasão da Rússia à Ucrânia em 2022 também influenciou a dinâmica da competição, resultando na exclusão da Rússia dos Jogos Olímpicos de 2024. Apesar disso, 11 atletas russos e bielorrussos estão competindo em eventos individuais sob uma bandeira neutra. Esta decisão foi criticada pelo governo ucraniano, que afirma que a presença desses atletas contraria os princípios éticos do Olimpismo.
Além disso, o Afeganistão, sob o regime do Talibã, possui apenas uma delegação simbólica nos Jogos de Paris 2024, composta por seis atletas, a maioria dos quais reside fora do país. Apesar das rigorosas restrições impostas pelo Talibã, a presença dos atletas afegãos é considerada um importante gesto de solidariedade. Mark Adams, porta-voz do COI, afirmou que nenhum representante do governo talibã receberá credenciamento para os Jogos.
A Carta Olímpica do COI define regras para a organização dos Jogos e para o cumprimento da Trégua Olímpica, que exige que nações em conflito observem um período de paz de sete dias antes e depois dos Jogos. Em junho, Dennis Francis, presidente da Assembleia Geral da ONU, solicitou aos Estados-membros que respeitem a tradição estabelecida em 1993 em colaboração com o COI, a fim de assegurar a segurança e a participação de todos os envolvidos.