Por Yasmin Henrique para cobertura colaborativa NEC em Paris 2204

Na final da Copa de Basquete da França, ocorrida em abril, torcedores cegos puderam acompanhar a partida através da audiodescrição. Utilizando dispositivos específicos, ouviram um narrador esportivo detalhar as jogadas e uma voz adicional fornecer descrições visuais. Além disso, os torcedores surdos também puderam desfrutar da experiência completa do basquete com o auxílio de um colete vibratório, que converte sons em vibrações transmitidas às suas costas.

Este projeto experimental, realizado pela empresa Optic 2000 antes dos Jogos Olímpicos, tem como objetivo promover a inclusão. Embora esses dispositivos ainda não sejam amplamente utilizados, eles já são comuns em esportes como futebol, tênis e competições paralímpicas.

As organizações que apoiam pessoas com deficiência esperam que os Jogos Olímpicos de Paris contribuam para a popularização desses recursos.

Inclusão nos jogos de Paris

De acordo com o comitê organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, a audiodescrição estará disponível em dez modalidades paralímpicas e seis esportes olímpicos durante os Jogos de Paris 2024. Dentre esses estão:: Futebol, Atletismo, Judô, Natação, Tênis e Equitação. 

Ludivine Munos, responsável pela integração paralímpica dos Jogos de Paris 2024, informou à Agence France-Presse (AFP) que serão oferecidas 460 horas de audiodescrição, com um foco especial nos esportes prioritários para pessoas com deficiência visual. Além disso, tablets com tela sensível ao toque serão disponibilizados em seis locais destinados a esportes com bola. 

Além da audiodescrição física, a cobertura olímpica incluirá várias outras adaptações, como narradores que fornecerão detalhes sobre a posição dos atletas e as características dos uniformes. Em 2024, espera-se que cerca de 350.000 pessoas com deficiência se desloquem para Paris para assistir aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos.

Transmissão brasileira

Segundo o site oficial dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, a Globo possui os direitos de transmissão para a TV aberta e para a TV por assinatura através dos canais SportV. Na internet, no entanto, estarão disponíveis diversas opções para acompanhar os Jogos e experimentar a atmosfera de Paris.

A emissora carioca abriu mão da exclusividade online, permitindo a entrada de novos players, como a Cazé TV, por exemplo.

Essa colaboração entre a Livemode e o streamer Casimiro Miguel vai transmitir as competições ao vivo no YouTube e no Twitch.

A Play 9 incluiu influenciadores no projeto “Paris É Brasa”, em parceria com o Comitê Olímpico do Brasil (COB), e a cobertura será realizada pelos perfis de Fátima Bernardes, Mítico (Podpah) entre outros. Além disso, o próprio COB tem investido em colaborações com influenciadores para alcançar o público digital. Entre os “embaixadores” que participarão dos Jogos e de eventos oficiais estão Larissa Manoela, Hugo Gloss, Sabrina Sato, Murilo Rosa, Fernanda Tavares e Wesley Safadão.

Acessibilidade

Em relação à inclusão de recursos de acessibilidade nas transmissões, a rede Globo disponibiliza Closed Caption, audiodescrição e LIBRAS. Entretanto, esses recursos são majoritariamente utilizados em conteúdos gravados, o que pode representar desafios para as transmissões ao vivo dos Jogos de Paris. 

Para enfrentar essa situação, a emissora pode contratar um audiodescritor que permitirá descrições ao vivo durante a transmissão, seja através de um feed de áudio separado ou integrado ao áudio principal. Outra alternativa é usar tecnologias de reconhecimento de voz para gerar descrições automáticas em tempo real ou treinar narradores e comentaristas para fornecer descrições verbais dos elementos visuais ao longo da transmissão.

Em relação à Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), está em tramitação um projeto de lei que sugere a obrigatoriedade da presença de intérpretes nas transmissões de eventos esportivos na televisão. O projeto original sugeria a exibição contínua de uma janela com o intérprete durante toda a transmissão. No entanto, o relator propôs restringir essa exigência aos momentos de abertura, intervalo e encerramento das transmissões, quando os comentaristas detalham o jogo e entrevistam os jogadores.

O senador Flávio Arns afirmou em seu relatório que “a interpretação simultânea de jogos ou competições atrapalha mais do que realmente promove a inclusão, tendo em vista que o surdo tem plena capacidade de entender o que está acontecendo, e a interpretação traria informações desnecessárias no desfrute de contemplar a transmissão”. Esta conclusão foi baseada em consultas realizadas pelo seu gabinete com representantes da comunidade surda.

Em relação à CazéTV, as transmissões dos esportes que tiveram início antes mesmo da abertura oficial das Olimpíadas não contaram com recursos de acessibilidade. A única opção disponível é a legenda automática do YouTube, que é de alguma utilidade apenas para surdos que perderam a audição após a alfabetização. 

Enviamos um e-mail à CazéTV solicitando informações sobre a acessibilidade do canal, mas ainda não recebemos uma resposta. 

Sendo assim, é possível observar que existem ferramentas e estratégias disponíveis para tornar as transmissões de eventos esportivos mais inclusivas para pessoas com deficiência, tanto para aqueles que assistem ao vivo quanto para aqueles que acompanham pela televisão.