Por João Paulo S. L. Viana

A política rondoniense apresenta um dos casos mais instigantes entre os estados brasileiros nos dias atuais. Ex-território federal elevado a estado no início da década de 1980, nos momentos finais da ditadura militar e sob forte influência autoritária, Rondônia elegeu seu primeiro governador pelo voto popular apenas em 1986. Até então, com o apoio de uma elite civil, os militares governaram a região durante boa parte do período territorial e início do novo estado. De lá pra cá, os rondonienses assistiram sua elite política se deslocar da capital, Porto Velho, para o eixo da BR-364, região pujante produtora de commodities e colonizada, majoritariamente, por migrantes sulistas. O estado, que detém menos de 1% do eleitorado nacional, registra, proporcionalmente, um dos maiores eleitorados evangélicos do país.

Nas eleições de 2018, Rondônia concedeu a Jair Bolsonaro (PL), à época filiado ao PSL, uma das maiores votações entre as unidades federadas brasileiras, além de eleger para o governo, pelo mesmo partido, Marcos Rocha, um coronel da Polícia Militar, então outsider da política. Em recente levantamento realizado pelo Laboratório de Estudos Geopolíticos da Amazônia Legal (LEGAL) verificou-se que o estado foi a única unidade federada em que Bolsonaro venceu em todos os municípios, no 1º e 2º turno da disputa. Após quatro anos com forte apoio no parlamento estadual e total alinhamento com o governo federal, pode-se afirmar que Rondônia constitui-se como um exemplo notório do poderio político da extrema direita na atualidade.

Nesse ano, o quadro é ainda mais surpreendente. Conforme pesquisa IPEC para o governo do estado, divulgada no dia 25 de agosto, os três primeiros colocados são apoiadores diretos do atual presidente. Não obstante, no dia 1° de setembro, foi anunciada a desistência do ex-governador Ivo Cassol (PP), candidato empatado tecnicamente na primeira posição com o atual governador, Marcos Rocha (União Brasil). Motivada por problemas na Justiça, a desistência de Cassol, em princípio, tende a beneficiar o senador Marcos Rogério (PL), que aparecia em terceiro lugar na pesquisa. Recentemente, Marcos Rogério entrou na Justiça com um pedido para proibir o uso da imagem de Bolsonaro na candidatura de Marcos Rocha (União Brasil).

Embora sejam iminentes as chances de um segundo turno bolsonarista em Rondônia, entre União Brasil e PL, candidatos moderados à direita e à esquerda ainda podem surpreender na corrida eleitoral. É o caso do deputado federal Léo Moraes (Podemos) que busca posicionar-se como uma alternativa na centro-direita. Com reduto político na capital, Porto Velho, o candidato do Podemos pode crescer também com a saída de Cassol da disputa. Outro nome experiente, que se apresenta como candidato da frente de partidos de centro-esquerda, é o ex-governador Daniel Pereira (Solidariedade). Político habilidoso, com bom relacionamento entre sindicalistas e o alto empresariado do estado, Pereira, que conta com o apoio de PT, PSB e PDT, aposta no crescimento da candidatura de Lula para fazer frente ao bolsonarismo no estado e chegar ao segundo turno. Ainda que seja uma tarefa difícil para ambos, a disputa apenas começou. Há muita campanha pela frente.

Para o Senado, o cenário ultraconservador também se repete nas pesquisas. Os quatro primeiros colocados segundo a sondagem do IPEC estão alinhados diretamente ao bolsonarismo. Em uma eleição muito competitiva, a deputada federal Mariana Carvalho, ex-PSDB e atual Republicanos, desponta como favorita, seguida do ex-senador Expedito Júnior (PSD), e pela deputada federal Jaqueline Cassol (PP), irmã de Ivo. Na quarta posição aparece o milionário da soja, Jaime Bagatoli (PL). Outsider da política, Bagatoli tenta uma cadeira ao senado desde 2018, quando ficou em terceiro lugar com duas vagas em disputa. Na quinta posição aparece o atual senador Acir Gurgacz (PDT). Em um cenário dominado por políticos com base eleitoral na BR-364, caso de Mariana Carvalho, que possui reduto eleitoral na capital Porto Velho, se ela conseguir avançar um pouco pelo interior do estado, certamente conquistará a vaga.

Nesse contexto de radicalização à direita, o cenário ultraconservador deve se repetir também nas disputas proporcionais à Câmara dos Deputados e à Assembleia Legislativa. Todavia, há espaço para políticos progressistas nesses níveis de disputa, porém as perspectivas apontam para a continuidade no poder de maioria de políticos de direita, com forte ligação com o agronegócio e setores evangélicos. Diante desse quadro, são grandes as chances de Bolsonaro repetir a vitória em todos os municípios do estado. Retornaremos a esse tema em uma próxima oportunidade.

João Paulo S. L. Viana é doutor em Ciência Política pela UNICAMP e professor adjunto da Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

Esse artigo foi elaborado no âmbito do projeto Observatório das Eleições 2022, uma iniciativa do Instituto da Democracia e Democratização da Comunicação. Sediado na UFMG, conta com a participação de grupos de pesquisa de várias universidades brasileiras. Para mais informações, ver: www.observatoriodaseleicoes.com.br.

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